Cerca de 50 antigos combatentes da Guerra Colonial protestaram este sábado, no Porto, contra o incumprimento do Estatuto do Antigo Combatente e anunciaram uma greve de fome a partir de 17 de agosto junto do Palácio de Belém, em Lisboa.
Os antigos combatentes concentraram-se na Praça Carlos Alberto, junto do Monumento do Soldado Desconhecido, onde se liam frases em cartazes como “Respeitem os combatentes do Ultramar. Não os desprezem” ou “Guardiões da Pátria. Combatentes das guerras ultramarinas, últimos heróis do império. Fomos combatentes pela nação e para a guerra fomos mandados. Merecemos dignidade e gratidão. Direitos que nos são recusados”.
António Silva, da Comissão Pró Dignidade do Estatuto do Antigo Combatente (EAC), disse à Agência Lusa que 100 antigos combatentes da Guerra Colonial (1961-1974) vão entrar em “greve de fome às portas da Presidência da República” a partir do dia 17 de agosto. O ex-combatente da Guerra Colonial acrescentou que os grevistas só saem da porta do Palácio de Belém quando o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, for ao Ministério de Defesa Nacional e pedir para ser revogado o Estatuto do Antigo Combatente.
“Exigimos que o estatuto seja revogado, porque não está a ser cumprido. A Constituição [da República] em Portugal não está a ser cumprida”, declarou António Silva. “Até que o Presidente da Republica e Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa, tome uma posição no cumprimento do estatuto do combatente”, a greve continuará.
Segundo António Silva, o estatuto não está a ser cumprindo a vários níveis, seja nos museus, transportes ou dificuldade em aceder aos cartões de Antigo Combatente (AC).
“Metade dos cartões do ex-combatentes ainda não foram entregues”, disse, referindo que “muitos antigos combatentes estão a falecer sem acesso ao cartão de combatente”.
Outro exemplo elencado foi o caso de antigos combatentes de Bragança que não conseguem andar de transportes públicos porque os passes dados são intermodais, quando deviam dar passes a “título nacional”.
Quanto aos museus, que deviam ser gratuitos para os antigos combatentes, muitos dos ex-combatentes estão a ser obrigados a pagar os ingressos, como está a suceder no Monumento ao Combatente do Ultramar, em Belém (Lisboa), em que têm de pagar, exemplificou António Silva, referindo que tem havido problemas e até já foi “chamada a polícia”.
Outro exemplo é o dos combatentes negros que estiveram a combater ao lado dos portugueses e que estão com “graves problemas de saúde e ninguém quer saber deles”, acrescentou, reconhecendo que se não fossem esses homens negros das ex-colónias que tiveram “13 anos de guerra”, os portugueses quando lá chegavam “morreriam lá todos”.
Os 100 antigos combatentes que vão entrar em greve de fome a partir de 17 de agosto têm idades compreendidas entre os 70 e os 86 anos, são residentes em todo o país, sendo que 34 deles estão a viver em Lisboa e 12 no Porto.