A proposta de classificação como património nacional da “Casa Aleluia”, onde funcionava a sede de Aveiro do PCP, foi indeferida pela Direção Geral do Património Cultural (DGPC), segundo informação avançada pela Câmara de Aveiro nesta quinta-feira.

Durante a reunião pública da autarquia, o executivo tomou conhecimento da decisão da DGPC de não classificar a “Casa Aleluia” como património nacional, após o município liderado por Ribau Esteves (PSD/CDS) ter decidido não classificar o imóvel como património de interesse municipal.

A proposta tinha sido apresentada por Maria João Fernandes, uma das bisnetas do arquiteto Francisco da Silva Rocha, que desenhou a casa situada na Avenida Lourenço Peixinho, e que, desta forma, pretendia evitar a demolição do imóvel.

Segundo a autarquia, a proposta foi indeferida e determinado o seu arquivamento, dado o entendimento da DGPC de que “o imóvel não reúne os valores patrimoniais inerentes a uma distinção como valor nacional”.

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“Esta decisão vem confirmar a correção do licenciamento da Câmara, que foi a demolição total do edifício com a recolha de todos os painéis de azulejos interiores e exteriores para integrarem o banco do azulejo”, disse o presidente da Câmara, Ribau Esteves.

O autarca referiu ainda que a demolição do edifício já começou, tendo sido previamente retirados todos os painéis de azulejo, numa operação que foi acompanhada em permanência pela equipa técnica do município.

De acordo com Ribau Esteves, os azulejos “estão a ser tratados laboratorialmente para retirar o resto das argamassas” e, na segunda-feira, serão entregues à Câmara para que sejam integrados no banco do azulejo.

Em março passado, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Arquitetos (OA) manifestou a sua “veemente discordância” quanto à possibilidade de demolição da antiga vivenda, pertencente à Organização Regional de Aveiro do PCP.

Num comunicado enviado à Lusa, o presidente da Secção Regional do Centro da OA, Carlos Reis Figueiredo, referia que a obra, datada de 1929, da autoria do arquiteto Francisco Augusto Silva Rocha, tinha um caráter “histórico, cultural, estético e autoral” que justificava a sua proteção, preservação e valorização.

“A ausência de classificação do imóvel não pode constituir argumento suficiente para viabilizar a sua demolição”, salientou, na altura, Carlos Reis Figueiredo, defendendo que os poderes públicos com competência na área do património deviam “mobilizar todos os esforços para viabilizar a classificação e proteção imediata deste imóvel”.

“A Vivenda Aleluia, mandada construir por Gervásio Aleluia (um dos proprietários da Fábrica Aleluia) após a abertura da antiga Avenida Central, é representativa de um período tardio da obra de Silva Rocha, aproximando-se do estilo da ‘casa portuguesa’ preconizado por Raúl Lino. A casa integra, igualmente, um valioso património cerâmico e decorativo associado ao legado da indústria cerâmica da cidade”, referia a mesma nota.

O arquiteto Silva Rocha viveu e trabalhou em Aveiro, sendo o autor de um conjunto de obras que contribuíram para a afirmação da cidade no campo da produção arquitetónica, nas primeiras décadas do século XX, possibilitando que atualmente Aveiro seja reconhecida como a cidade-museu da Arte Nova em Portugal.

O PCP, que adquiriu o imóvel em 2014, explicou que o edifício apresentava “problemas recorrentes no seu estado de conservação e sustentabilidade, com exigências financeiras insuportáveis”, o que levou os comunistas a procurar soluções “comportáveis e viáveis” para impedir uma “degradação irreversível”.

Lembrando que o espaço em causa não está classificado, como foi já fora reconhecido pelo antigo Instituto Português do Património Arquitetónico (IPAAR, um dos organismos integrados na DGPC), o PCP diz ter atuado “no estrito respeito” pelos instrumentos de gestão urbanística em vigor no município, procurando, dentro das suas possibilidades, que a solução a encontrar “valorize a cidade e, neste sentido, a salvaguarda dos azulejos presentes no edifício que serão entregues à cidade de Aveiro”.