Leia aqui tudo sobre o Campeonato do Mundo feminino de 2023

Ainda antes do Portugal-Vietname, havia dois cenários que podiam na teoria favorecer aquilo que eram (ou são) as aspirações nacionais neste Mundial em relação ao EUA-Países Baixos. Cenário 1: uma vitória das neerlandesas praticamente carimbava o primeiro lugar e permitia à Seleção poder apenas necessitar de um empate caso ganhasse por mais de três golos às asiáticas; cenário 2: um triunfo das norte-americanas, que faria com que Portugal, caso vencesse o seu jogo como acabou por acontecer, pudesse terminar o grupo em caso de vitória com os mesmos pontos das duas finalistas do último Mundial e o desempate a vir dos golos marcados e sofridos. No final, aconteceu o cenário 3 de empate. E ninguém ficou propriamente a rir-se num duelo que colocou em duelo duas jogadoras do Lyon que fizeram faísca mas apagaram tudo no final.

Reforço do Lyon na última temporada, tornando-se assim a única convocada dos EUA para este Mundial que não joga no país, Lindsey Horan iria defrontar agora a companheira de equipa Danielle van de Donk. Não era a primeira vez que se cruzavam em encontros internacionais de seleções, tendo em conta até que estavam no Mundial de 2019 que terminou com a final entre EUA e Países Baixos com vitória para as norte-americanas, era a primeira vez que jogavam depois da primeira época como companheiras de equipa. Após o último apito, sobraram abraços e fotografias, durante a partida chegaram a andar aos insultos e aos empurrões. E essa imagem acabou por ser um espelho do que se passou no jogo: um duelo intenso mesmo que nem sempre bem jogado, com vantagem das campeãs mundiais sobretudo pela sua dimensão física mas com as vice-campeãs mundiais sem virarem a cara à luta – no caso de Van Donk, a acabar com uma touca por uma ferida que não estancava na cabeça. Mesmo não ganhando, os Países Baixos tiveram uma pequena “vingança”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

https://twitter.com/TheAthletic/status/1684606062446727168

Os EUA não demoraram a assumir o seu favoritismo teórico, instalando-se de armas e bagagens no terreno dos Países Baixos ainda a tentar perceber aquilo que o jogo lhe poderia oferecer e criando duas boas chances para inaugurar o marcador num primeiro lance em que Alex Morgan chegou ligeiramente atrasada para um toque final que desviasse a bola para a baliza e pouco depois num remate de Savannah DeMelo ao lado após uma grande jogada coletiva com circulação entre corredores. No entanto, e na primeira ameaça que tiveram à baliza contrária, foram as neerlandesas que marcaram: saída rápida a conseguir saltar a primeira fase de pressão norte-americana, cruzamento cortado para a entrada da área e remate sem hipóteses de Jill Roord para o 1-0 (17′). Mesmo com os EUA por cima, sempre que os Países Baixos conseguiam saltar essa linha e colocavam a bola no espaço entre defesa e meio-campo contrário havia a sensação de potencial perigo, como voltou a acontecer num tiro de longe de Dominique Janssen que passou a rasar a trave.

No segundo tempo, Vlatko Andonovski trocou Rose Lavelle por Savannah DeMelo e o meio-campo dos EUA teve outra consistência, sendo que o empate acabaria por chegar num lance de bola parada: canto à direita do ataque batido ao primeiro poste, entrada de Lindsey Horan como referência em vez da habitual central Julie Ertz e desvio de cabeça para o 1-1 (62′). Entre algumas picardias voltava tudo à estaca zero, sendo que Esmee Brugts ainda teve um remate desviado por Ertz que levava a direção da baliza entre várias oportunidades que as norte-americanas foram desperdiçando até final, entre um golo anulado a Alex Morgan por fora de jogo e uma lance em que Trinity Rodman apareceu nas costas da defesa contrária sozinho mas falhou o alvo.

A pérola

  • Lindsey Horan já tinha sido um dos destaques na partida com o Vietname e voltou a ser no encontro com os Países Baixos. Aliás, basta olhar para forma como entra, como recebe a bola, como joga sempre de cabeça levantada e como coloca onde quer para se perceber que é uma jogadora diferenciada. Fez o empate de cabeça na sequência de um canto (segundo golo neste Mundial), começou várias das chegadas com perigo ao último terço e foi de novo uma das referências do jogo das norte-americanas.

O joker

  • A entrada de Rose Lavelle para o lugar de Savannah DeMelo ao intervalo, naquela que foi a única substituição dos EUA ao longo de todo o encontro, deu outra consistência ao meio-campo das norte-americanas, apanhadas algumas vezes nas transições quando os Países Baixos conseguiam saltar a primeira zona de pressão contrária. Do outro lado, entre as quezílias com a companheira de equipa Lindsey Horan, Danielle van de Donk foi um exemplo de luta no meio-campo e terminou com marcas dessa guerra na cabeça nos descontos, com uma touca para estancar um golpe na cabeça.

A sentença

  • Com o empate na reedição da final do Campeonato do Mundo de 2017, EUA e Países Baixos dependem de si na qualificação para os oitavos, necessitando apenas de um empate na última jornada para terem presença garantida na próxima fase. No entanto, há uma outra nuance que estará também em discussão na última ronda desde grupo E. E se Portugal ainda tem a esperança de surpreender os EUA para seguir em frente nesta estreia em fases finais, os Países Baixos poderão aproveitar o facto de o Vietname já estar eliminado para carregar no acelerador, marcar muitos golos e garantir a primeira posição.

A mentira

  • Quem visse a entrada de Danielle van de Donk sobre Lindsey Horan fora de tempo e perto da linha lateral, a reação em palavras da norte-americana enquanto esperava para voltar ao campo após ser assistida, os empurrões entre ambas na área antes de uma bola parada e a reação de Horan depois de fazer o golo do empate diria que, mesmo sendo da mesma equipa, tinham uma relação que era tudo menos agradável. Afinal, tudo ao contrário: ambas pediram desculpas pelo sucedido, explicaram o que aconteceu no calor do momento e estiveram a trocar abraços e fotografias no final.