(Notícia atualizada às 10h45 de segunda-feira com o novo balanço de vítimas mortais)

Já é considerado o incêndio mais mortífero no último século nos EUA, batendo mesmo os incêndios de 2018, no norte da Califórnia, que consumiu a cidade de Paradise, e o último balanço de baixas provocadas pelos incêndios no arquipélago do Havai aponta para um cenário ainda mais desolador: são já 96 os mortos confirmados em Maui, uma vez arrasada a cidade histórica de Lahaina, descreve o The New York Times.

Os números mais recentes foram anunciados na noite de domingo no Havai, já manhã em Portugal. E, mais uma vez, as autoridades locais continuam a alertar que o número de óbitos pode subir “significativamente”, disse o governador Josh Green, já que as equipas de buscas, incluindo cães pisteiros, cobrem apenas 3% da área em causa.

Em paralelo, prossegue o trabalho de identificação das vítimas (outro dos principais desafios nos próximos dias). Cerca de mil pessoas continuam desaparecidas, avançou a senadora Mazie Hirono ao The Washington Post, com as autoridades a apelarem à população que desconhece o paradeiro de alguns membros da família a fazerem testes de ADN em Kahului de modo a agilizar o processo de identificação.

“Os restos mortais que estamos a encontrar passaram por um fogo que derreteu metal. Temos de ter testes de ADN rapidamente para identificar [as vítimas]”, disse John Pelletier, chefe da Polícia de Maui em conferência de imprensa. “Neste momento, todas estas vítimas são John e Jane Does”, usando o nome que é dado a restos mortais sem identidade. Às famílias, deixou um apelo: “Precisamos que façam testes de ADN. Precisamos de vocês para identificar os vossos entes queridos.”

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O chefe da Polícia transmitiu também às famílias para que não tentem chegar às áreas afetadas, avisando que muitos dos restos mortais desintegram-se quando são levantados. Por isso, quem tentar chegar a estes locais pode estar a pisar restos mortais, dificultando o processo de identificação.

Cerca de 1400 pessoas, segundo dados das autoridades de Maui e da Cruz Vermelha local, permanecem agora abrigados em refúgios depois de conseguirem escapar das chamas.

Para responder de forma mais rápida às necessidades de habitação, o autarca de Honolulu, Rick Blangiardi, anunciou na rede social X (antigo Twitter) a suspensão da regra do mínimo de 30 dias para o arrendamento de casas de férias para “aumentar a disponibilidade de habitação temporária em O’ahu”.

“Sabemos que há inúmeros residentes de Maui que vão precisar de um sítio para ficar nas próximas semanas. Estou a contar com os nossos donos de propriedades para arrendamento para manterem essas pessoas como a sua principal prioridade”, disse o autarca.

“Os incêndios serão certamente o maior desastre natural que o Havai já enfrentou”, acrescentou o Governador, dando conta que apesar de as chamas estarem controladas na maior parte do território, continua o esforço para extingui-las de vez em algumas partes da ilha, incluindo em redor de Lahaina.

MNE já conseguiu localizar cidadãos portugueses, mas não exclui que haja desaparecidos

Em declarações à RTP3, este sábado, Tyler dos Santos-Tam, cônsul honorário de Portugal no Havai, admitiu que há lusodescendentes desaparecidos, apesar de as autoridades locais ainda não terem divulgado a lista de vítimas. Já este domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) indicou que já foram localizados alguns dos lusodescendentes que vivem no Havai, mas que o Ministério dos Negócios Estrangeiros sublinha que ainda não está excluída a hipótese de estarem desaparecidos.

Em comunicado, o MNE referiu que “sabe que alguns lusodescendentes já foram localizados, mas não se excluí que ainda existam desaparecidos”. O Ministério garantiu que continua “a acompanhar a situação no Havai, através do Consulado-Geral de Portugal em São Francisco”.

Antes, o MNE tinha confirmado a existência de lusodescendentes desaparecidos na sequência dos incêndios florestais no Havai. “Até ao momento, o Governo [norte-americano] ainda não publicou as listas de vítimas mortais, havendo no entanto conhecimento de membros de famílias lusodescendentes que se encontram desaparecidos”, adiantou, em resposta à Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros no sábado.

“Há cerca de 30 cidadãos nacionais, inscritos no Consulado-Geral de São Francisco, com residência no Havai. A comunidade portuguesa, com dupla nacionalidade, estima-se em cerca de 200” pessoas, referiu o MNE. O MNE esclareceu ainda que a comunidade com herança portuguesa, “estimada em cerca de 100 mil pessoas”, é formada por descendentes da vaga migratória do final do século XIX que não têm nacionalidade portuguesa. Porém, admitiu que na lista de desaparecidos nos incêndios do Havai, já divulgada, “há nomes portugueses de famílias lusodescendentes que não são cidadãos nacionais”.

Há lusodescendentes desaparecidos em incêndios no Havai

Locais consideram que esforços de socorro foram insuficientes

Quatro dias depois do começo dos incêndios, a dimensão dos danos é, de acordo com o Post, cada vez mais clara. Uma avaliação do Pacific Disaster Center estima que mais de 2.207 estruturas foram danificadas e que a grande maioria dos edifícios expostos ao fogo eram residenciais.

Os locais criticam os insuficientes esforços de socorro e a falta de ativação das sirenes de emergência perante o desastre. As autoridades da ilha aconselham a população a beber apenas água engarrafada, já que as estruturas nos sistemas de água do Alto Kula e Lahaina foram destruídas pelo fogo e podem ter causada a entrada de agentes cancerígenos.

Ainda na conferência de imprensa de sábado, Josh Green sublinhou que os ventos fortes de até 81 quilómetros por hora do furacão que fustigou o Havai criaram “circunstâncias incrivelmente intensas e perigosas” para as equipas de emergência que combatem os incêndios de Maui.