Um carrinho de mão cheio de estrume à porta. Ou uma pintura do Presidente no inferno. Ales Pushkin, pintor e cartoonista bielorrusso, tinha várias maneiras de criticar Aleksandr Lukashenko.  A oposição ao regime valeu-lhe cinco anos de prisão, em Hrodna, onde acabou por morrer na noite de segunda-feira, aos 57 anos.

A morte do artista foi anunciada no Facebook pela mulher, Janina Demuch, e pelo Viasna, um grupo de ativistas dos direitos humanos que sublinham que as causas não são conhecidas, não havendo também informações sobre qual seria o estado de saúde do artista. À Associated Press, Janina Demuch revelou que Ales Pushkin “morreu na unidade de cuidados intensivos da prisão em circunstâncias pouco claras”.

Ales Pushkin foi detido em março de 2021 depois de ter participado ativamente nos protestos da oposição política. De acordo com a agência de notícias, foi condenado a cinco anos de prisão por incitação ao ódio e “profanação de símbolos do Estado”. Em tribunal, antes de ser condenado, o artista tirou as suas roupas em sinal de protesto, acabando por ficar na solitária durante 13 dias.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O seu protesto mais conhecido — “Estrume para o Presidente” —  teve lugar em 1999 quando despejou um carrinho de estrume à entrada do gabinete presidencial de Lukashenko, em Minsk. Na época foi condenado a dois anos de prisão.

Entre alguns dos seus trabalhos, tendo como alvo o Presidente da Bielorrússia, estão uma pintura de Lukashenko no inferno, rodeado pela polícia de choque, num fresco de uma igreja e uma exposição onde, alegadamente, terá pintado um nacionalista bielorrusso que colaborou com os nazis durante a Segunda Guerra Mundial.

Svetlana Tikhanovskaia, líder exilada da oposição bielorrussa, reagiu à morte do artista afirmando estar de “coração partido” e exigindo uma investigação.

É evidente que Pushkin se tornou mais uma vítima trágica do regime de Lukashenko“, afirmou, citada na Associated Press. “Milhares de presos políticos estão a sofrer nas prisões bielorrussas por participarem em protestos pró-democracia, apoiarem a Ucrânia ou simplesmente expressarem as suas convicções”, acrescentou.

Segundo o Viasna, a Bielorrússia tem cerca de 1500 presos políticos. Até ao momento as autoridades do país não se pronunciaram sobre a morte de Ales Pushkin.