O mundo podia acabar amanhã que o Sevilha ia ser feliz a jogar na Liga Europa. Lá desta competição percebem os espanhóis. Foi por isso estranho que na primeira mão das meias-finais da Liga Europa, contra a Juventus, os andaluzes tenham perdido o controlo sob os terrenos que são seus muito de perto de eles darem frutos.

“É preciso estar muito louco para, jogando no Sevilha, não sonhar com a final da Liga Europa”. A declaração de Bryan Gil, em entrevista à Marca, estaria igualmente completa se fosse apenas: “É preciso estar muito louco para, jogando no Sevilha, não sonhar”. Para chegar à meia-final da Liga Europa, o Sevilha, numa situação semelhante à que viria a experienciar neste jogo, alugou um condomínio no céu ao eliminar de maneira surpreendente o Manchester United. Ainda assim, o céu não se vende e a estadia foi temporária. Foi ir e voltar. A Juventus tinha mais bilhetes para vender com destino ao paraíso. Restava saber a que preso.

Mendilibar esperou 62 anos para estar na Europa e estreou-se a eliminar o Manchester United

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Custos a Juventus tem tido muitos. De resto, eram duas equipas a viverem acima das possibilidades. A Juventus porque só a 22 de maio fica a saber se vai ou não ter uma dedução de 15 pontos na Serie A que, caso se confirme, podem atirar a equipa para fora das competições europeias na próxima temporada. O Sevilha porque teve uma época que só ganhou rumo na ponta final e tem a vida muito dificultada para aceder ao lugares de acesso europeu. O contexto tinha o peso de uma nuvem quando era uma vaga de acesso à final da Liga Europa que estava em jogo.

Apesar dos 62 anos, José Luis Mendilibar, treinador do Sevilha, não tinha problemas em admitir a sua inexperiência nas competições europeias: “Sou um novato nisto. Tenho que agradecer, porque quem está comigo não são novatos. Estou tranquilo, porque os meus jogadores são especialistas”. Os andaluzes têm o nome escrito na taça da Liga Europa que ganharam em seis ocasiões, enquanto que o técnico que os orienta está na primeira participação numa grande competição europeia. A equipa do Sevilha não ficou ao abandono. Mendilibar soube bem que indicações dar aos seus jogadores. Ajudou o conhecimento que os espanhóis tinham do Juventus Stadium, onde, em 2014, ganharam esta mesma competição frente ao Benfica. No entanto, era mais do que isso.

Era Ocampos, era En-Nesyri, era Rakitic, era Bryan Gil e as soberbas demonstrações de engenho atacante, sem que, atrás, a corrente saltasse. Muito do que o Sevilha fazia era resultado da insuficiência defensiva da Juventus. Os italianos davam muito espaço ao portador da bola, permitindo um jogo ofensivo desenvolto aos sevilhistas. Ocampos estava a chegar à frente como que enviado por uma fisga que não acerta no alvo. O argentino chegava com um fulgor que não tinha repercussão quando rematava à baliza, onde a influência de Szczesny assustava o destino dos remates. Ocampos percebeu então que era melhor assistir para alguém com mais frieza. En-Nesyri (26′) apareceu e o marroquino, com a cabeça gelada e o pé a ferver, expressou o desagrado que o Sevilha vinha a demonstrar para com o empate, dando vantagem aos espanhóis.

Ocampos deixou o terreno de jogo lesionado numa fase em que, em vantagem e com domínio, o Sevilha fazia esquecer que, nos 20 minutos inicias, Vlahovic tinha falhado de baliza aberta. En-Nesyri continuava a ter mais facilidade em aparecer na frente no guarda-redes do que sorte em concretizar as oportunidades que daí advinham. O treinador da Juventus, Massimiliano Allegri, percebia que a Vecchia Signora precisava de protagonistas que lhe afagassem o ânimo. o técnico italiano lançou ao intervalo Chiesa e Iling-Junior.

A Juventus teve o mérito de entupir a fluxo atacante do Sevilha, sendo que, a dado momento, ambas as equipas tiveram demasiado presente o jogo no Estádio Ramón Sánchez-Pizjuán que podia conter mais linhas desta história em que o enredo influencia o desfecho da eliminatória. A intensidade da segunda parte ficou então guardada para ser utilizada em Espanha. Mesmo assim, sorrateiramente, a Juventus montou um cerco à baliza de Bono e, no último minuto de descontos, Federico Gatti (90+6′) cabeceou para o empate que a segunda mão vai ter que desfazer.