Foi exatamente há um ano que Erik ten Hag, acabado de chegar a Old Trafford, enfrentou o momento mais complicado no clube. Enfrentou ele, enfrentaram todos os jogadores. Na sequência da surpreendente goleada sofrida frente ao Brentford, o plantel recebeu nessa mesma noite um email que dava conta de uma alteração de planos. Como recorda o The Athletic, todos deveriam apresentar-se no dia seguinte em Carrington às 9h e não houve nada sequer parecido com treino de descompressão e recuperação após jogo mas sim um circuito de 13,8 quilómetros de corrida mesmo para aqueles que participaram nos 90 minutos da “humilhação” da véspera. A marca do neerlandês começava a ser deixada. Dentro do possível, teve resultados até ao final de uma época onde ainda ganhou o braço de ferro a Cristiano Ronaldo que levou à saída do português.

O plano ligou o botão da autodestruição e perdeu o pouco respeito que restava: United goleado pelo Brentford com Ronaldo titular

Além de ter chegado aos quartos da Liga Europa, os red devils terminaram a Premier League de regresso aos lugares de Champions com um terceiro lugar que dificilmente poderia ser melhor tendo em conta o patamar em que estavam Manchester City e Arsenal, foram à final da Taça de Inglaterra (derrota com o City por 2-1) e conquistaram a Taça da Liga (triunfo frente ao Newcastle por 2-0), quebrando um jejum de cinco anos sem títulos no clube. Nessa altura, em fevereiro, Wout Weghorst, contratação surpresa de janeiro, levantava ainda os quatro dedos como que a mostrar a ambição que a equipa tinha de lutar por todos os troféus da época. Era ambição a mais, claro está, mas esse gesto deixava exposta a viragem conseguida por Ten Hag.

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Se reconstruir o Manchester United em termos desportivos era uma missão muito difícil, até pelo gap criado para os adversários diretos fruto de vários anos de políticas erráticas, o passo seguinte de consolidação do projeto era tão ou mais complicado. Desta vez, o neerlandês não mexeu muito mas mexeu com peso em termos internos: deu mais de 50 milhões de euros para contratar André Onana para a baliza terminando com a era David De Gea, colocou o capitão Harry Maguire na lista de dispensas (estará a caminho do West Ham), apostou em Mason Mount para ter mais uma solução ofensiva que pudesse criar ao lado de Bruno Fernandes e assegurou, à devida escala, o “seu” Haaland possível: o dinamarquês Rasmus Höjlund. O mercado ainda está longe de estar fechado em Old Trafford mas os traços da temporada já ficaram entretanto gizados.

Nem tudo foi perfeito na pré-temporada. Após sinais positivos com Arsenal e Lyon, a equipa perdeu três jogos seguidos na digressão pelos EUA com Wrexham, Real Madrid e B. Dortmund e a apresentação oficial aos adeptos em Old Trafford terminou com vitória frente ao Lens mas erros crassos de Onana e Mount que não demoraram a tornar-se virais nas redes sociais. Em paralelo, Höjlund chegou lesionado e a reintegração de Mason Greenwood após ser absolvido das acusações de violação, conduta controladora e agressão não foi bem aceite por largas franjas de adeptos. Era neste contexto que surgia a estreia oficial na Premier League contra um Wolverhampton em convulsão perante a saída de Julen Lopetegui ainda antes do início da temporada pela falta de contratações e a chegada do antigo técnico do Bournemouth, Gary O’Neil.

As expetativas estavam geradas, a concretização das mesmas é que não apareceu. Apesar de ter mais bola na maior parte do tempo, não foram muitas as oportunidades de golo criadas pelo Manchester United e só um lance de génio de Bruno Fernandes, a picar a bola por cima da defesa para Wan Bissaka assistir Varane para o cabeceamento na área, conseguiu desbloquear o nulo (75′). Depois, foi hora de sofrer. Sofrer e muito, com Onana a tornar-se o herói da vitória pela margem mínima com uma série de intervenções às vezes até à guarda-redes de andebol que evitou por várias vezes o empate do Wolverhampton sobretudo pelos pés de Fábio Silva, avançado português que saiu do banco mas não conseguiu resgatar pelo menos um ponto entre muitos protestos do conjunto visitante por um lance de Onana nos descontos de possível penálti.