Na antepenúltima etapa da Vuelta, ultrapassadas que estavam as maiores dificuldades da competição, as contas da classificação geral pareciam cada vez mais nítidas. Os principais corredores da Jumbo-Visma encontraram o ponto rebuçado da sua relação. O objetivo na equipa neerlandesa, tal como ficou provado em La Cruz de Linares, é garantir que nada acontece ao camisola vermelha, Sepp Kuss, mesmo que para isso Jonas Vingegaard e Primoz Roglic tenham que ser relegados para segundo plano.

O que quase o ‘matou’ foi o que o fez sentir-se vivo: Remco Evenepoel é o rei da montanha na Vuelta

Sepp Kuss não ia ter a liderança da Vuelta minimamente posta em causa na 19.ª etapa. O perfil plano dos 177,5 km da ligação entre La Bañeza e Íscar faziam prever uma chegada ao sprint. Restava saber se, depois da alta montanha, sobravam pernas aos velocistas para disputarem a vitória na tirada, mesmo que não se esgotassem nesta sexta-feira as oportunidades que têm de o fazer, visto que o pior da Volta a Espanha já passou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por se tratar de uma corrida com características diferentes da dos últimos dias, os protagonistas também foram outros. A Alpecin-Deceuninck foi a equipa que mais se preocupou em anular a fuga composta por Paul Lapeira (AG2R), Mathis Le Berre (Arkéa), Michal Schlegel (Caja Rural) e Clément Davy (Groupama). O plano era óbvio e passava por ajudar Kaden Groves a somar mais pontos para a camisola verde. À entrada para a antepenúltima etapa, o australiano tinha 228 pontos, mais 36 do que o segundo classificado, Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step).

Além da esperada chegada ao sprint, existia também uma meta volante a cerca de 20 quilómetros do final. Ao todo, até Madrid um único ciclista podia conseguir no máximo 180 pontos, 70 dos quais estavam em disputa nesta corrida. “Estes finais são sempre muito difíceis de ler”, comentara Kaden Groves. “É claro que vamos [lutar] pelo sprint intermédio, seria bom ter mais pontos para segurar a liderança face ao Remco. Com certeza tentaremos fechar o intervalo [em relação à fuga] antes disso e somar alguns pontos antes do final”, confirmou o corredor da Alpecin-Deceuninck.

Um dos ciclistas que venceu uma das chegadas ao sprint anteriores foi Sebastián Molano e, por isso, a UAE Team Emirates também foi aparecendo na frente do pelotão. Quem sabe não estaria reservado para o português Rui Oliveira mais uma vez a tarefa de colocar o colombiano na melhor posição possível para o ataque à meta. “O Rui fez 80% do trabalho na minha vitória em Saragoça”, reconheceu Molano.

Se a descer todos os santos ajudam, Rui Oliveira fez a sua aparição: Sebastián Molano vence 12.ª etapa da Vuelta

Tal como Groves tinha previsto, a fuga, que nunca esticou a corda mais de 1.20 minutos, foi anulada antes da meta volante. Clément Davy passou em primeiro lugar e somou 20 pontos. Kaden Groves foi segundo e arrecadou 17. Remco Evenepoel, que é o virtual vencedor da camisola da montanha, não se intrometeu entre os lugares que pudessem dar pontos ao belga. Logo depois, Samuele Battistella (Astana Qazaqstan) tentou seguir sozinho na frente, mas o pelotão não permitiu.

A Ineos, com Geraint Thomas a ser a principal cara do trabalho da equipa, procurou colocar Filippo Ganna numa boa posição para vencer, mas o italiano não conseguiu ser o mais forte face à concorrência de Alberto Dainese (Team DSM). Kaden Groves não teve hipótese de lutar pelo primeiro lugar, pois esteve envolvido numa queda dentro dos três quilómetros finais (quando os tempos já estavam neutralizados) e por lá ficaram as intenções que tinha para a corrida.

Num dia tranquilo, o top 10 não sofreu qualquer alteração e os principais nomes da geral não lidaram com complicações. Ainda assim, Ayuso (UAE Team Emirates) teve que lidar com um problema mecânico numa fase precoce da etapa que não pôs em causa o quarto lugar da geral, o primeiro depois do pódio da Jumbo-Visma.