Alexandre Fonseca suspendeu funções no grupo Altice, anunciou o grupo em comunicado.

“O Grupo Altice vem tornar público que o seu atual co-CEO, Alexandre Fonseca, comunicou ao Grupo que acionou a suspensão das suas funções no âmbito das atividades empresariais executivas e não-executivas de gestão do Grupo em diversas geografias, incluindo as posições de chairman em diversas filiais”.

A suspensão acontece no seguimento das investigações judiciais que envolvem o fundador da Altice, Armando Pereira, e que põem Alexandre Fonseca também no caso.

Já à SEC, regulador do mercado de capitais norte-americano, a Altice USA, onde Alexandre Fonseca era chairman, indica que a data de resignação foi sábado, 15 de julho.

“A 15 de julho, Alexandre Fonseca resignou do conselho de administração da Altice USA”, mas acrescenta que “a resignação não é o resultado de qualquer desentendimento na companhia em qualquer matéria relacionada com as operações, políticas e práticas da companhia”. Alexandre Fonseca era chairman, mas não participada em nenhum comité.

No comunicado ao mercado dos Estados Unidos, onde a Altice USA está cotada, a empresa acrescenta que foi nomeado para essa função Dennis Mathew, que é o CEO dessa sociedade, pelo que acumula as duas funções. À SEC nada é referido sobre as diligências judiciais que envolveram Alexandre Fonseca.

Alexandre Fonseca era o presidente executivo da Altice Portugal na altura em que vários dos negócios sob suspeita aconteceram, nomeadamente alguns ligados à alienação de imobiliário.

A decisão de suspender funções é comunicada pela empresa dizendo que Alexandre Fonseca “pretende de forma inequívoca proteger os interesses do Grupo Altice, e todas as suas marcas num processo que é público onde, aparentemente, são indiciados atos a investigar ocorridos no período em que este exerceu as funções executivas de presidente da Altice Portugal“, acrescentando que “esta postura de Alexandre Fonseca contextualiza-se num ato responsável no caminho para o cabal esclarecimento da verdade”.

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Neste momento, há quatro pessoas, no âmbito desta investigação, detidas, à espera de interrogatório. É o caso do fundador da Altice, Armando Pereira, mas também do empresário bracarense Hernâni Vaz Antunes – que tinha mandado de detenção mas não estava a ser localizado e no fim de semana acabou por entregar-se às autoridades — e da sua filha Jessica Antunes, além de um dos administradores de várias empresas que ligam estes empresários, Álvaro Gil Loureiro.

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Alexandre Fonseca chegou ao grupo que detém a marca Meo pela mão da Altice, depois desta empresa de Patrick Drahi e Armando Pereira terem adquirido à Oi a operadora nacional em 2015. Alexandre Fonseca já estava na Oni e Cabovisão, empresas que a Altice detinha, e que acabou por vender para que a compra da Meo fosse aprovada pelas entidades de concorrência. Alexandre Fonseca entrou na Altice em 2015 e em 2017 assumiu as funções de presidente executivo.

No ano passado deu esse lugar a Ana Figueiredo, passando a ser chairman da operação em Portugal e assumindo funções executivas ao nível do grupo — co-CEO do grupo Altice — além de presidente não executivo da Altice USA (empresa cotada).

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Em comunicado, o grupo diz aceitar esta decisão. “Esta é uma decisão que o Grupo Altice aceita e valoriza, pois auxilia a salvaguarda da prossecução da sua atividade empresarial e promove a defesa dos princípios da transparência, e da inequívoca colaboração no apuramento dos factos”.

No âmbito das investigações da denominada Operações Picoas Alexandre Fonseca terá sido também alvo de buscas domiciliárias, mas, segundo a SIC, não foi ainda constituído arguido, mas deverá sê-lo entretanto, acrescenta o Eco. No processo é mencionado por suspeitas de recebimentos indevidos. Em investigação está a compra da sua casa em Barcarena a uma das empresas de Hernâni Vaz Antunes.

A Altice já tinha indicado na passada semana que tinha aberto uma investigação interna aos processos de compra da empresa nomeadamente às aquisições e alienações de imóveis, tendo suspendido os pagamentos às empresas envolvidas na Operação Picoas.

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Esta segunda-feira, 17 de julho, Ana Figueiredo enviou uma mensagem aos trabalhadores, a que o Observador teve acesso, garantindo que “desde esse primeiro momento, e movidos pela transparência por que a Altice Portugal sempre se pautou, estamos a prestar às autoridades toda a colaboração”, informando também, conforme já tinha sido divulgado, que o Grupo Altice já deu início a uma investigação interna relacionada com os processos de compras e os processos de aquisição e venda de imóveis da Altice Portugal, bem como de todo o Grupo Altice. E informa também os trabalhadores que Alexandre Fonseca suspendeu as funções no grupo. E escreve o que o grupo já tinha escrito em comunicado, que “aceita e valoriza” a decisão, pois “auxilia a salvaguarda da prossecução da sua atividade empresarial e promove a defesa dos princípios da transparência e da inequívoca colaboração no apuramento dos factos”.

Ana Figueiredo deixa ainda a garantia de que “não nos desviaremos do que era ontem, e será amanhã, o nosso foco — servir os nossos clientes, prestando um serviço de excelência, e continuar a liderar no mercado português sendo a empresa mais inovadora em Portugal. Em suma, fazer o que sabemos fazer melhor”. A CEO da Altice Portugal assume que o foco é a operação. “Devemos concentrar-nos na nossa operação, continuar a executar o nosso Plano de Negócios e a melhorar o nosso desempenho”.

Os sindicatos da Altice Portugal reuniram-se esta tarde com os representantes da administração da dona da Meo. Em declarações à Lusa, Jorge Félix, do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal (STPT), disse que, na reunião, a CEO “confirmou que as empresas estão a ser objeto de investigação” e “reiterou o respeito por todos os direitos e garantias e estabilidade social e laboral dos trabalhadores”, e “garantiu estabilidade e tranquilidade”, disse ainda o dirigente sindical.