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Cobrafuma. O mundo a fechar e eles sempre a abrir

Este artigo tem mais de 6 meses

As caves que guardam o peso do rock do Norte, os concertos a colecionar cada vez mais gente devota, o primeiro álbum entre o punk e o thrash metal. Ei-lo, o prazer elétrico e distorcido dos Cobrafuma.

Rui Pedro Martelo (baixo e voz), Zé Roberto (guitarra), Miguel Azevedo (guitarra) e Luís Chaka Santos (bateria): os Cobrafuma num dos seus habitats naturais
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Rui Pedro Martelo (baixo e voz), Zé Roberto (guitarra), Miguel Azevedo (guitarra) e Luís Chaka Santos (bateria): os Cobrafuma num dos seus habitats naturais

Rui Pedro Martelo (baixo e voz), Zé Roberto (guitarra), Miguel Azevedo (guitarra) e Luís Chaka Santos (bateria): os Cobrafuma num dos seus habitats naturais

Música como catarse e diversão, como celebração hedonista e, ao mesmo tempo, força de protesto. Foi nesta moldura rock’n’roll que surgiram os Cobrafuma, banda formada por alguns nomes familiares de quem estima a distorção acelerada que se ouve sobretudo em caves bafientas do Norte do país: José Roberto Gomes (Killimanjaro, Black Wizards, Solar Corona), Luís Chaka Santos (Greengo, O Bom, o Mau e o Azevedo, Crypto), Miguel Azevedo (Plus Ultra, O Bom, o Mau e o Azevedo), Rui Pedro Martelo (Greengo e Crypto).

Este quarteto editou, no início de junho, o primeiro disco, homónimo, que se situa algures entre o punk e o thrash metal, com selo da Lovers and Lollypop. “O início dos Cobrafuma remonta a uma altura pré-Covid”, recorda Azevedo ao Observador, através de uma entrevista feita por Zoom. “Já nos conhecíamos todos e já tínhamos feito música juntos, muito também por causa do ambiente das salas de ensaio do STOP. Um dia surgiu um desafio de um amigo, para nos juntarmos e fazermos uns covers, mas, rapidamente, desistimos dessa ideia e passámos a criar as nossas próprias linhas de guitarra”, explicou.

Se a pandemia foi um entrave para inúmeros grupos e artistas, para os Cobrafuma foi uma bênção, uma vez que os permitiu gravar as dez músicas tingidas de Queen Margot e Argus que fazem parte do disco. “A pandemia abalou-nos a todos. As nossas bandas deixaram de tocar e ficámos um pouco preocupados, mas tivemos esta reviravolta que nos permitiu juntar e tocar. Até diria que foi libertador poder criar música e uma banda a meio de uma pandemia”, explica-nos Martelo, enquanto Azevedo abordou como a criação musical “foi a melhor distração possível para este período” e para não ficarem a “deprimir em casa”.

[o álbum “Cobrafuma” disponível na íntegra no Spotify:]

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“Poder chegar a casa e ouvir as linhas de guitarra que alguém enviava para o nosso grupo de Whatsapp era um enorme prazer”, descreveu o guitarrista. “Sentia-me outra vez um puto numa banda de garagem com os seus amigos. Havia um entusiasmo e uma química muito forte. Quem me dera que todos os projetos trouxessem esta sensação. É aí que está a chama da nossa banda”, confessa Azevedo.

O nome do grupo surge do ditado popular brasileiro “a cobra vai fumar”, que quer dizer “algo difícil de ser realizado” e que, caso aconteça, sérios problemas poderão surgir. Na realidade, ninguém na banda conhecia esta expressão, foi algo que Zé Roberto ouviu antes de um ensaio e trouxe para cima da mesa. “Aconteceu aquela sensação de quando escreves um nome num caderno ou fazes um autocolante e passa a ser associado ao projeto. Era uma expressão que fazia todo o sentido com a nossa banda”, disse Azevedo.

E a verdade é que concordamos. Cobrafuma cria um imaginário perfeito para ouvirmos os rápidos riffs de guitarra, os ríspidos vocais e as letras niilistas deste conjunto. “Cheguei a investigar a origem da expressão, mas depois desisti. Acho que não fazia sentido estar a dar demasiado significado a esta expressão. É apenas o nome da banda”, argumentou Azevedo, numa frase que quase podia servir de mantra para o grupo

Os Cobrafuma não querem complicar. São uma banda direta. As letras não têm espaço para grandes metáforas. Aquilo que ouvimos é aquilo que recebemos. São uma banda de rock’n’rol direto, um pouco na escola dos Motorhead. É mais importante o suor que é derramado num moche dos seus concertos do que tentar inventar um riff que ainda não tenha sido tocado pelos Metallica ou pelos Black Sabbath.

