O Congresso brasileiro instalou esta quinta-feira uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará a tentativa de golpe de Estado e os atos de vandalismo promovidos por apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro em 8 de janeiro, em Brasília.

A primeira reunião foi aberta pelo senador Otto Alencar, o mais velho do colegiado, que comandou a eleição dos cargos da mesa diretora. A presidência, que determina a agenda de trabalho da investigação, ficou com o deputado Arthur Maia, que integra o grupo político do presidente da Câmara dos Deputados, Arhur Lira.

A relatoria, que fará o relatório final, ficou com a senadora apoiante do Governo Eliziane Gama, aliada do ministro da Justiça, Flávio Dino. O colegiado também elegeu os senadores Cid Gomes, da base governamental, e Magno Malta, da oposição, como vice-presidentes da CPMI.

Ao assumir a presidência da investigação dos atos de 8 de janeiro no Congresso brasileiro, o deputado Maia considerou que os integrantes do colegiado têm a “responsabilidade de zelar por esse legado democrático, trazido por tantos homens e mulheres, alguns que perderam a sua vida”, e investigar o que chamou de narrativas sobre os ataques ao Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF).

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“Sabemos que há uma narrativa de que tudo que aconteceu está envolvido em uma orquestração maior de um possível golpe para interromper a democracia no Brasil. Isso tem que ser investigado, isso não pode passar em branco”, acrescentou o presidente da CPMI.

Já a senadora Eliziane Gama, responsável pelo relatório final da investigação parlamentar, frisou que “houve uma tentativa de golpe, mas não conseguiram”. “O facto é claro: todos aqui somos contra aquilo que aconteceu, independentemente do que é base ou oposição”, considerou.

O Governo liderado pelo Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, antes contrários à abertura da CPMI alegando que a polícia já investiga os atos golpistas e uma mobilização no Congresso poderia atrapalhar a agenda económica, movimentou-se para ter maioria no colegiado.

O foco dos apoiantes do Governo na investigação serão os bolsonaristas responsáveis pelos ataques golpistas aos edifícios dos três poderes, especialmente aqueles que vandalizaram os prédios públicos, os que organizaram os atos, os financiadores dos acampamentos e caravanas e os autores morais.

A intenção da oposição ultraconservadora, que apoia o ex-presidente Jair Bolsonaro, é tentar usar a comissão para propagar a tese de que o Governo de Lula da silva ignorou a atuação dos golpistas e de alguma forma facilitou os ataques para alegadamente gerar uma onda de solidariedade.

No entanto, a investigação judicial, já bem mais avançada, até agora não encontrou um único indício a esse respeito e inclui até o próprio Bolsonaro entre os suspeitos de ter incitado ao movimento golpista.

Brasil já libertou mais de mil suspeitos dos ataques de janeiro

As quase 2.000 pessoas presas pelo assalto aos três poderes do Brasil estão alinhadas com a extrema-direita mais radical, que, assim como Bolsonaro, não reconheceu na época a vitória do líder progressista nas eleições de outubro.

A oposição tem nove integrantes nesta CPMI, entre os quais o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente. Quinze são da aliança apoiante do Governo e outros oito dizem-se independentes, embora tenham sido indicados por grupos que apoiam o Governo.

Apoiantes do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram em 8 de janeiro as sedes do STF, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem e suscitando a condenação da comunidade internacional.

A invasão começou depois de militantes da extrema-direita brasileira apoiantes do anterior presidente, derrotado por Lula da Silva nas eleições de outubro passado, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios para tentar derrubar o novo Governo.

A justiça brasileira investiga os ataques e seus supostos responsáveis, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, para esclarecer quem teve participação na instigação dos atos golpistas, e também estão a ser investigados funcionários públicos e outras autoridades suspeitas de omissão ou de facilitação dos ataques.