O Presidente tunisino Kais Saied demitiu a primeira-ministra Najla Bouden, a primeira mulher a liderar um governo na Tunísia, nomeando imediatamente para o seu lugar Ahmed Hachani, até agora no banco central, divulgou esta terça-feira o chefe de Estado.

Numa mensagem em vídeo divulgada na terça-feira pela presidência, Kais Saied nomeou imediatamente Ahmed Hachani como o novo primeiro-ministro. Ahmed Hachani trabalhou até agora no Banco Central da Tunísia e estudou na Faculdade de Direito da Universidade de Tunes, onde Kais Saied lecionou.

O novo chefe de governo, completamente desconhecido do público em geral, foi imediatamente empossado perante o Presidente Saied, segundo o vídeo da presidência.

Najla Bouden foi nomeada por Saied em 11 de outubro de 2021, pouco mais de dois meses depois de o Presidente ter concedido a si mesmo plenos poderes em 25 de julho, demitindo o então seu primeiro-ministro e congelando o Parlamento.

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Desde este golpe, Kais Saied governou o país por decreto. A Constituição, que foi alterada por referendo no verão de 2022, reduziu muito os poderes do Parlamento em favor de um sistema ultrapresidencialista.

Oposição pede demissão de Presidente da Tunísia depois de “fracasso eleitoral”

Uma nova assembleia de deputados tomou posse na primavera de 2023 após eleições legislativas, no final de 2022, boicotadas pelos partidos da oposição e evitadas pelos eleitores com uma taxa de participação na ordem dos 10%.

Por diversas vezes, nos últimos meses, o Presidente determinou a demissão de vários ministros, inclusive do ministro dos Negócios Estrangeiros, sem nunca dar explicações.

Desde fevereiro, cerca de vinte opositores e personalidades foram presos como parte de uma onda de detenções que também afetou Rached Ghannouchi, líder do partido islâmico-conservador Ennahdha, o principal opositor de Saied.

Estes opositores são “acusados de conspirar contra a segurança do Estado” e Saied considerou-os terroristas. Organizações não-governamentais, incluindo a Amnistia Internacional, denunciaram “acusações vazias”.

O Ennahdha dominou as coligações desde a revolução democrática de 2011, que culminou na queda do ditador Zine El Abidine Ben Ali e deu início à Primavera Árabe em toda a região.

A crise política que a Tunísia atravessa há dois anos é agravada por graves dificuldades económicas: o país está fortemente endividado (80% do PIB), crescimento lento (cerca de 2%), aumento da pobreza (4 milhões de tunisinos em 12 milhões de habitantes) e desemprego muito elevado (15%).