Contudo, será também uma injustiça roubar personalidade e densidade aos Cobrafuma. As canções relatam contos de um estilo de vida de excessos (“Coma do Rock”), de muita camaradagem (“Meu Irmão”), aceitar a própria mortalidade, ainda que com algum niilismo (“Buraco”), e estão repletas de mensagens antifascistas (“Na Fina Peneira”). “Uma das maiores curtições desta banda, e que ainda ninguém tinha tido oportunidade até agora de viver assim, é o facto de nos expressarmos em português”, refere Azevedo, aludindo ao facto de que todas as bandas anteriores dos membros de Cobrafuma terem cantado sempre em inglês.

Os Cobrafuma ao vivo no festival Tremor, este ano

Vera Marmelo

“É muito mais imediato quando utilizamos expressões como “buraco” e há expressões que refletem melhor o nosso quotidiano. Temos um verso que foi inspirado por uma frase dita por um amigo que assistiu ao nosso ensaio, durante o confinamento: ‘o mundo está a fechar e eu sempre a abrir’”, recorda o guitarrista entre risos, citando a faixa “Fumo a Fome”.

Em relação à mensagem antifascista do grupo, Azevedo e Martelo assumem que não são uma banda propriamente “ativista”. “Não estamos perto de ser alguém como os Rage Against the Machine”, dizem. “É quase como na lógica de gostar de filmes de terror. Posso gostar de ver pessoas a assassinar outras no grande ecrã, mas não vou fazer isso na vida real. Na música, até posso cantar sobre dar cabeçadas a fascistas, mas não é algo que vá incentivar na rua”, argumenta Azevedo. Contudo, o guitarrista não esconde que “é uma parte dos membros da banda e que gostávamos de imprimir no disco”, reforçando que “é um assunto que nos interessa. “Os poemas estão aí e são diretos. É só agarrá-los”, afirma.

Ultimamente, os músicos têm estado envolvidos numa autêntica luta contra o sistema, fazendo parte do grupo de artistas que manifestam no Porto contra o encerramento do STOP, um centro comercial antigo com centenas de salas de ensaios, que nos últimos dias esteve em risco de ser fechado permanentemente. O Observador não falou com os músicos sobre esta batalha porque a entrevista aconteceu antes destas manifestações. Por enquanto, a situação parece estar mais estável, com duas associações de músicos do Stop a aceitarem, no dia 2 de agosto, a proposta da Câmara do Porto para regressarem ao centro comercial, algo que permitirá aos Cobrafuma regressarem a estúdio onde já estão a maturar algumas ideias para novas músicas.

Mas antes de pensarem em editar um segundo disco, para já, a banda do Porto continua com diversas datas anunciadas, desde o L’Agosto, em Guimarães, este sábado, dia 5 de agosto, o Inferno das Febras, na Lousada, entre os dias 1 e 2 de setembro, ou o MIL, em Lisboa, entre os dias 27 e 29 de setembro, e, apesar do seu curto tempo em atividade, começa já a colecionar relatos de noites memoráveis no palco e à volta dele.

Antes de nos despedirmos do grupo, tivemos oportunidade de falar sobre um dos momentos mais especiais do percurso construído até agora: o concerto nos Açores durante o festival Tremor, num pasto rodeado por uma manada de vacas. “Foi a primeira vez que fui ao festival e rapidamente deu para perceber que é algo muito especial e muito diferente daquela ideia que temos de um festival”, elogiou Azevedo.

“Esse concerto foi fabuloso. Deu umas fotografias incríveis e uns vídeos um bocado surreais. É um cenário que está entre o Senhor dos Anéis e uma festa punk. Houve um rapaz que fez, possivelmente, a melhor review do concerto. Ele disse: ‘Estas vacas aqui à volta vão deixar de comer a relva e vão passar a fumá-la'”, recordou às gargalhadas. “Não foi um concerto fácil. Tivemos uma série de problemas técnicos, mas a possibilidade de tocar naquele espaço, onde nunca imaginámos que seria possível, compensou”, reconheceu Martelo, concluindo que foi um autêntico “momento Kodak”.

 
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