Pedro Soares, o rosto da moção da oposição interna à atual direção do Bloco de Esquerda, deixou claro que a moção E se apresenta para “contribuir para o debate plural”, por recusar “uma convenção que seja um muro de lamentações” e para que haja uma “exigente na avaliação crítica e confronto de propostas”.

“Os tempos não estão para discursos vagos como ‘uma vida boa para todas as pessoas’”, afirmou Pedro Soares, enaltecendo que “os tempos são fraturantes” e recusando que o partido opte por “declarações que só podem ter como desfecho a diminuição da nossa identidade e do nosso papel”.

Atirou-se à atual direção para dizer que “a geringonça acabou, mas [que] perdura na cabeça de alguns e continua a marcar a linha política” do Bloco de Esquerda, uma das principais críticas da oposição interna à linha da direção. E enalteceu ainda para o facto de o partido ter perdido “influência política e social” durante este percurso.

Como crítico, fez questão de referir que “o mau estar está instalado e transborda” e exemplificou-o com o facto de “a maioria da direção ter escondido” aquilo que considera “uma derrota de todos”: a “abstenção de 80%” na votação para os delegados para a XIII Convenção. Não se afastou do diálogo, mostrou-se disponível e pediu capacidade de cooperação, bem como a valorização da intervenção local e uma profunda avaliação da orientação política, onde sejam traçadas linhas vermelhas, nomeadamente em temas como o trabalho e a habitação.

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Relativamente ao estado do País, Pedro Soares frisou que “não há linhas vermelhas para a guerra social que se instalou”, alertando para a necessidade de serem impostas “linhas divisórias da esquerda”. “O que estamos a viver está muito para além do que passa nos telejornais e de qualquer desaguisado entre primeiro-ministro e Presidente da República”, referiu, acrescentando que a extrema direita segue “imbuída de sondagens que a fazem salivar”. Esta linha, referiu ainda, “favorece o populismo”.

Durante o discurso de apresentação da moção, dedicou-se ainda ao tema da guerra da Ucrânia, que define como uma “corrida armamentista desmesurada que parece não ter fim”. Expressou “solidariedade total com o povo ucraniano” face à invasão russa e destacou que “a guerra exige e condenação inequívoca da Federação russa”. Apelou a “um cessar fogo imediato” e não o alinhamento pelo discurso do secretário-geral da NATO que, segundo Pedro Soares, “pede mais armas”, mas antes pelo de Lula da Silva.

E foi em crescendo nesta linha: “Cria enorme perplexidade ver dirigentes do Bloco de Esquerda declarar que a posição do Bloco é a mesma do Governo. Mas essa não é a mesma da NATO, do eixo euro-atlântico?” Nesta senda, aproveitou para criticar: “Não menos perplexidade causa a integração do Bloco numa delegação à Ucrânia a convite de um neonazi organizador das piores perseguições à oposição de esquerda no país. E deixa mesmo a questão direta: “O Bloco de Esquerda foi à Ucrânia fazer o quê? Comprometer-se com uma posição euro-atlântica de prolongamento da guerra?”

No mesmo sentido, Pedro Soares questionou ainda o alinhamento do partido a “corroborar o convite a um neonazi” para discursar na Assembleia da República. E terminou a dizer: “Queremos Putin fora da Ucrânia e a NATO fora da Europa. Sem dúvidas.”