Na última quarta-feira, após ter sido exonerado do cargo de adjunto do ministro das Infraestruturas, Frederico Pinheiro levou um computador do ministério para casa. Ao ter dado conta do desaparecimento, o Executivo terá comunicado o caso às autoridades, dando origem à abertura de um inquérito-crime. Antes disso, as autoridades policiais já tinham sido chamadas ao Ministério de onde chegavam queixas de agressões físicas.

Quando soube da exoneração, Frederico Pinheiro reagiu com violência, segundo confirmou o Observador, agredindo membros do gabinete do ministro das Infraestruturas. A PSP foi chamada ao local logo nessa altura. O ministro João Galamba não estava no Ministério no momento, estava a regressar de uma viagem de Estado a Singapura.

Quanto à devolução do computador, a investigação está a cargo da Polícia Judiciária, tendo o equipamento sido já recuperado, sem necessidade de buscas domiciliárias. Ao Observador uma fonte conhecedora da investigação explicou que o computador foi devolvido e que a investigação continua, em segredo de justiça.

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Os investigadores tentarão agora perceber se alguma informação foi retirada do computador, assim como as motivações de Frederico Pinheiro, desconhecendo-se se a investigação se centra apenas neste episódio ou se tem um âmbito mais vasto.

Questionada esta tarde pelo Observador sobre se confirma a abertura do inquérito, a Procuradoria-Geral da República ainda não enviou qualquer resposta. Também contactado, o Ministério das Infraestruturas, tutelado por João Galamba, não fez comentários.

As agressões e o fecho de portas. O momento em que o computador foi levado

Era já final do dia quando Frederico Pinheiro chegou ao ministério, cerca das 20h30. Segundo apurou o Observador junto de fonte do ministério das Infraestrturas, o ministro não estava no edifício, mas já teria informado o adjunto da sua exoneração e até de que este estaria proibido de entrar nas instalações.

Momentos após ter entrado, já no 4.º andar, onde fica o seu gabinete, Frederico Pinheiro terá guardado o computador do ministério que usava numa mochila com a intenção de o levar consigo, o que foi detetado por quem ainda estava a trabalhar àquela hora. E foi após um aviso da chefe de gabinete, de que o que estava a fazer era crime, que começaram os comportamentos mais violentos, explicou a mesma fonte.

A uma das assessoras e à chefe de gabinete, Eugénia Correia, Frederico Pinheiro terá agredido com socos, a uma terceira torceu o braço, contou fonte do ministério. É após esse momento de tensão, que o ex-adjunto de Galamba terá saído em direção à porta do edifício, que entretanto já tinha sido trancada pelo segurança presente na portaria, por determinação da chefe de gabinete.

Quem estava no 4.º andar, além de contactar a PSP informando do alegado furto e das agressões, trancou-se na casa de banho, conta a mesma fonte, adiantando que enquanto isso Frederico Pinheiro tentava partir o vidro da entrada, atirando a sua bicicleta.

As assessoras — Paula Lagarto e Rita Penela –, a chefe de gabinete e a adjunta Cátia Rosas terão ficado trancadas numa casa de banho por cerca de 20 minutos.

Quando saíram para falar com a segurança e saber se as coisas já estavam controladas não viram Frederico Pinheiro. Nesse intervalo, a PSP estivera no ministério, identificou o antigo adjunto de Galamba, e deixou sair (com a mochila onde estava o computador). Segundo fonte do ministério, os agentes não procuraram as vítimas, apesar do relato feito por estas ao 112 minutos antes.

Nessa noite, sabe o Observador, só uma das assessoras acabou por ser assistida no hospital — outra foi à mesma unidade hospitalar acompanhar a colega, mas acabou por não receber assistência hospitalar. A chefe de gabinete achou não se justificar ser vista por um médico e a adjunta Cátia Rosas foi a única que, estando no 4.º andar, não foi agredida.

No total, foram feitas duas queixas por agressão contra Frederico Pinheiro. O Expresso refere que também o antigo adjunto chamou a PSP durante esses momentos de tensão, por estar retido dentro das instalações do ministério.

Como aconteceu a exoneração

A exoneração de Frederico Pinheiro teve lugar a 26 de abril, o mesmo dia em que o Governo enviou à comissão de inquérito uma série de documentos pedidos pelos deputados. A SIC revelaria, esta quinta-feira ao final da tarde, documentação segundo a qual a reunião entre o deputado do PS Carlos Pereira com a ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, serviu para preparar a audição que no dia seguinte a gestora iria ter na comissão de Economia, a propósito do despedimento de Alexandra Reis e da sua indemnização.

No centro dessa reunião, de acordo com a SIC, estaria Frederico Pinheiro, que primeiro perguntou ao ministro das Infraestruturas se a TAP podia participar na reunião. A SIC cita uma mensagem de Whatsapp de Frederico Pinheiro para Galamba dois dias antes da audição: “A TAP quer participar na reunião de amanhã com grupo parlamentar do PS, pode ser?” Ao que Galamba respondeu: “pode”.

O ministro não esteve no encontro, mas Frederico Pinheiro sim, além da técnica especialista Cátia Rosas.  De acordo com a SIC, foi Frederico Pinheiro quem coordenou a reunião secreta. E nas notas deste adjunto estarão escritas as perguntas que a SIC diz que são as que o deputado Carlos Pereira devia fazer na audição.

Deputado Carlos Pereira fez perguntas à ex-CEO da TAP que constam nas notas de adjunto de Galamba reveladas pela SIC