“É isto que acontece quando uma força imparável encontra um objeto inamovível.”

A frase, mítica entre os mais atentos ao mundo do cinema, tem origem no filme “The Dark Knight” e no momento em que o herói Batman consegue finalmente capturar o vilão Joker. A frase, mítica entre os mais atentos ao mundo do cinema, tornou-se o sinónimo de um confronto entre dois lados quase equivalentes entre si, mas com poderes diferentes. E dificilmente existiria frase melhor para descrever a final da Liga Europa.

De um lado, um Sevilha que já tinha conquistado a competição em seis ocasiões, três delas de forma consecutiva e todas nos últimos 17 anos. Do outro, uma Roma liderada por José Mourinho, que tinha vencido todas as cinco finais europeias em participou entre FC Porto, Inter Milão, Manchester United e os próprios italianos. Em resumo? O encontro entre um clube vencedor em série na Liga Europa e um treinador vencedor em série nas competições europeias.

Ficha de jogo

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Sevilha-Roma, 1-1 (4-1 nas grandes penalidades)

Final da Liga Europa

Puskás Arena, em Budapeste (Hungria)

Árbitro: Anthony Taylor (Inglaterra)

Sevilha: Bounou, Jesús Navas (Montiel, 94′), Badé, Gudelj (Marcão, 120+7′), Alex Telles (Rekik, 94′), Fernando (Jordán, 120+9′), Rakitic, Ocampos, Óliver Torres (Suso, 45′), Bryan Gil (Lamela, 45′), En-Nesyri

Suplentes não utilizados: Dmitrovic, Alberto Flores, Rafa Mir, Nianzou, Papu Gómez, Bueno

Treinador: José Luis Mendilibar

Roma: Rui Patrício, Ibañez, Mancini, Smalling, Çelik (Zalewski, 90′), Cristante, Matic (Bove, 120′), Spinazzola (Diego Llorente, 105′), Pellegrini (El Shaarawy, 105′), Dybala (Wijnaldum, 68′), Tammy Abraham (Belotti, 75′)

Suplentes não utilizados: Boer, Svilar, Karsdorp, Camara, Volpato, Tahirovic

Treinador: José Mourinho

Golos: Dybala (35′), Mancini (ag, 55′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Matic (22′), a Rafa Mir (37′), a Pellegrini (45′), a Mancini (48′), a Cristante (65′), a Rakitic (65′), a Çelik (74′), a Zalewski (105′), a Lamela (109′), a Jordán (120′), a Montiel (120+4′), a Karsdorp (120+10′), a Ocampos (120+10′)

O passado, porém, pouco ou nada dizia ao técnico português. “Não penso muito no que aconteceu no passado. É passado, a história não pode ser apagada e esses sentimentos são inesquecíveis, mas habituas-te a viver com eles. Estou sempre a olhar em frente, talvez seja esse o segredo da minha filosofia. A história não ganha jogos. As pessoas pensam que o Real Madrid ganha todas as finais, que o Sevilha vence todas as finais… Mas a história não ganha jogos. E também não gosto de superstições, não penso nisso como um fator a ter em conta. Esta é uma nova final, uma nova história. O Sevilha tem muita experiência nesta competição e nós estivemos numa final europeia recentemente. Só quero jogar o jogo pelo jogo”, explicou Mourinho na antevisão da final desta quarta-feira.

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Em Budapeste, na Puskás Arena, o Sevilha procurava salvar uma temporada em que teve três treinadores — Lopetegui começou a temporada e foi substituído por Sampaoli em outubro, com José Luis Mendilibar a chegar em março –, em que chegou a rondar os lugares de despromoção da liga espanhola e em que dificilmente irá ficar na primeira metade da tabela. Já a Roma, que esteve em lugares de apuramento para a Liga dos Campeões mas não conseguiu manter a consistência necessária para se manter por lá, procurava a única e última chance de disputar a liga milionária na próxima época.

Mendilibar lançava En-Nesyri enquanto referência ofensiva, apoiado por Ocampos, Óliver e Bryan Gil, e os ex-FC Porto Fernando e Alex Telles eram titulares, assim como o ex-Sporting Gudelj. No banco espanhol ficavam Papu Gómez, Lamela e ainda Montiel, o herói argentino que marcou o penálti decisivo na final do Mundial do Qatar. Já Mourinho tinha Abraham, Pellegrini e Dybala no ataque — confirmando o bluff da antevisão, onde disse que o argentino só poderia jogar “20 ou 30 minutos” — e deixava El Shaarawy e Belotti enquanto suplentes.

