Primeiro o Tour, a seguir os Campeonatos do Mundo em estrada, agora o Giro e ainda antes do seu final a Vuelta. O futebol está longe de ser a única modalidade com uma enorme densidade competitiva em virtude da pandemia e o ciclismo surge como exemplo paradigmático disso mesmo com quatro das competições mais importantes do ano concentradas em menos de dois meses e meio. Este sábado arrancava a corrida italiana, na Sicília, e com um leque de favoritos bem diferente do que surgia em França, a começar logo por um dos principais ausências no Tour por opção da própria equipa, a Ineos, Geraint Thomas. Aliás, é assim que arrancam algumas histórias de sucesso – e o triunfo de Egan Bernal na corrida gaulesa no último ano é um caso, até porque se não fosse um problema físico antes do Giro e tinha estado em Itália e chegaria à prova seguinte com escassas oportunidades de brilhar.

Era nesse contexto que surgiam as principais análises na antevisão, que colocavam não só Geraint Thomas no lote de favoritos mas também Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma), que falhou o Tour por uma lesão no ombro; Jakob Fuglsang (Astana), que não foi também ao Tour para apostar em paralelo nos Mundiais onde terminou na quinta posição; Vincenzo Nibali (Trek Segafredo), que preparou a época para apostar no Giro; e Simon Yates (Mitchelton-Scott), que tem na corrida italiana uma “malapata” para quebrar depois de já ter ganho a Vuelta. Candidatos não faltavam, pelo que, à semelhança do que aconteceu em França com uma épica vitória de Progacar quando poucos esperavam, estavam reunidas todas as condições para uma prova diferente mas tão ou mais competitiva.

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Em paralelo, a Volta a Itália em bicicleta iria também promover a estreia de Rúben Guerreiro pela Education First, um dos dois portugueses a par de João Almeida (Deceuninck-Quick Step) a participar na competição. “Sinto-me bem por fazer uma grande Volta num ano tão difícil, especialmente o Giro, onde grande parte do país sofreu com a pandemia da Covid-19. Temos uma equipa forte e um grupo muito bom”, referiu em comunicado da equipa. Tudo a postos para um arranque diferente, com 15 quilómetros entre Monreale e Palermo com várias particularidades, por ter algumas partes a descer mas começando numa subida de quarta categoria. E, já agora, por conhecer um português que liderou o contrarrelógio por largos minutos num dia de excelência.

João Almeida, jovem ciclista de 22 anos nascido nas Caldas da Rainha que até chegou relativamente tarde ao ciclismo, primeiro no BTT e depois na estrada (tendo praticado antes natação e jogado futebol), confirmou as boas indicações deixadas este ano e terminou no segundo lugar a primeira etapa. O corredor da Deceuninck-Quick Step, que foi segundo no prémio da juventude da Volta ao Algarve, que terminou a Volta a Burgos no terceiro lugar da geral individual e dos pontos (tendo acabado em segundo na primeira etapa entre a Catedral de Burgos e o Mirador de Castillo) e que ganhou depois o prémio da juventude no Tour de L’Ain (onde foi sétimo na geral), chegou a liderar o contrarrelógio com melhor marca até do que Geraint Thomas (15.46, menos um segundo do que o inglês), sendo depois ultrapassado pelo inevitável Filippo Ganna (Ineos, 15.22), campeão mundial de contrarrelógio. De recordar que, até hoje, Acácio Silva foi o único português a vestir a camisola rosa, em 1989.

Foi um dia muito bom, senti-me muito bem e estou satisfeito. Sabia que tinha feito um bom tempo mas não tinha ideia. Dá-me mais confiança e para a equipa tira um pouco de pressão. Nunca fiz uma Volta de três semanas, não tenho expetativas muito altas mas vou dar o melhor pela equipa e pelo meu País. Durante a pandemia consegui ir treinando na rua. Mensagem? O trabalho compensa sempre e quero agradecer também à minha família e amigos”, comentou o português à RTP.

A primeira etapa ficou também marcada pela queda aparatosa de Miguel Ángel López, da Astana, que chegou a ser apontado em alguns meios como uma potencial surpresa neste Giro mas que teve uma entrada completamente desastrada na corrida italiana. Levado de ambulância para o hospital com vários ferimentos, soube-se pouco depois que o colombiano não irá seguir na Volta a Itália em bicicleta devido às mazelas sofridas. Entre os principais candidatos, Geraint Thomas foi o melhor com 15.47, ganhando 26 segundos a Simon Yates, 57 segundos a Aleksandr Vlasov, 1.06 minutos a Vincenzo Nibali, 1.21 minutos a Steven Kruijswijk e 1.24 a Jakob Fuglsang.