Às vezes, meia palavra basta, mas que não faltem elogios para aquilo que Zicky fez. Izaquel Gomes Té. Ainda não sabíamos, mas, escalpelizando o nome do pivô, bem se pode pensar que Té é diminutivo de técnica. No apelido do jogador do Sporting mora então a descrição sumária (e insuficiente) do golo que anotou e que deu mote à vitória dos leões por 3-2 no jogo 3 da final do campeonato nacional de futsal. Mesmo que o internacional português se tenha recusado a comentar o lance individual, Zicky abriu um túnel, mostrando que nem os maiores obstáculos são imunes a fragilidades.
Zicky Té. ESTRATOSFÉRICO. pic.twitter.com/WNZ2xOO0u7
— B24 (@B24PT) June 17, 2023
O dérbi de futsal era o décimo encontro entre Sporting e Benfica em 14 dias. Os dois clubes estão envolvidos nas finais masculinas de futsal, hóquei e patins e basquetebol (esta última já decidida a favor dos encarnados) e, também por isso, a rivalidade vive dias intensos. Os leões, em particular, têm sido muito vocais nas críticas às arbitragens, tendo aproveitado uma derrota no hóquei em patins para expressarem o sentimento de insatisfação que a equipa de Alvalade alargou à outras modalidades em que disputa títulos com os encarnados.
No que ao futsal diz respeito, o treinador do Sporting, Nuno Dias, terminou o jogo 2, em que o Sporting perdeu por 3-2, permitindo ao Benfica empatar a final, desagradado não só com a derrota. “Não é isto que se quer para o futsal, não é isto que se quer para o jogo. Se continuarem a permitir que em todos os lances os jogadores do Sporting sejam agarrados, dentro e fora da área, e que não haja penalizações para isso, se querem isso para o futsal então tudo bem. Inacreditável a forma como os nossos pivôs são agarrados em todos os lances”.
Chishkala, o santo padroeiro de um dérbi encarnado: Benfica vence Sporting e empata final da Liga
É inegável que na memória do Sporting está a final da Liga dos Campeões perdida para o Palma devido a um lance em que Sokolov e o fixo adversário se agarravam mutuamente, mas o golo daí resultante foi anulado, impedindo os leões de ficarem em vantagem. Apesar de tudo, a final do campeonato é disputada à melhor de cinco e com a vitória do Sporting no jogo 1 (5-1), o desaire na Luz não complicou necessariamente as contas, uma vez que o Benfica está obrigado a vencer um encontro no Pavilhão João Rocha se quiser ser campeão.
A decisão seguia para casa da equipa verde e branca com o treinador do Benfica, Mário Silva, a demarcar-se da polémica. “Já tenho mais de 50 dérbis e estou mais do que habituado a, quando o Benfica ganha, começarem a surgir questões extra jogo. No primeiro jogo não nos queixámos da arbitragem e há lances que podíamos criticar. Parece-me que é entrar no jogo que eu detesto e não é dessa forma que estou no desporto. É saber ganhar e perder, procurar soluções para ganhar mais vezes. Esta equipa é atualmente detentora da Taça da Liga e da Taça de Portugal e nem sempre tem o respeito que merece ter”.
As soluções que os encarnados tentaram encontrar no início do jogo foram as mesmas que o Sporting. As duas equipas começaram o jogo em busca de fazerem a diferença através do guarda-redes subido. A influência de Guitta era superior à de Léo Gugiel, o que dava os leões ataques mais prolongados. A equipa da Luz tinha algumas dificuldades em ligar o jogo com o pivô, algo que só conseguiu com passes aéreos sempre favoráveis a quem defende.
Os encaixes eram tão vincados que os lances individuais dos atacantes, quando realizados com sucesso, causavam pânico nos esquemas defensivos. Tomás Paçó saiu no um para um na ala direita e rematou cruzado ao poste da baliza do Benfica. Quando Léo Gugiel subia no terreno, a equipa comandada por Mário Silva descobria com alguma facilidade o corredor contrário. Numa dessa situações, a Chishkala teve espaço para testar Guitta.
Léo Gugiel estava atento para funcionar como quinto defensor sempre que isso lhe era exigido. Zicky estava a ser um dos mais influentes no Sporting até receber assistência médica devido a queixas no joelho esquerdo que trazia ligado desde o início da partida. Os leões atingiram a quinta falta a cinco segundos do fim da primeira parte, o que não exigia grandes cautelas dada a proximidade com o intervalo. Mais cuidado era pedido aos jogadores de Nuno Dias quando o guarda-redes do Benfica encontrou Afonso Jesus no fundo do campo e o fixo esteve perto de conseguir o desvio para o golo.
Zicky não se mostrou nada condicionado pelos problemas físicos da primeira parte e desembrulhou a defesa do Benfica com dois toques — um sobre Arthur e outro sobre Léo Gugiel –, encontrando o fundo das redes. A maravilha do primeiro golo do jogo foi descontada na forma quase acidental com que Pauleta fez o 2-0 para o Sporting, logo depois e Pany ter acertado na barra.
Valeu ao Benfica a rápida reação. Arthur, através de uma reposição lateral, fez a bola desviar em Pany Varela, jogador que fazia de barreira, e reduziu. A ação nos dez primeiros minutos da segunda parte compensou a maior monotonia dos 20 do primeiro tempo. E ainda não era tudo. Bruno Coelho arrancou desde o meio-campo e ultrapassou o marcador direto, obrigando à ajuda defensiva por parte do Sporting. Dessa forma, Erick ficou encarregue de dois adversários, o que levou Diego Nunes a ficar sozinho para empatar.
O Sporting tentava reagir ativando as subidas de Guitta. Os leões estavam intranquilos nos momentos finais e perderam algumas bolas com a baliza desprotegida. Os sobressaltos para a equipa verde e branca, mesmo assim, não foram tanto como o desespero que os adeptos do Benfica sentiram ao verem Sokolov dirigir-se para a baliza a três segundos do fim quase desfazendo o empate.
O jogo 3 da final seguiu para prolongamento. Como um protagonista não se importa de fazer horas extraordinárias, Zicky quase marcou de pontapé de bicicleta. Acabou por ser Pauleta que a 24 segundos do fim da primeira parte do tempo extra, com a defesa do Benfica descompensada, encontrou a baliza deserta e deixou o Sporting na frente.
Pela primeira vez, colocava-se a questão sobre os riscos e benefícios do recurso ao guarda-redes avançado. Mário Silva acabou por optar por essa solução quando a equipa atingiu a quinta falta. Mesmo assim, o Benfica não conseguiu evitar o livre de dez metros para o Sporting. Martim Figueira entrou para tentar defender. Pany Varela atirou ao lado. A partir daí, era preciso algo épico para evitar que o 3-2 fosse alterado. Os leões mantiveram-se na dianteira e passaram para a frente na final. Em caso de vitória na visita à Luz na próxima quarta-feira, o Sporting sagra-se campeão nacional.