A execução de investimento por parte do Metropolitano de Lisboa no ano passado registou um desvio negativo de 119 milhões de euros face ao valor previsto, o que corresponde a uma diferença de 70%. A empresa tem em curso um plano de expansão previa investir 169,2 milhões de euros, mas o valor acabou por ficar nos 50,1 milhões de euros.
Este baixo grau de execução, sinalizado pelo conselho fiscal no parecer às contas de 2022, é atribuído pela empresa à não execução ou “diminuta realização de projetos, como a aquisição de material circulante e a modernização do sistema de informação aos clientes”, entre outros. No relatório de gestão, divulgado esta quinta-feira, o Metropolitano refere ainda que os principais projetos em curso “apresentaram, também, baixa realização face ao orçamentado, tais como prolongamento Rato/Cais do Sodré, com um desvio 49,5 milhões de euros, plano nacional de acessibilidades (menos 10,1 milhões de euros), prolongamento S. Sebastião/Alcântara (14,9 milhões de euros) e remodelação da estação do Cais do Sodré (desvio de 100%).
No relatório de gestão não são destacados os motivos para esta derrapagem, sendo apontados na justificação no quadro que analisa o grau de execução do orçamento financeiro que os principais motivos “estão relacionados com atraso na consignação do Lote 2 e no processo de adjudicação da empreitada relativa ao lote 4, que (à data) ainda se encontra em análise e avaliação pelo júri.”
O governo tem reconhecido atrasos nos grandes projetos, como as obras de expansão do Metro de Lisboa, derrapagens que também são de ordem financeira. Helena Azevedo, da equipa diretiva do POSEUR, atribuiu esta situação no Parlamento a fatores como as perturbações logísticas no mercado, com atrasos na entrega de equipamentos, falta de mão-de-obra e matérias-primas, bem como o aumento de custos, impulsionados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia.
O projeto do metro circular de Lisboa estará concluído já depois do calendário de execução dos fundos comunitários atribuídos ao abrigo do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos (POSEUR). O que irá obrigar a recorrer a outras fontes de financiamento, como empréstimos do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e o Fundo Ambiental financiado por impostos ambientais.
O presidente do Metro de Lisboa, Vítor dos Santos, afirmou no Parlamento que o projeto de prolongamento da linha vermelha até Alcântara vai custar mais 100 milhões de euros, um total de 405 milhões de euros. E esperava adjudicar o contrato para a ligação de São Sebastião a Alcântara no terceiro trimestre deste ano. As obras da linha circular estão em execução com obras que condicionam a mobilidade em várias zonas de Lisboa.
As contas de 2022 do Metropolitano de Lisboa, que ainda não foram aprovadas pela tutela (que acabou de aprovar o relatório de 2021), indicam ainda um agravamento do resultado operacional da empresa que passou de positivo em 2021 a negativo em quase um milhão de euros, o que é explicado por um aumento de gastos — mais 14,9 milhões de euros — superior ao aumento de rendimentos — 11,6 milhões de euros. A empresa teve prejuízos de 21,1 milhões de euros, face a perdas de 22,9 milhões de euros no ano anterior.
Procura ainda aquém do pré-pandemia e o problema do absentismo
Em 2022, o ML notou uma “trajetória ascendente de recuperação da procura”, com 133 milhões de passageiros registados, que ficou, ainda assim, abaixo dos níveis de 2019. Em relação a 2021, a procura aumentou 63%. Mas face a 2019, foram menos 23%. A empresa explica que os números ficam aquém dos registados antes da pandemia por causa da adoção do teletrabalho. Por outro lado, acrescenta a empresa, “o aumento da taxa de inflação e a diminuição do rendimento das famílias apresenta-se como variável a ter em conta na hora da tomada de decisão de transferência do transporte individual para o transporte coletivo”. O ML prevê que em 2023 o número de passageiros continue a aumentar.
No que toca às receitas (incluindo o PART Fixo e as comparticipações), houve um aumento de 64,2% face a 2021, estando ainda a 6,4% dos valores comparáveis de 2019.
A empresa reconhece que “o absentismo continua a ser o problema mais impactante” do ML ao nível dos recursos humanos, “dada a escassez de recursos, tendo aumentado significativamente o valor face ao ano anterior”. A taxa de absentismo foi de 8,92%. A empresa refere que “existem as competências necessárias para a realização das atividades previstas”, mas admite que a elevada idade média dos trabalhadores é um problema, em particular na área “com competências específicas associadas ao sistema da empresa”. O Metro tem um plano de recrutamento de novos colaboradores para os próximos 5 a 10 anos, mas não tem sido fácil fazer contratações, “por falta de mão-de-obra especializada mas também por força dos valores do mercado”.
Para 2023, o ML prevê avançar para um procedimento de contratação pública “com vista à aquisição de um sistema central de gestão da informação ao cliente, incluindo meios de difusão digitais, com conteúdos multimédia”, e o mesmo para desenvolver uma aplicação que englobará “toda a informação de viagem relevante para o cliente e competentes de bilhética Móvel”.
No relatório consta ainda a intenção de investir em novos validadores “para garantir, em parceria com a VISA, a validação e o pagamento com recurso a cartões bancários”, o que aconteceu na primeira metade do ano. Os novos validadores começaram a funcionar esta semana. O ML pretende ainda desenvolver internamente “uma solução que permitirá a aquisição do cartão navegante personalizado online”.