O secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio, desvalorizou esta segunda-feira a quebra de 1% até julho das exportações portuguesas de calçado, considerando que o setor está “a aguentar” o abrandamento económico, com “números residuais” de desemprego e lay-off.

“Estamos a falar numa estagnação do setor, mas em cima de um crescimento de 20% no ano passado. […] Portanto, não estamos perante nenhuma situação de emergência. Aliás, monitorizamos os dados do desemprego e do número de trabalhadores em lay-off na indústria e são números residuais, as empresas estão a aguentar”, afirmou o governante em declarações aos jornalistas à margem de uma visita às empresas portuguesas que, desde domingo até quarta-feira, participam na feira de calçado MICAM, em Milão, Itália.

Segundo recordou, na visita que fez às empresas presentes na última edição do certame, em fevereiro, estas “diziam que se vendessem o mesmo que no ano passado ficavam contentes”, sendo que “é aquilo que está a acontecer”.

Contudo, minutos antes o secretário de Estado ouviu do empresário Rui Oliveira, da Fábrica de Calçado da Mata, de Ovar, que o setor “está no limite” e que se impunham medidas como uma redução urgente da Taxa Social Única (TSU) em setores de mão de obra intensiva, como é o caso do calçado.

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“Não sou contra o aumento do salário mínimo, de todo, mas tem que haver um cuidado com as indústrias de mão de obra intensiva, porque o fator trabalho pesa muito no valor final”, afirmou Rui Oliveira, recordando que as empresas “ainda estão a viver as consequências da Covid”, encontrando-se “cheias de dívidas” e “com o mercado a reagir de forma adversa, com o consumo a diminuir e uma cadência menor de encomendas”.

Em resposta aos jornalistas, Pedro Cilínio reconheceu que “o contexto de mercado não é fácil”, dada a “política monetária que tem sido seguida, principalmente pelo BCE [Banco Central Europeu]”, mas salientou que o Governo está “a mobilizar novos apoios para permitir que as empresas atravessem este período conturbado”.

Por outro lado, salientou que as empresas “têm de estar mais atentas ao comportamento dos mercados”, procurando diversificar as exportações para países “que não estejam no mesmo ciclo económico” e “estar em segmentos mais elevados, onde o impacto da crise não é tão forte”.

O governante recusou “estigmatizar empresas ou segmentos”, notando que no setor do calçado existem “muitos segmentos e muitos tipos de atividades” e que, por exemplo, “falar de calçado ou de componentes será diferente”, assim como “falar de calçado desportivo ou de calçado clássico”.

Estes segmentos, muitas vezes, têm ciclos diferentes de comportamento. Por exemplo, o calçado clássico — e o mesmo acontece no vestuário — está a ter um comportamento mais favorável do que o calçado informal”, enquanto durante a pandemia “o que aconteceu foi um consumo de calçado informal bastante significativo, que criou também oportunidades de negócio”.

Para o secretário de Estado, o importante é “ajudar as empresas quando existe esta incerteza, para que mantenham a sua capacidade produtiva e tenham tempo para respirar, olharem para o mercado e perceberem como é que vão reajustar a sua estratégia”.

“Novos mercados, novos segmentos, é importante ganhar essa folga. A aposta na sustentabilidade e na automação, por exemplo, são dois temas que são críticos para a competitividade do setor”, enfatizou.

Relativamente ao Orçamento do Estado para 2024, Pedro Cilínio lembrou que ainda está “a ser discutido no âmbito da concertação social”, mas que, “no âmbito do Plano de Estabilidade”, o Governo “já assumiu uma redução fiscal”, sendo que “a prioridade foi dada ao IRS”.

“Aliás, as próprias associações patronais também solicitaram que a prioridade ocorresse nesse tema e, portanto, é nesse ponto que está a ser feita a negociação”, rematou.