Os caminhos até foram diferentes, a final acabou por ser a mesma. Pela terceira vez consecutiva, a Supertaça feminina voltava a ser discutida entre Benfica e Sporting com uma espécie de desempate entre velhos rivais após o triunfo das leoas no Restelo em 2021 (2-0) e da vitória das águias em Leiria no prolongamento em 2022 (4-1). E havia um outro ponto de interesse: depois de uma série de sete sucessos consecutivos da equipa encarnada em várias competições entre Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça, as verde e brancas conseguiram impor a primeira e única derrota do Benfica no Campeonato em pleno Estádio da Luz na partida que bateu o recorde de público num jogo feminino. Apesar do aparente favoritismo teórico que as atuais campeãs nacionais podiam ter, após uma qualificação nas grandes penalidades frente ao Sp. Braga, também o Sporting mostrou os seus argumentos no triunfo forasteiro diante do Famalicão.

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“Não gosto de apontar favoritos em finais de taças. Claro que temos sempre uma equipa ou outra que poderá estar num momento da época melhor mas não quer dizer que seja favorita. Temos imensos casos de equipas, seja no feminino ou masculino, que até são as equipas que estão mais bem classificadas na época, ou que se apresentam melhor naquela altura, e naquela final daquela competição há uma surpresa. O Sporting tem as suas valências, tem também as suas partes menos boas, nós também. Vai sair vencedora a equipa que for mais competente em todos os momentos e a equipa que cometer menos erros. Costumo dizer que não há grandes surpresas porque as equipas já se conhecem muito bem, mas, no início da época, é possível haver ali uma ou outra nuance, uma ou outra estratégia diferente”, explicara Filipa Patão, treinadora de um Benfica que goleou na fase preliminar da Champions o Cliftonville (8-1) e o SFK Riga (4-0).

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“Quando se disputa uma final, é sempre uma boa semana de trabalho, porque há essa competitividade que é inerente a todos. Uma final tem sempre essa divisão de 50/50, no início de época é sempre difícil e com certeza que nem Sporting nem Benfica estão na sua máxima força. Acho que será um jogo muito dividido e, numa final, é preciso controlar também o fator emocional, não é só a questão física e tática. Vitória na Luz em março? As equipas estão um bocadinho diferentes, acho que esse jogo é passado. Estamos numa nova época, com jogadoras novas, sensações e formas de jogar novas e são momentos diferentes”, salientara Mariana Cabral, treinador do Sporting que deixou também reparos ao dia da decisão: “É uma oportunidade perdida o dia da final. Não é um bom dia e não faz muito sentido a calendarização”.

Sporting vence Benfica conquista Supertaça de futebol feminino pela segunda vez

Agora, o encontro voltou a ser marcado pelo equilíbrio, ficando a ideia de que ambas as equipas poderão vir a render mais no futuro numa final que voltou a a ter decisão após prolongamento depois de a vantagem inicial do Benfica ser anulada pelo Sporting já perto do último quarto de hora mas agora no desempate por grandes penalidades, com as encarnadas a serem melhores nesse particular por 3-0 e a conquistarem a terceira Supertaça feminina da história, ultrapassando as leoas como conjunto com mais troféus (três) num jogo que teve de novo Kika Nazareth como estrela mas terminou com a guarda-redes Lena Pauels como MVP.

E tudo Kika Nazareth mudou: Benfica goleia Sporting com reviravolta no prolongamento e conquista Supertaça feminina

O encontro começou com algumas aproximações com relativo perigo às duas áreas mas sem oportunidades e com o Benfica a voltar a apostar numa linha de três atrás com Christy Ucheibe, Carole Costa e Laís Araújo que permitia aproveitar algumas experiências que foram feitas pela Seleção como a colocação de Lúcia Alves e Catarina Amado a fazerem os corredores e o Sporting com o habitual 4x3x3 mais móvel com Cláudia Neto no apoio às três unidades ofensivas, entre as quais a reforço Maísa Correia (que em posse também se podia transformar numa linha de três atrás, com Ana Borges mais por dentro). Entre o equilíbrio e os momentos partilhados de domínio, Alícia Correia teve o primeiro remate enquadrado para defesa de Lena Pauels numa segunda bola após cruzamento da direita (12′) e Lúcia Alves arriscou também a meia distância descaída na esquerda com a tentativa a sair por cima (14′). Os minutos passavam com o nulo e com outra chance para as encarnadas, com Catarina Amado a ficar perto do desvio após assistência de Marie Alidou (21′).

