Os conselhos de redação do JN e TSF afirmam que os títulos se regem por critérios jornalísticos e respeito do código deontológico, repudiando a interpretação das notícias que envolvem a autarquia de Gaia e contratos com a Global Media.
As posições dos conselhos de redação (CR) do Jornal de Notícias (JN) e da TSF surgem na sequência das notícias de que o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues (PS), é suspeito de contratar de forma ilegal e arbitrária meios de comunicação social da Global Media Group (GMG) para promoção da autarquia e dele próprio.
“Perante notícias recentes sobre uma investigação do Ministério Público, envolvendo a Câmara Municipal de Gaia e contratos firmados com a TSF, alegadamente em troca de promoção pessoal do autarca, vêm os membros eleitos do Conselho de Redação da TSF esclarecer que consultados os editores e os jornalistas da TSF resultou claro que nunca existiu qualquer tipo de pressão ou tentativa de influenciar a produção e/ou transmissão de quaisquer conteúdos favoráveis a quem quer que fosse por parte da direção editorial”, refere o CR da rádio da GMG, num comunicado a que a Lusa teve acesso.
“A autonomia editorial é uma das características mais vincadas no ADN da TSF e nunca foi questionada, seja pela atual ou por anteriores direções”, além disso, “a redação da TSF pauta-se por critérios jornalísticos e editoriais que cumprem escrupulosamente o Código Deontológico a que está obrigada”, prossegue.
A cobertura de conferências e outros eventos “realizados no âmbito de acordos e protocolos firmados com diversas entidades rege-se sempre por critérios jornalísticos e aos jornalistas envolvidos é concedida inteira liberdade para realizarem o seu trabalho”, acrescenta o CR da TSF.
“Os membros eleitos do Conselho de Redação da TSF manifestam, assim, o vivo repúdio pelas acusações de alegado envolvimento da direção editorial e da redação em alegadas operações de promoção de imagem, sublinhando que o trabalho desenvolvido pelos profissionais da TSF é regido sempre pela ética e deontologia do jornalismo”.
Também o CR do JN, que se reuniu de emergência na segunda-feira, para analisar o tema, repudia o que tem sido noticiado e garante que a redação se pauta por critérios jornalísticos.
Sobre as notícias que têm sido divulgadas sobre o tema, o CR do JN classifica de “noticiário assente numa visão, errónea, de que, de algum modo, um acordo comercial com uma autarquia, legítimo e devidamente registado no Portal BASE, seria uma porta aberta ou uma banca self-service de notícias para algum autarca”.
E acrescenta: “Como é óbvio, não o é, nunca foi, e conhecendo o espírito deste jornal, nunca o será. O óbvio, no jornalismo, não é notícia. E, no caso do Jornal de Notícias, não há notícia, porque a redação, como é óbvio, rege-se por critérios jornalísticos e pelo respeito da ética e do código deontológico dos jornalistas. E em liberdade”.
Por isso, o Conselho de Redação do JN “não pode deixar de repudiar interpretações de notícias que afetem o bom nome da direção e dos jornalistas, atuais e antigos, e do próprio JN”.
O órgão sublinha que no JN “há uma clara separação entre área comercial e editorial” e que “os jornalistas têm liberdade para abordar os assuntos e não estão, nem podiam estar, limitados por ordens superiores ou emanações sombrias de acordos comerciais”.
Os projetos editoriais especiais, sob forma de conferências ou organizações temáticas, “são comuns a vários dos órgãos de comunicação social”, sublinha, referindo que, “infelizmente, a perda de receitas de publicidade para as grandes plataformas comerciais agudizou as dificuldades financeiras dos OCS, que encontram nestes mecanismos uma forma de ajudar a manter a sustentabilidade dos projetos jornalísticos, dentro de regras que consideramos inexpugnáveis”.
Além disso, “acreditamos que em todos os órgãos as regras são as mesmas do JN: separação entre comercial e editorial; liberdade editorial dos jornalistas para trabalharem os temas da forma que entendem; e porta fechada a pressões, encomendas ou compra de notícias”, prossegue.
“Infelizmente, foi preciso escrever o óbvio, porque o CR não pode aceitar que seja posta em causa a integridade, a idoneidade e o bom nome da redação do Jornal de Notícias, um título a completar 135 anos de história: um jornal que sempre esteve do lado das pessoas; um jornal que há mais de um século dá voz aos mais frágeis; um jornal que resolve. E que, por tudo isto, incomoda muita gente”, conclui.
Segundo um despacho do Departamento de Investigação e Ação Penal Regional do Porto (DIAPRP), a que a agência Lusa teve acesso na semana passada, o Ministério Público (MP) diz que o autarca de Gaia “determinou a outorga pelo Conselho de Administração da GAIURB [empresa municipal], de modo arbitrário, sem qualquer requisição de despesa, manifestação de necessidades ou proposta de contratação de serviços e/ou fornecimentos de bens emanada pelos respetivos serviços, contratos públicos com o Grupo Global Media”.
“Eduardo Vítor Rodrigues, na qualidade de autarca, solicitou a Domingos Portela de Andrade, vogal do Conselho de Administração do Grupo Global Media, que os meios de comunicação pertencentes a tal Grupo, nomeadamente o Jornal de Notícias e TSF, elaborassem notícias e cobrissem conferências promovendo a atuação da Câmara de Vila Nova de Gaia e do seu presidente”, sustenta o MP.
Para o DIAP Regional do Porto, “tal factualidade indicia a prática de crimes de prevaricação, corrupção ativa e passiva e recebimento indevido de vantagem”.
Também na semana passada, em comunicado, a administração da GMG afirmou que os seus profissionais “exercem as suas funções com total respeito pelas normas deontológicas do jornalismo, preservando a independência e a separação dos compromissos comerciais assumidos com entidades externas, honrando a importância das suas marcas já centenárias no panorama dos media em Portugal”.
“Dentro da Comissão Executiva da GMG são claras as separações de funções entre as áreas comercial, financeira e editorial”, salienta o grupo liderado por Marco Galinha.
O presidente do município de Gaia é, neste momento, o único arguido neste inquérito, que surge da extração de uma certidão do processo principal da Operação Babel, com mais oito suspeitos, incluindo Domingos Andrade, administrador do Grupo Global Media, e o ministro da Saúde, Manuel Pizarro.