A Fundação Júlio Pomar, criada há vinte anos para guardar e divulgar a obra do artista que morreu em 2018, vai encerrar até ao fim de 2023, e deixará o património artístico ao Atelier-Museu em Lisboa, segundo o presidente, Alexandre Pomar.
Contactado pela agência Lusa, o filho do artista, de 76 anos, disse que foi “acumulando responsabilidades e funções” ao longo de duas décadas, além da gestão do património artístico avaliado em cinco milhões de euros, da edição de livros e da realização de exposições.
A notícia foi avançada pelo jornal Público na sexta-feira, a propósito de uma entrevista realizada no âmbito do lançamento de um livro que Alexandre Pomar escreveu sobre a obra do pai, intitulado “Júlio Pomar. Depois do Novo Realismo”, pela editora Guerra & Paz.
“São várias as razões [para a extinção da Fundação Júlio Pomar]. Eu tenho estado à frente [da gestão] há muito tempo, e não foi possível encontrar administradores para poder continuar“, disse o presidente à Lusa, acrescentando que pretende reformar-se e deixar o património artístico ao Atelier-Museu, inaugurado em 2013 no centro histórico de Lisboa.
Por outro lado, “a fundação já tinha uma escala muito pequena”, inicialmente ainda com um funcionário e com o apoio anual da Caixa Geral de Depósitos e da seguradora Fidelidade, mas “com as restrições financeiras do tempo da troika [quando o país fez um pedido de ajuda financeira externa] acabou totalmente“, recordou.
A Fundação Júlio Pomar foi criada em 2004 para acolher doações da obra do artista, o que veio a acontecer em vários momentos, nomadamente em 2014, quando ainda em vida o autor doou à fundação com o seu nome de cerca de 300 obras, incluindo pinturas, esculturas, desenhos e gravuras.
Nesse conjunto encontravam-se, entre outras, os óleos “Mulheres na Lota”, de 1951, “Ponte de D. Luiz”, de 1962, “Estudo em vermelho”, de 1964, em acrílico e pastel sobre tela, “Mariza”, de 2011, e “Fernando Pessoa e Alfredo Marceneiro”, do mesmo ano.
Na fundação, que também chegou a organizar algumas exposições fora de Lisboa, Alexandre Pomar editou três livros e geriu os direitos de autor do pai, um dos artistas de referência da História da Arte portuguesa do século XX e início do século XXI.
“Nós não tínhamos jeito para ligar a fundação a empresas e a figuras políticas ou das finanças que pudessem estar interessadas em contribuir e dirigi-la. Além disso, há artistas com grandes fortunas, com obras públicas caras, mas Júlio Pomar [1926-2018] não foi um desses, e não tinha empregos paralelos. Viveu apenas do seu trabalho como artista“, disse o presidente.
A fundação vendeu obra gráfica, merchandising diverso, e os direitos de autor, mas os rendimentos anuais “eram pequenos e não davam para ter uma administração profissionalizada ou ter funcionários”, recordou Alexandre Pomar, salientando que o seu trabalho “nada tem nada a ver com o Atelier-Museu, criado por intenção da Câmara Municipal de Lisboa, que paga aos funcionários e à gestão”, com uma direção própria, liderada pela curadora Sara Antónia Matos.
“De acordo com os estatutos, o que ficou previsto é que, extinguindo a fundação, a propriedade das obras doadas passa para o Atelier-Museu e para a câmara” de Lisboa, incluindo o acervo, arquivo de documentação, catálogos, recortes e merchandising.
A expectativa de Alexandre Pomar é que “a Câmara Municipal de Lisboa mantenha o interesse no museu e na divulgação da obra de um artista que teve um papel histórico em vários momentos”, e que a entidade “continue a sua vida” como até agora.
Pomar lembrou que o projeto — que levou mais de dez anos a concretizar-se — recebeu o “apoio de vários executivos, de várias cores políticas”, nomeadamente dos autarcas João Soares, Pedro Santana Lopes, Carmona Rodrigues e do próprio António Costa.