Elisabete Paiva, diretora artística da associação Materiais Diversos, responsável pelo FMD, afirmou, num som de apresentação do festival, que a programação deste ano vem aprofundar a “prática de tornar visível o movimento de relações, de construção de parcerias, de encontros, de convívio”, desenvolvida na programação regular ao longo de cada biénio que separa os festivais.

A programação é marcada pelo território onde o festival acontece, na Serra d’Aire e Candeeiros e no Polje de Mira-Minde, inspirada pelos “movimentos subtis” das montanhas, das rochas, da água.

“Nesta edição, além de procurar tornar visível aquilo que porventura será invisível a maior parte do tempo para a restante comunidade de colegas [o trabalho feito pela Materiais Diversos nos últimos anos], queremos também tornar visível este movimento de desaceleração que vimos experimentando de forma mais decisiva desde 2020”, afirmou.

Elisabete Paiva salientou o facto de o programa não ter, “propositadamente”, uma hierarquia entre atividades principais e complementares, entre artistas profissionais e não profissionais, e de permitir “a qualquer tipo de público, mediante os seus interesses, navegar com alguma calma, com algum tempo, em roteiros diários ou de vários dias”, tendo a experiência da programação, mas também a de “estar no lugar com as pessoas que tornam possível ou inspiram” o festival.

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O FMD arranca no dia 05 de outubro, feriado municipal em Alcanena (distrito de Santarém), com a criação de um “ponto de encontro” no meio da Praça da República, onde, com as coletividades e associações, se vai falar do festival, degustar iguarias locais, brindar e dançar.

“Decadência”, de Cátia Terrinca/UMCOLETIVO, a partir do texto homónimo de Judith Teixeira, num trabalho de redescoberta de escritoras portuguesas do século XX, tem estreia marcada para esse dia, às 19:30.

“Mais uma vez, mas este ano com maior profundidade, o Festival Materiais Diversos valoriza o trabalho desenvolvido junto de artistas com os quais estabelece relações de continuidade”, lê-se na nota de imprensa de divulgação do festival.

Além do trabalho de Cátia Terrinca, que apresentará, ainda, “Mil e Uma Noites”, a partir de mulheres do concelho de Alcanena com produção literária, será mostrada a coprodução “KdeiraZ”, de Natália Mendonça, “espetáculo para crianças que traduz um investimento continuado na aproximação de jovens públicos à dança, nomeadamente através de oficinas e residências artísticas”.

No âmbito do apoio a artistas do distrito de Santarém, através da bolsa “Fios do Meio”, será apresentada a antestreia de “Didascálias”, de Giovanna Monteiro e Leonor Mendes, e, no âmbito da bolsa “Novos Materiais”, a criação “La Burla”, de Bibi Dória e Bruno Brandolino.

A partir do espetáculo “Coreografia”, projeto associado da Materiais Diversos em 2020-2022, João dos Santos Martins levará às escolas “Coreografia em sala de aula”.

Da colaboração com o Agrupamento de Escolas de Alcanena na programação regular que a Materiais Diversos desenvolve neste território, será mostrada uma exposição de materiais desenvolvidos nas oficinas “Corpo Comum”, orientadas por Marta Tomé e Raquel Senhorinho, com as turmas de 5.º e 7.º ano.

A programação inclui, ainda, a performance-instalação “Las Lámparas”, de Letícia Scrycky, em que som e luz são usados para procurar “ativar um estado primordial de observação como aquele que se sente quando se contempla o fogo”.

“All in the air is bird”, de María Jerez e Élan d’Orphium, “uma aproximação ao universo sonoro dos pássaros”, que “aprofunda uma pesquisa em práticas de colaboração entre elementos humanos e não humanos”, e “O Banquete das Saudades”, de Anne Lise Le Gac, que “propõe uma experiência partilhada através de sabores e receitas que falam de saudades”, são propostas que “incitam ao desaceleramento, desafiam a perceção e a memória”.

Na ligação a “outros territórios”, o FMD apresentará “Boca Fala Tropa”, de Gio Lourenço, colocando “à vista trânsitos entre Angola e Portugal”, e “a besta, as luas”, uma performance de Elisabete Francisca, que, “através de gestos e sons, enuncia uma representação possível da geografia política de um corpo não submisso”.

Na música, o FMD traz, dia 08 de outubro, Bernardo Branco, com “Cantar de Ouvido”, álbum de música popular e urbana que será lançado em breve, e chica, com “as sonoridades do folk, anti-folk e jazz em parelha com o elemento principal da sua música — o diálogo” a encerrar o festival a 15 de outubro.

Além do “ponto de encontro”, que estará na Praça da República de 05 a 07 de outubro e no Cineteatro São Pedro de 10 a 14, voltam as “mesas longas”, com atores e parceiros locais a discutirem temas como “o papel das comunidades de aprendizagem na educação, a conservação dos rios e ecossistemas ribeirinhos, o futuro dos jovens ou o papel das instituições culturais”.

O programa deste ano inclui um seminário sobre “Companheirismo e colaboração — práticas artísticas para a sustentabilidade”, orientado por Carolina Cifras, Simone Frangi e Clara Antunes, e diversas outras iniciativas.