O grupo parlamentar do PSD enviou formalmente questões à RTP a exigir explicações sobre um vídeo-cartoon, intitulado “Carreira de Tiro”, que foi emitido na última quinta-feira 6 de julho no canal público. O cartoon (que pode ver aqui) mostra um polícia a atirar a alvos que representam homens de diversas etnias, mas com uma pontaria muito mais afinada para o alvo que representa um homem negro. Sindicatos da polícia já manifestaram indignação com o cartoon e agora o PSD pressiona a administração do canal público a esclarecer o conteúdo. O Chega quer mesmo levar os responsáveis ao Parlamento.
Nas perguntas enviadas à estação pública, e assinadas à cabeça pelo líder parlamentar Joaquim Miranda Sarmento, o PSD pede à RTP para esclarecer se teve “conhecimento prévio” do cartoon antes de este ter sido transmitido, se o teria transmitido se soubesse e se há regras editoriais para, neste tipo de conteúdos, existir um “adequado equilíbrio entre a liberdade de imprensa e a proteção de outros direitos, nomeadamente para evitar conteúdos racistas, xenófobos ou análogos”.
O PSD refere-se ao cartoon como tendo sido feito num espaço publicitário do NOS Alive, mas na verdade o cartoon faz parte de um espaço que existe na RTP desde 2017 que se chama “Spam Cartoon”.
Antes do PSD, já o líder do Chega, André Ventura, tinha protestado contra o cartoon dizendo que “o Chega vai chamar todos os responsáveis por isto ao Parlamento e vai pedir explicações, para que sejam apuradas todas as responsabilidades.”
Isto passou na RTP e é puro incentivo ao ódio contra os polícias. Inaceitável! O Chega vai chamar todos os responsáveis por isto ao Parlamento e vai pedir explicações, para que sejam apuradas todas as responsabilidades. Temos de proteger a nossa polícia,não atacá-los ainda mais! pic.twitter.com/2NimZQOjDa
— André Ventura (@AndreCVentura) July 8, 2023
O líder do CDS, Nuno Melo, também já aproveitou o cartoon para exigir responsabilidades ao Governo: “Quando polícias que representam o Estado são difamados na RTP como racistas que descarregam armas em função da cor da pele, sem que o MAI venha a público defender-lhes a honra ou o ministro da Cultura assuma ou exija responsabilidades, o governo morreu. RIP”
Autores: “Cartoon nada tem a ver com a PSP”
A publicação de André Ventura motivou uma reação dos ilustradores (André Carrilho, Cristina Sampaio e Tiago Albuquerque) que, na página de Instragram do Spam Cartoon, afirmaram que “o cartoon que o deputado André Ventura partilhou hoje nas suas redes sociais, convidando os seus seguidores a intimidarem-nos, insere-se num espaço de opinião da RTP que comenta atualidade nacional e internacional.” Os ilustradores explicam que, “neste caso, o mote foram os recentes acontecimentos em França, com a morte injustificada às mãos da polícia francesa” e que “quer formal quer conceptualmente este cartoon nada tem a ver com a PSP nem com as forças de segurança portuguesas, como o atestam a ausência de símbolos e uniformes e o contexto em que foi emitido pela primeira vez”.
Os responsáveis pelo Spam Cartoon agradecem ainda ironicamente às “entidades que nos escreveram a ameaçar e intimidar” por seguirem a página. E acrescentam: “Certamente que, se se familiarizarem com o nosso trabalho, encontrarão pontos em que concordamos, e outros em que discordamos. A diferença entre nós é que se discordamos de vocês, não vos ameaçamos, fazemos um desenho.”
Sindicato protestou, RTP alega liberdade de expressão
O Jornal de Notícias noticiou que o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da Polícia de Segurança Pública apresentou já uma queixa-crime contra “autores, editores e diretores responsáveis pela elaboração e difusão” do vídeo. O sindicato, citado pelo diário, considera que há “inequivocamente, uma intenção de vilipendiar todos os polícias, retratando-os como xenófobos e racistas” e que representa mesmo “instigação contra a ordem pública e segurança de todos”.
A RTP, também citada pelo Jornal de Notícias, justificou que “o Spam Cartoon é um exercício de opinião livre sobre a atualidade nacional e internacional que a RTP acolhe desde 2017”. A mesma fonte da estação pública disse ao Jornal de Notícias que “em nenhuma circunstância” o Spam Cartoon “serviu para instigar à violência contra quem quer que seja”. E acrescentou: “Os valores da liberdade de expressão e de opinião são basilares da democracia e do serviço público da RTP”.