As encarnadas pareciam ter um maior pendor ofensivo mas seria mesmo o Sporting a beneficiar da melhor oportunidade até ao intervalo: na sequência de mais um canto por uma defesa apertada de Lena Pauels a remate de Brenda Pérez, Ana Capeta aproveitou uma série de ressaltos para desviar para o poste (mais uma vez o poste, como tinha acontecido nos descontos do jogo com os EUA no Mundial…) e Cláudia Neto atirou na recarga para nova defesa da guarda-redes alemã (34′). Kika Nazareth, com um remate forte mas ao lado (42′), e Lúcia Alves, a atirar com perigo para defesa de Hannah Seabert (43′), tiveram as últimas tentativas mas o intervalo chegaria mesmo sem golos e com o domínio repartido entre os dois conjuntos.

Se a primeira parte tinha terminado com bola junto às áreas, o reatamento não foi diferente e de novo com perigo de ambas as formações: Diana Silva atirou para defesa incompleta de Lena Pauels logo aos 46′ e Kika Nazareth quase marcou a seguir num cruzamento que se tornou remate antes da recarga de Catarina Amado isolada para nova intervenção de Seabert (48′). Na sequência do canto, Nycole marcou de forma direta mas o VAR acabou por assinalar uma falta de Carole Costa sobre a guarda-redes leonina (50′). O golo parecia estar cada vez mais próxima e Kika Nazareth confirmou essa “suspeita”: roubo de bola de Catarina Amado, passe para a jovem número 10 e grande jogada individual para o remate cruzado na área que fez o 1-0 (54′).

O Benfica estava melhor após intervalo a todos os níveis mas sobretudo na capacidade de ganhar muito mais segundas bolas e em zonas mais adiantadas, o que ia “secando” aquilo que poderiam ser as saídas verde e brancas à procura do empate ao mesmo tempo que procurava transições rápidas para aproveitar os espaços que iam aparecendo com maior frequência como aconteceu numa saída em que Nycole atirou para defesa de Hannah Seabert (68′). No entanto, a bola parada acabaria por servir de bandeja o 1-1 com Maiara Niehues (que tinha sido o “carrasco” das encarnadas no último dérbi da Luz) a ser lançada na partida para bater um livre direto à trave antes da recarga de Andrea Norheim (74′). Voltava a ficar tudo em aberto, com Andreia Norton a cometer um erro numa receção a meio-campo e a carregar Olivia Smith quando a canadiana seguia para a baliza sendo expulsa antes da revisão no VAR que acabou por “salvar” a internacional (80′).

Cláudia Neto, com um remate de fora da área, ainda obrigou Lena Pauels à melhor intervenção do encontro, num voo para canto que impediu a reviravolta e segurou o prolongamento (84′). O desgaste físicos em várias jogadoras era evidente mas as soluções saídas do banco tentavam fazer a diferença, com Olivia Smith a deixar o primeiro aviso com um remate de fora da área que saiu muito perto do poste (93′), Marta Cintra a desviar de cabeça após livre lateral de Andreia Norton também a ameaçar o golo (97′) e Falcón a surgir sozinha ao segundo poste para um remate que levou Seabert a fazer uma defesa espectacular para canto (98′) antes de um intervalo mais atribulado com um choque de cabeças entre Christy Ucheibe e Diana Silva que deixou a internacional portuguesa com um enorme galo e a ter mesmo de sair (105′). Apesar das tentativas com as poucas forças que restavam, a decisão foi mesmo para penáltis, com o Benfica a ganhar por 3-0 com mais duas grandes defesas de Lena Pauels, o segredo para a mais doce conquista na estreia em Portugal.