Uma universidade jesuíta anunciou que os seus bens foram confiscados pelo governo da Nicarágua, que alegou que a instituição era um “centro de terrorismo”, na mais recente ação contra a Igreja Católica e figuras da oposição.
A Universidade da América Central (UCA, na sigla em espanhol) na Nicarágua, centro dos protestos de 2018 contra o regime do Presidente, Daniel Ortega, disse na quarta-feira que a acusação de terrorismo é infundada e considerou a apreensão um golpe para a educação no país.
Até ao momento, o governo da Nicarágua não confirmou a informação, nem comentou a declaração dos jesuítas.
A ordem jesuíta, conhecida como Companhia de Jesus, disse ter recebido na terça-feira uma ordem judicial sobre a apreensão, que abrange todas as propriedades, edifícios e contas bancárias da universidade.
“Com este confisco, o governo de Ortega enterrou a liberdade de pensamento na Nicarágua”, disse María Asunción Moreno, que foi professora da universidade até ser forçada ao exílio em 2021.
A ordem judicial citava o governo, alegando que a universidade “operava como um centro de terrorismo”.
“Esta é uma política governamental que viola sistematicamente os direitos humanos e parece ter como objetivo consolidar um estado totalitário”, disse a Companhia de Jesus da América Central, num comunicado.
A UCA, uma das faculdades mais conceituadas da região, foi fundada há 63 anos e conta com cerca de oito mil estudantes, assim como o Instituto de História da Nicarágua e América Central, considerado o principal centro de documentação e memória do país.
Desde dezembro de 2021, pelo menos 26 universidades — incluindo sete estrangeiras –foram encerradas e os seus bens confiscados por ordem do governo de Ortega, com procedimentos semelhantes aos usados agora com a UCA.
Em abril, o Vaticano encerrou a sua embaixada na Nicarágua após o governo do país ter suspendido as relações diplomáticas.
Duas congregações de freiras, uma delas a ordem das Missionárias da Caridade fundada por Madre Teresa de Calcutá, foram expulsas da Nicarágua no ano passado.
Além disso, o governo da Nicarágua baniu ou encerrou mais de três mil grupos cívicos e organizações não-governamentais, incluindo, em maio, a Cruz Vermelha, acusada de “ataques à paz e à estabilidade” durante as manifestações antigovernamentais de 2018.
A Nicarágua atravessa uma crise política e social desde abril de 2018, que se acentuou depois de as polémicas eleições de novembro de 2021, nas quais Ortega foi eleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo e o segundo com a mulher, Rosario Murillo, como vice-presidente, e com os principais opositores na prisão.
Ortega, de 77 anos, está no poder há 16 anos e seis meses consecutivos, sendo alvo de denúncias de autoritarismo e fraude eleitoral.