Queimada e escurecida, a grande figueira de Lahaina é, por estes dias, emblemática dos incêndios do Havai. A árvore centenária, um dos maiores símbolos da de Maui, ergue-se sobre o território dizimado por aquele que é já o incêndio mais mortífero dos últimos 100 anos nos EUA.
Este monumento cultural situa-se na antiga capital da ilha, local de vários edifícios históricos que foram dizimados pela chamas. Grande parte do território foi consumido, deixando um rasto de destruição e perda de vida humana por onde passaram — até ao momento há 93 mortos a registar, mas o número deve aumentar nos próximos dias. O governador do Havai, Josh Green, descreveu o incidente como “o maior desastre natural” na história da ilha.
A força do incêndio, exacerbada pelo tempo seco e ventos fortes, danificou centenas de casas, locais de trabalho e edifícios de interesse histórico em Maui. Na antiga capital, houve relatos de quem tentasse escapar da fúria das chamas refugiando-se na água. De acordo com a Guarda Costeira, citada pela CBS News, pelo menos 17 pessoas, incluindo duas crianças, tiveram de ser resgatadas do porto de Lahaina.
Plantada em 1873, há precisamente 150 anos, a figueira permanece de pé, mas o efeito das chamas é visível. O que antes era uma árvore imponente e verdejante está agora escura e chamuscada, visivelmente afetada pela passagem do fogo. De acordo com o New York Times, não se sabe se sobreviverá. “Se as raízes estiverem saudáveis, o mais provável é voltar a crescer“, referiram oficiais do condado de Lahaina, que admitem, no entanto, que o estado da figueira deixa dúvidas quanto à sua saúde.
De certa forma, a árvore representa uma ligação do Havai com a sua própria história. O território de Lahaina serviu de capital do Reino do Havai a partir de 1802, por decreto do Rei Kamehameha, que lá construiu o seu palácio real. Assim permaneceu durante quase meio século, até ser substituida como centro político do arquipélago por Honolulu, em 1845.
Durante a primeira metade do século XIX, o estatuto de Lahaina como capital do Havai resultou também na construção de vários edifícios históricos. Entre eles contam-se a escola mais antiga da América do Norte a Oeste das Montanhas Rochosas, que atravessam todo o continente, bem como um farol, erguido em 1840, um centro de missionários protestantes que data de 1834 (e que é hoje um museu) e o tribunal de Lahaina, construído em 1858 e remodelado em 1998.
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A árvore, de mais de 18 metros de altura, foi, ao longo dos séculos, palco de vários momentos históricos. Entre estes contam-se a festa de aniversário do rei Kamehameha III, em 1886, bem como uma cerimónia em 1898 que marcou a anexação do Havai pelos EUA.
Durante décadas, a árvore tem também servido para unir a comunidade, que tem levado a cabo esforços conjuntos no sentido de a fazer crescer, sobretudo através de projetos como o Lahaina Foundation, que gere mais de uma dezena de locais históricos da ilha.
Ao New York Times, o especialista James B. Friday disse ter dúvidas quanto à capacidade de sobrevivência da árvore. “Na minha opinião, não me parece que aquela árvore recupere”, referiu o silvicultor e pesquisador da Universidade do Havai. Outros, como o presidente da Lahaina Foundation, Theo Morrison, defendem que árvores deste tipo “são resistentes” e que, por isso, ainda há esperança.
O mesmo não pode ser dito de outros edifícios históricos e pontos de interesse, como o tribunal ou o centro de restauração e comércio da ilha, parcialmente destruídos por aquilo que as autoridades locais já classificaram como “uma catástrofe”.