Até abril, a Premier League mais não era do que um passeio de sonho para uma equipa e ruas de amargura e desilusão para todas as outras que costumam andar mais nos lugares cimeiros da classificação. Porque o Manchester United demorou a sentir o efeito Erik ten Hag e começou muito atrás dos outros pelas desilusões no início. Porque o Tottenham voltou a ser o seu pior adversário na quarta época consecutiva em que tudo se esfuma até à troca de treinador. Porque o Liverpool andou sempre entre o pior e o melhor, a golear e logo a seguir a correr riscos de ser goleado. Porque o Chelsea investiu milhões e milhões que apenas serviram para multiplicar o tamanho do insucesso apesar da constelação de estrelas. Porque o Newcastle está a construir algo mas o edifício só tem erguidos os primeiros alicerces. Sobravam Arsenal e, atrás, Manchester City.

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Houve uma altura em fevereiro que duas derrotas e um empate consecutivos colocaram em dúvida até que ponto os gunners teriam munições suficientes para dispararem rumo a um título que perseguem há quase 20 anos mas uma série de sete vitórias consecutivas tinha colocado de parte esses fantasmas do passado. Havia presente, parecia haver futuro. No entanto, a conjugação cósmica que se estava a montar acabou por cruzar com um vendaval de futebol que se ergueu em Manchester e que permitiu que o City somasse um total de 11 vitórias seguidas desde o final de fevereiro. Até assim, o Arsenal podia não estar em risco. Problema? A partir daí, a equipa de Mikel Arteta quebrou. E aquilo que prometia mexer tornou-se mais do mesmo.

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Com o Liverpool, um 2-0 madrugador acabou em 2-2. Com o West Ham, um 2-0 madrugador acabou em 2-2. Com o Southampton, um 0-2 madrugador não deu para mais do que um 3-3. A deslocação a Manchester para defrontar o City passou de jogo importante a duelo decisivo e os citizens “atropelaram” os londrinos com um 4-1 que podia até ter ganho outra expressão. A realidade tinha mudado de vez e nem mesmo as vitórias com Chelsea e Newcastle livraram o Arsenal daquele sentimento de impotência perante um conjunto de Pep Guardiola que “varria” tudo o que apanhasse pela frente. Assim, a derrota caseira com o Brighton acabou por ser quase um xeque-mate que, em caso de novo desaire com o Nottingham Forest, dava título.

Numa fase em que a luta para evitar a despromoção está tão aberta como a corrida à Champions (com vários históricos a tentarem fugir ao destino do Southampton), o Forest conseguiu mesmo ganhar ao Arsenal num triunfo que praticamente garante a continuidade na Premier League com um golo de Awoniyi (19′), dando assim numa bandeja de ouro o título ao Manchester City frente a um Arsenal sem reação que andou na frente do Campeonato durante 248 dias mas voltou a ver o topo fugir para os citizens em 33 dias.

A menos de 24 horas de receber um Chelsea que parece não ter fundo na sua queda a pique na temporada e na Premier League, o Manchester City sagrou-se no sofá tricampeão, algo que já não acontecia há mais de uma década quando o rival United ganhou entre 2007 e 2009 e que aconteceu pela primeira vez no clube. Em paralelo, os citizens reforçaram a sua hegemonia em Inglaterra ganhando o quinto título nos últimos seis anos (Pep Guardiola chegou ao quinto em sete anos), o que permite igualar o Everton como quarto clube com mais troféus, apenas atrás de Manchester United (20), Liverpool (19) e Arsenal (13).

O técnico espanhol, que chegou ao Etihad Stadium em 2016, conquistou o 12.º troféu pelo Manchester City entre cinco Campeonatos (2018, 2019, 2021, 2022 e 2023), uma Taça de Inglaterra (2019), quatro Taças da Liga (2018, 2019, 2020 e 2021) e duas Supertaças (2018 e 2019). Ao todo, e desde que entrou no Barcelona em 2008, Guardiola conquistou 33 títulos entre os catalães, o Bayern e o City, tendo já todos os troféus no seu currículo. Ainda assim, esta poderá ser uma temporada ainda mais especial para o treinador e para o clube, caso consiga juntar ainda ao Campeonato a primeira Champions de sempre e a Taça de Inglaterra.

Com apenas quatro contratações que ainda assim custaram 150 milhões (Haaland, Akanji, Kalvin Philips e Sergio Gómez) e com mais dinheiro realizado em vendas do que em comparas com as saídas de nomes como Gabriel Jesus, Zinchenko, Sterling e durante o inverno João Cancelo, o Manchester City vê assim coroada a sua versão mais equilibrada e eficiente da era Pep Guardiola, contando com os melhores lados de craques como Kevin de Bruyne, Bernardo Silva, Rodri ou Gündogan e com revelações com um rendimento acima do normal como John Stones a juntarem-se aos 52 golos e oito assistências em 49 jogos de Haaland.