Mais do que um dia de descanso “físico”, que tendo em conta os compromissos assumidos pela equipa e os habituais treinos e massagens acabou por não ser, João Almeida teve esta segunda-feira uma pausa “mental” após nove dias de Giro onde viveu um pouco de tudo até a um regresso ao ponto de partida que o colocou no top 5 da classificação separado por apenas 22 segundos da camisola rosa. Teve um fantástico contrarrelógio a abrir que lhe valeu a terceira posição, ficou aquém do esperado apesar do bom resultado no segundo pelas condições que o dia e o piso ofereciam e pelos riscos que não quis tomar. Ganhou tempo a Tao Geoghegan Hart na segunda etapa por fugir a um corte no pelotão, não evitou uma ida ao chão na terceira tirada que o deixou “amassado”. Fechou um susto numa descida onde ficou cortado, não conseguiu fechar distâncias após o ataque de Roglic na chegada de Fossombrone. No meio da confusão, não ganhou nem perdeu nada.

Quem ganhou ficou furioso, quem perdeu ainda sorri: João Almeida desce a quinto, Remco volta à liderança do Giro

“Quero terminar no pódio e, neste momento, não estou no pódio. Mas, por agora, estou feliz. Os primeiros nove dias foram muito bons. No papel, não pareciam tão difíceis, mas fisicamente foram duros. Por isso, no geral, foi uma primeira semana boa. Estou onde era expectável que estivesse até porque os dias mais difíceis estão para vir. As decisões vão ser feitas na última semana, até lá nada está ganho ou perdido”, comentou o português numa conferência virtual organizada no dia de pausa pela UAE Team Emirates.

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“Agora sem o Remco é claro que a corrida fica mais pobre, seria mais disputada. É menos um adversário mais forte mas no final do dia os outros estarão lá e são muitos como o  Teo [Geoghegan Hart], o Vlasov, Thomas e Roglic. Sem o Remco as outras equipas provavelmente terão uma tática diferente a partir de agora. A Ineos vai ter uma camisola para defender, tem dois ciclistas na frente, e a Jumbo vai ter de atacar, embora não tenha a melhor equipa devido a uma série de contratempos. Nós também tentaremos, depende da etapa, da situação…”, acrescentou ainda sobre as próximas duas semanas que já não vão contar com o antigo líder belga que contraiu Covid-19 e decidiu desistir do Giro depois de um contrarrelógio onde ganhou mas a margem desse triunfo não fazia antever dias fáceis perante uma condição que estaria mais deficitária.

“Não estou no pódio mas, por agora, estou feliz. As decisões são na última semana, até lá nada está ganho ou perdido”, destaca João Almeida

Era neste contexto que começava a segunda semana da Volta a Itália, numa fase também marcada na UAE Team Emirates pelo final de carreira de Jan Polanc, corredor esloveno de 31 anos que não fazia nenhuma prova desde o Gran Piamonte e que abandonou o ciclismo por questões de saúde. E nem mesmo uma décima etapa que se esperava que fosse boa para rolar mas que desde cedo se tornou complicada, com os corredores a reunirem com a organização perante a previsão de mau tempo nas zonas mais montanhosas e a colocarem a possibilidade de reduzir a tirada em cima da mesa, numa ideia que acabou depois por não vingar.

Com Geraint Thomas a estrear a camisola rosa depois da desistência de Remco Evenepoel horas depois da nona etapa, a tirada entre Scandiano e Viareggio começou a “fintar” essas mesmas dificuldades do tempo com Derek Gee e Alessandro De Marchi a conseguirem fazer a fuga com pouco mais de 30 segundos de vantagem antes de Magnus Cort e mais tarde Davide Bais saírem na sua perseguição quando o avanço da dupla já era superior a um minuto, subindo a quase quatro com o passar dos quilómetros. No primeiro sprint intermédio do dia em Villa Minozzo, Davide Bais conseguiu ainda ser o primeiro à frente de De Marchi, Cort e Gee, sendo que mais atrás Jonathan Milan bateu a concorrência de Michael Matthews e Mads Pedersen.