A primeira parte não foi de enorme qualidade técnica ou tática, com as duas equipas a procurarem anular-se mutuamente e aplicando uma lógica algo cautelosa e de quem estava mais preocupado com não sofrer do que propriamente com marcar. De forma expectável, o Sevilha tinha mais bola e tentava construir a partir do meio-campo, enquanto que a Roma apresentava as linhas mais recuadas e explorava as transições mais diretas, principalmente por intermédio de Çelik e Dybala e no corredor direito.

Os italianos tiveram a primeira oportunidade do jogo, com um remate de Spinazzola que Bounou defendeu depois de uma assistência de Çelik (12′), e essa foi durante muito tempo a única ocasião de toda a primeira parte. A final só acelerou à meia-hora, quando Dybala abriu o marcador e desbloqueou o encontro: Cristante desarmou Rakitic no meio-campo, Mancini soltou o avançado de forma imediata e o argentino, na grande área e à saída do guarda-redes, atirou cruzado para colocar a Roma a vencer (35′).

O Sevilha respondeu e subiu as linhas e todos os setores, aproveitando também o natural recuar dos italianos, e passou a construir totalmente inserido no meio-campo adversário. En-Nesyri cabeceou para Rui Patrício defender (39′), Fernando também ameaçou de cabeça e na sequência de um canto (43′) e Rakitic, já bem dentro do período de descontos, rematou de fora de área para acertar em cheio no poste (45+6′). A Roma chegava ao intervalo da final da Liga Europa a vencer — mas com a ideia clara de que o Sevilha tinha capacidade e vontade de discutir o resultado.

José Luis Mendilibar decidiu mexer logo ao intervalo e trocou Óliver e Bryan Gil por Suso e Lamela, procurando refrescar e reforçar o ataque do Sevilha. Os espanhóis transportaram a superioridade da reta final do primeiro tempo para a segunda parte e voltaram do balneário num patamar claramente acima do da Roma, com Alex Telles a protagonizar a primeira ameaça com um remate por cima (52′) e o expectável empate a aparecer pouco depois.

Jesús Navas desequilibrou na direita, cruzou tenso para a grande área e Mancini, enquanto tentava evitar o desvio de En-Nesyri, atirou para a própria baliza e traiu Rui Patrício (55′). O Sevilha capitalizava a entrada positiva na segunda parte, enquanto que a Roma sofria as consequências de algum adormecimento exagerado. Os espanhóis perderam ligeiramente a energia na sequência do empate e os italianos procuraram aproveitar, com Abraham a obrigar Bounou a uma defesa apertada após um canto (67′).

Mourinho mexeu a pouco mais de 20 minutos do fim, retirando um já fatigado Dybala para colocar Wijnaldum e trocando Abraham por Belotti, e ainda se assustou quando Anthony Taylor assinalou grande penalidade de Ibañez sobre Ocampos — o lance, porém, foi revertido quando o árbitro inglês analisou as imagens do VAR. Belotti teve a última grande ocasião dos 90 minutos, ao permitir uma defesa gigantesca de Bounou na cara do guarda-redes (83′), mas a final da Liga Europa seguiu mesmo para prolongamento.

Pouco ou nada aconteceu na meia-hora extra, pelo menos no que a futebol propriamente dito diz respeito, e o tempo foi passando entre substituições, diversas paragens e a ideia absoluta de que a clarividência já escasseava de parte a parte. Ou seja, a decisão nas grandes penalidades tornou-se inevitável — pelo terceiro ano consecutivo na Liga Europa. E aí, o Sevilha foi mais forte: Mancini e Ibañez falharam para a Roma, Montiel ainda permitiu a defesa de Rui Patrício no penálti decisivo mas Anthony Taylor mandou repetir, com o argentino a bater o português para dar a sétima Liga Europa aos espanhóis.

Cinco meses depois de ter marcado o penálti decisivo que deu o Campeonato do Mundo à Argentina no Qatar, Gonzalo Montiel voltou a ter o condão de ser fulcral e assumiu a responsabilidade da derradeira grande penalidade para conquistar mais um troféu. Já José Mourinho, do lado da Roma, não só deixou fugir a única possibilidade de estar na Liga dos Campeões da próxima temporada como perdeu a primeira final europeia da carreira.