Se não fosse aquele tempo canhão de Remco Evenepoel, que foi para o contrarrelógio de início do Giro com chegada a Ortona apostado em vestir uma camisola rosa que não pretende deixar mais, a primeira etapa da Volta a Itália teria várias parecenças com aquilo que aconteceu em 2020: o italiano Filippo Ganna na frente, João Almeida a surpreender a concorrência. Diferença? Aí, o português era visto ainda como um corredor desconhecido da Deceuninck Quickt-Step, hoje apresenta-se como líder da Team UAE Emirates. E o início da edição em que pretende chegar pela primeira vez ao pódio de uma grande volta a mostrou que está entre os principais favoritos ao terceiro lugar… caso Remco e Primoz Roglic confirmem as suas expetativas.

João Almeida foi o melhor dos humanos: português começa o Giro em terceiro

Apontados como os dois elementos que iriam discutir a vitória entre si, o belga e o esloveno começaram o Giro com uma diferença de 43 segundos entre si: Remco, com um dia de sonho, fechou os 19,6 quilómetros com o tempo 21.18, ao passo que Roglic foi apenas o sexto mais rápido com 22.01. Num ano onde todos os pormenores vão contar, essa distância irá obrigar a Jumbo a outro tipo de ação com mais períodos e etapas de ataque do que inicialmente poderia ter previsto e é aí que João Almeida, que ganhou 21 segundos entre a “vitória” contra os nomes apontados ao pódio como Tao Geoghegan Hart ou Geraint Thomas.

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Há uma nova estrela no desporto nacional: João Almeida em segundo na primeira etapa do Giro (apenas superado pelo campeão mundial)

“Conheço as minhas capacidades, mas fiquei um pouco surpreso com o tempo que fiz. Confirma o bom trabalho que a equipa tem vindo a fazer, estamos muito satisfeitos. Este terceiro lugar superou um pouco as minhas expetativas. Já estava à espera que o Remco ganhasse mas foi por uma margem muito grande. Foi ainda melhor do que eu esperava. Parabéns a ele. Ele merece”, comentou João Almeida após o terceiro lugar. “Foi uma performance fantástica para nós. Estamos felizes, não só pelo grande tempo do João Almeida, mas também pelo do Jay Vine. O João esteve muito forte, foi bom ficar entre os da frente, mas o Remco foi impressionante. Ganhou muito tempo mas olhando aos outros estamos em boa posição. É o início da corrida e foi muito bom”, salientou Mauro Gianetti, diretor desportivo da Team UAE Emirates.

A segunda etapa, entre Teramo e San Salvo numa distância a rondar os 200 quilómetros, seria sobretudo para rolar à luz do que se tinha passado na véspera e a pensar no que se pode seguir, tendo em conta todas as características de uma tirada boa para ter fugas iniciais e uma provável chegada ao sprint antes de mais duas etapas com alguma montanha onde irá começar a tentativa de minimizar “danos” do contrarrelógio. Como dizia Roglic após a chegada a Ortona, “ainda faltam mais 20 etapas para recuperar, não é?”. E esse passaria a ser um dos motivos de interesse desta edição do Giro: perceber como conseguirá o esloveno tirar tempo a Remco Evenepoel, sabendo que o belga construiu uma equipa apenas para apostar na sua vitória.

Grande parte da etapa foi construída à volta da fuga de cinco corredores, que foram disputando entre si os pontos que iam surgindo pelo caminho. Paul Lapeira, da AG2R Citröen, ganhou na primeira passagem com pontos para a camisola da montanha a Thomas Champion (Cofidis) e Mattia Bais (Eolo-Kometa), mais tarde foi Stefano Gandin, da Corratec Selle, a passar à frente de Bais e Lapeira no sprint intermédio. A distância em relação ao pelotão nunca atingiu vantagens muito grandes, sendo que, a 50 quilómetros do final, o grupo foi ficando reduzido apenas a três elementos antes da chegada de todo o pelotão ainda a mais de 30 quilómetros da meta. Tudo corria dentro da normalidade e as equipas com os principais sprinters assumiam as despesas entre uma pequena com vários elementos da Movistar que não teve gravidade.

Jonathan Milan acabou por ser o vencedor da primeira etapa em linha mas a principal notícia acabou por ser uma queda a cerca de quatro quilómetros do fim que provocou o corte no grupo com impacto direto depois na classificação geral. Em relação à segunda etapa, o italiano da Bahrain bateu David Dekker, Kaden Groves, Arne Marit, Marius Mayhofer, Pascal Ackermann, Fernando Gaviria, Niccolo Bonifazio, Jake Stewart e Michael Matthews. Na classificação geral, Remco Evenepoel manteve a camisola rosa com 22 segundos de Filippo Ganna e 29 de João Almeida, sendo que o top 10 mudou com alguns corredores que estavam na frente a ficarem presos no corte. Assim, Stefan Kung é quarto a 43 segundos, Roglic manteve os 43 segundos de atraso, Geraint Thomas e Aleksandr Vlasov estão a 55 segundos mas Tao Geoghegan Hart (59”), Brandon McNulty (1.00) e Jay Vine (1.05) acabaram por sair prejudicados com essa queda.