O encenador e ator Luis Miguel Cintra é o foco de um novo documentário. “Verdade ou Consequência?” é o título do filme, realizado por Sofia Marques, que se mostra pela primeira vez a 12 de setembro na Fundação Serralves, no Porto.

Aos 73 anos, o co-fundador do Teatro da Cornucópia (1973-2016), que luta contra a doença de Parkinson, está há vários anos afastado dos palcos. “Onde está a nossa casa? Qual é a nossa verdadeira casa? A casa de Lisboa? A casa do Porto? A casa do Teatro? A casa do Cinema? Como podemos abraçar o mundo, a partir da nossa casa?”, lê-se na sinopse que consta no site de Serralves, que recebe a antestreia na próxima terça-feira, às 22h, no auditório da Fundação. A entrada é gratuita, mas sujeita a inscrição obrigatória online.

“O filme não é sobre o Luis Miguel, é com o Luis Miguel. O Luis Miguel hoje, no presente, agora”, avança Sofia Marques ao Observador. A atriz trabalhava regularmente com a Cornucópia e integrou o elenco de mais de 30 espetáculos, na sua maioria, encenados por Luis Miguel Cintra. Mesmo com o fim da companhia, em 2016, continuou a trabalhar com o encenador, nomeadamente nos últimos espetáculos, em 2021.

Aqui na pele de realizadora, Sofia Marques concretiza uma vontade que nasceu em 2012 de “aprofundar algumas curiosidades” sobre o histórico encenador. “Na altura até cheguei a fazer uns planos para uma ideia de ponto de partida, que até uso no filme agora”, desvenda.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O filme de 106 minutos, produzido pela C.R.I.M. com o apoio do ICA — Instituto do Cinema e do Audiovisual e da Fundação GDA, foi filmado entre Lisboa, Vila Nova de Gaia, Vila do Conde e Madrid. A obra acompanha Luis Miguel Cintra desde 2019. “O filme não é um formato convencional, é uma experiência vivida por mim e que o público ao assistir também vai fazer a sua construção”, revela a realizadora.

O título “Verdade ou Consequência?” é evocativo da peça levada à cena pela Cornucópia em 2012, “Fingido e Verdadeiro ou O martírio de S. Gens, ator”, uma adaptação de Luis Miguel Cintra de “Lo Fingido Verdadero”, de Lope de Vega. “Foi um espetáculo que gostei muito de fazer e que tocou pela primeira vez em assuntos que me fizeram ter vontade de aprofundar algumas curiosidades que eu tinha em relação ao próprio Luis Miguel. [O filme] é o resultado de horas e horas de cumplicidade com o Luís Miguel Cintra”, adianta Sofia Marques.

“Dou por mim à tua procura: do Luis Miguel Cintra que conheci, o do passado. E tu procuras outro diferente de ti, diferente da imagem que os outros fazem de ti. Costumas dizer que inventei este filme para poder estar contigo, e criar uma nova forma de relacionamento contigo. Talvez seja verdade”, escreve a realizadora na sinopse que anuncia este novo, que ainda não tem data de estreia.

Já em 2014, Sofia Marques realizou “Ilusão”, documentário sobre o espetáculo com o mesmo nome que a companhia de teatro apresentou a partir de textos de Federico García Lorca. O filme documenta a direção de 59 não atores e dá a conhecer o processo de criação de Luis Miguel Cintra.

Em 2023 assinalam-se 50 anos de carreira do histórico encenador e ator. Em março, Cintra editou um livro de memorias a que chamou Pequeno Livro Arquivo — pensamento, palavras, actos e omissões (2023, Ed.70). Explora, entre outras coisas, a criação do Teatro da Cornucópia, que fundou com Jorge Silva Melo (1948-2022).