Informações sobre uma etapa reduzida esta terça-feira nada, informações sobre o que vem daí para a frente sim e, durante a décima tirada, a organização anunciou que a passagem por Gran San Bernardo na próxima sexta-feira iria sair do traçado, com o pelotão a passar pelo túnel e não pela contagem de primeira categoria devido à previsão de queda de neve e risco de avalanche. E como este seria tudo menos um dia sem qualquer notícia além do mau tempo, a Bora anunciou que Aleksandr Vlasov abandonou o Giro, ficando assim apenas com Lennard Kämna para fazer algo nesta Volta a Itália. Seguia-se uma contagem de segunda categoria em Passo delle Radici, com Davide Bais de novo a passar pela frente e a “encostar” deixando os fugitivos.

Foi também nessa altura que se formou um novo grupo na perseguição constituído por Damiano Caruso, Jonathan Milan, Andrea Pasqualon e Pavel Sivakov, foi nessa altura que a UAE Team Emirate teve a pior notícia do dia com Jay Vine a cair com Will Barta após escorregar no piso encharcado perante uma chuva que não dava tréguas. E como um mal nunca vem só, também Jonathan Milan e Pavel Sivakov foram ao chão antes de nova queda de Lukas Pöstlberger, Warren Barguil e Alberto Bettiol que ficaram a queixar-se da presença de uma pessoa da organização no meio da trajetória. Tudo parecia estar a acontecer num pelotão que já perdera por Covid-19 Filippo Ganna, Rigoberto Urán, Remco Evenepoel, Domenico Pozzovivo, Sven Erik Bystrom e Callum Scotson e por lesões ou outros problemas Stefan Küng, Rein Täaramae, Oscar Riesebeek, Mads Wurtz Schmidt, Simone Petilli e agora Aleksandr Vlasov (e a contar).

O ritmo foi ainda assim rápido para as condições da estrada, com os último 20 quilómetros a chegarem com os três da frente a terem pouco mais de um minuto de avanço do pelotão e quase sete em relação ao grupo mais atrasado onde estava Jay Vine, que mesmo tendo mais três elementos da UAE Team Emirates a tentar fazer o corte acabou por perder todas as aspirações no Giro a não ser transformar-se numa espécie de gregário de luxo de João Almeida caso a queda não tenha deixado marcas maiores ao australiano, sendo que em termos táticos o português passa a plano A mas as eventuais mexidas de Vine em etapas a subir perdem grande parte do efeito tendo em conta a diferença que passa a ter em relação ao top 10.

Apesar da vontade de encurtar mais distâncias do pelotão para o grupo de fugitivos, havia ao mesmo tempo o receio de haver alguma queda antes dos últimos três quilómetros que penalizasse os principais candidatos num dia que já tinha feito as suas baixas. Assim, a fuga de Alessandro De Marchi (Jayco), Margus Cort (EF) e Derek Gee (Israel) tinha a passadeira estendida para ter sucesso, com o trio a começar a colocar-se a jeito para lutar pela vitória sem que ninguém parecesse querer agarrar na dianteira num final em reta apesar do piso muito molhado ainda. Derek Gee assumiu, De Marchi respondeu da melhor forma, Magnus Cort ficou com o triunfo ao sprint de forma previsível, com Pedersen e Ackermann a passarem Milan de seguida no grupo onde seguia João Almeida. Jay Vine, esse, cruzou a meta muito depois dos candidatos…

Desta forma, e na classificação geral, Geraint Thomas mantém a camisola rosa com dois segundos de avanço sobre Roglic e cinco sobre o companheiro Tao Geoghegan Hart. João Almeida é o quarto classificado a 22 segundos, agora de uma forma isolada porque Andreas Leknessund ficou a 35”. Damiano Caruso (1.28), Lennard Kämna (1.52), Pavel Sivakov (2.15), Eddie Dunbar (2.32) e Thymen Arensman (2.32) fecham o top 10, sendo que a Ineos passa a ter cinco corredores nos primeiros 11 lugares (o outro é Laurens de Plus). Há ainda uma novidade a partir de agora, com João Almeida a liderar a camisola branca da juventude.