O telescópio Euclides já se encontra a caminho das profundezas do Universo. O aparelho foi lançado às 11h12 da manhã deste sábado (16h12 em Lisboa), desde a base da NASA no Cabo Canaveral, na Flórida. O Euclides, construído pela Agência Espacial Europeia, parte à “conquista” do lado oculto do Espaço, numa missão concebida para tentar compreender o que está a acelerar a expansão do Universo e que, segundo as teorias cosmológicas, se deve à energia escura, uma misteriosa força que se opõe à atração gravitacional.
Deployment of @ESA’s Euclid confirmed pic.twitter.com/JSX43KXaSn
— SpaceX (@SpaceX) July 1, 2023
O telescópio, que tem o nome do matemático Euclides e está equipado com dois instrumentos científicos, foi para o espaço acoplado a um foguetão Falcon 9, da empresa aeroespacial norte-americana SpaceX, do magnata Elon Musk. O telescópio entrou numa órbita estável em torno da Terra quase nove minutos após o lançamento. Cerca de 40 minutos depois, separou-se da parte do foguetão da SpaceX a que ainda estava acoplado e iniciou uma viagem de mais de 1,6 milhões de quilómetros até ao ponto onde vai iniciar a missão.
O Euclides será colocado a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, num ponto estável, sem interferência da luz do planeta, da Lua e do Sol, onde chegará um mês depois do lançamento. Espera-se a primeira divulgação de imagens em novembro e os primeiros dados científicos em dezembro de 2024.
“Inacreditável”, disse Guadalupe Cañas Herrera, cosmóloga na missão Euclid, citada pelo New York Times. “Estou super emocionada, mas também extremamente grata por tudo o que foi feito até agora para que possamos realmente ter um telescópio no espaço.”
Congratulations to @ESA and @SpaceX on the successful @ESA_Euclid launch! We look forward to the discoveries #ESAEuclid will make while piecing together some of the most pressing mysteries in astrophysics. https://t.co/SUC2QkHODc
— NASA (@NASA) July 1, 2023
Segundo o New York Times, os cientistas esperam usar o mapa tridimensional criado pelo telescópio para compreender como a matéria escura e a energia escura — que cobrem 95% do universo — influenciam o que vemos quando olhamos para o espaço. A missão da ESA, que custará quase 1,3 mil milhões de euros, vai durar seis anos e espera-se que transforme a astrofísica e talvez a compreensão da natureza da gravidade, escreve a Reuters.
O telescópio, de duas toneladas, também está equipada com instrumentos projetados para medir a intensidade e os espectros de luz infravermelha das galáxias mais distantes. Espera-se que o Euclides possa observar cerca de 50 mil galáxias, algumas a 10 bilhões de anos-luz do planeta Terra. Para se ter uma ideia, um único ‘ano-luz’ equivale a, aproximadamente, 9,5 triliões de quilómetros.
O Consórcio Euclid, que vai liderar a missão até 2030, é composto por mais de 2 mil cientistas de 13 países europeus, EUA, Canadá e Japão.
Após uma década de construção, o telescópio deveria ter sido lançado a partir de um foguetão russo Soyuz. Mas os planos de lançamento foram transferidos para a SpaceX, após o início da guerra na Ucrânia.
O lançamento bem sucedido do Euclides é mais um passo na direção da compreensão do Universo e de todos os seus mistérios. Recorde-se que ainda no ano passado era lançado telescópio James Webb, da NASA, e que vai permitir aos astrónomos analisarem também a parte mais primitiva do Espaço. Ainda em abril, o James Webb localizou a galáxia mais distante já observada pelos cientistas, e que se terá formada “320 milhões de anos após o Big Bang”.
O papel de Portugal na missão do Euclides
Portugal, Estado-membro da ESA desde 2000, ocupa pela primeira vez um lugar de destaque numa missão espacial da ESA, ao fazer parte do consórcio que foi criado para desenvolver, construir e explorar o telescópio.
De Portugal são oriundos cientistas, engenheiros e empresas que contribuem para a missão em diversos domínios, desde o controlo das operações de voo até ao fabrico de diversos componentes do telescópio espacial e ao planeamento das observações.
Tiago Loureiro, engenheiro aeroespacial que há 19 anos trabalha na ESA, vai codirigir as operações de voo a partir da Alemanha, onde funciona o Centro Europeu de Operações Espaciais da ESA.