“A minha música não é para os olhos, é para os ouvidos”, disparou em entrevista à Rolling Stone em 2011. “A minha vida está repleta de drama e não tenho tempo para me preocupar com algo tão mesquinho como a minha aparência.” Foi assim que Adele encerrou uma adenda que acompanhou como uma sombra os primórdios da sua carreira musical, o tema do peso: sem rodeios nem papas na língua. Se é seguro dizer que o percurso estrondoso contou com mais sucessos do que os dedos que tem nas mãos, também se fez acompanhar por uma personalidade gigante, capaz de deixar muita gente poderosa a tremer dos joelhos. A artista britânica faz 35 anos esta sexta-feira, 5 de maio.

Foi essa personalidade desenfreada que levou a sua equipa de relações públicas a barrar-lhe o acesso ao Instagram, com medo que publicasse coisas que poderiam gerar eventuais consequências, se desse por si “bêbada ou aborrecida”. “Nunca me deram as passwords das minhas redes sociais. É um facto conhecido”, contou durante a pandemia, recordado a polémica fotografia — “a única que fui eu a postar” — em que aparecia de biquíni estampado com a bandeira da Jamaica, o cabelo todo preso em tranças jamaicanas, gerando uma onda de críticas e acusações de apropriação cultural.

Adele e a bandeira da discórdia

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Essa imagem foi publicada poucos meses depois de ter posto fim a um hiato de quase 5 meses no Instagram, do qual reemergiu como fénix numa outra fotografia viral, essa recebida em louvores, com mais de 12 milhões de gostos, onde se mostrava a pesar menos 20 quilos do que os que carregava na última vez que tinha sido vista. Foi tirada cerca de um ano depois de se separar do marido, Simon Konecki, com quem teve o seu único filho, Angelo.

Adele usa o apelido da mãe

Adele Laurie Blue Adkins nasceu em 1988 na zona londrina de Tottenham. O pai era alcoólico e deixou-as quando a cantora estava entre os 2 e os 3 anos. Foi criada pela mãe, Penny Adkins — é seu o apelido que usa —, entre várias zonas humildes nos bairros da capital inglesa. Descobriu em criança que gostava de cantar música pop, aprendeu a tocar guitarra e clarinete. Foi só durante a adolescência, pelos 14 anos, que começou a estudar na escola pública artística Brit School for Performing Arts & Technology. Foi mais ou menos nessa altura que descobriu Etta James e que começou a encontrar o caminho que queria seguir na música.

Enquanto ainda estava a estudar, o seu amigo Jack Peñate, também músico, partilhou pela primeira vez algumas das canções compostas por Adele no MySpace, em 2006. Essas canções despertaram o interesse das companhias discográficas e, alguns meses antes de terminar os estudos, assinou o seu primeiro contrato com a XL Recordings.

Chamou ao primeiro álbum, lançado em 2008, 19 numa referência à idade que tinha quando compôs a maioria dos seus temas. Estreou-se em número 1 no Reino Unido, depois de atrair alguma antecipação com uma série de atuações ao vivo pelo país. Foi nesse álbum que lançou “Hometown Glory” e “Chasing Pavements” — com o qual venceu o seu primeiro Grammy. Acabaria por arrecadar 16 ao longo da carreira, para não falar dos prémios de Melhor Tema Original nos Óscares e Globos de Ouro de 2012, com “Skyfall”.

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Quando ganhou o Óscar de melhor tema original por “Skyfall”

Poderão os desgostos de amor definir uma carreira?

Em 2011, após o fim de uam relação, Adele sentou-se com o cantor e compositor Dan Wilson para escrever uma catarse amorosa em forma de canção. “Éramos tão intensos que eu pensava que íamos casar, mas ele nunca quis isso”, recordou sobre o fim da relação. “Quando descobri que ele afinal o queria mas com outra pessoa, foi a sensação mais horrível de sempre.” Passados dois dias a escrever, compor e gravar, nascia o tema “Someone Like You”, que acabaria por se tornar no grande êxito do seu segundo álbum, 21, e o 5.º single mais vendido no século XXI.

“When We Were Young”, “Hello” e “Send My Love (To Your New Lover)” seriam os êxitos do seu terceiro álbum, 25 e o amor perdido volta a estar escarrapachado nas letras, que aqui oferecem uma reflexão amorosa já provida de algum distanciamento e nostalgia.

Mas separação de Simon Konecki em 2018 foi a grande inspiração para o quarto álbum, 30, onde o desgosto amoroso volta em toda a força, carregando agora a perspetiva de uma mulher que já é mãe e que não perdeu só o companheiro, mas o conceito de família com que sonhava em miúda. “Tenho sido obcecada com a ideia de uma família nuclear a minha vida toda, porque não vim de uma“, revelou na sua grande entrevista a Oprah. “Desde muito nova que prometi a mim mesma que, quando tivesse filhos, ficaríamos juntos. E tentei durante muito, muito tempo.”

“Deixou-me muito triste”, disse ainda à Rolling Stone. “Depois, ter tantas pessoas que não conhecia a saberem que eu não tinha conseguido que resultasse…. isso deixou-me devastada. Estava envergonhada. Ninguém me fez sentir assim, mas sentes que não fizeste um bom trabalho.” Com “Easy on Me”, o primeiro single, reflete sobre o fim da relação. Mas todo o álbum é uma espécie de diário, com que espera que o filho consiga perceber um dia quem era a mãe e as mudanças por que passou nesta fase da vida.

Num último episódio emotivo de “Carpool Karaoke”, voltou a ficar emocionada quando falou com James Corden sobre o apoio que este lhe deu e ao filho depois de assinar os papéis. “Tu, a Jules e os miúdos foram integrais em tomar de conta de mim e do Angelo.”

Desde julho de 2021, mantém uma relação com o agente desportivo Rich Paul — LeBron James é um dos seus clientes — , com quem tem sido vista na primeira fila de variados jogos de basquetebol da NBA pela América fora. À revista People, confessou: “Ele é ótimo. É tão engraçado.” “Nunca estive tão apaixonada, estou obcecada por ele”, disse à Elle em agosto do ano passado. E, no jeito desempoeirado que lhe é característico, rematou: “Sorte a dele, porque adoro basquetebol”.