Uma entrevista, três grandes ideias, um sem número de reações. Depois de um arranque a todo o gás nesta nova aventura na Catalunha pelo Barcelona, João Félix tornou-se de forma quase natural como um príncipe novo entre o conjunto de Xavi Hernández deixando para trás aquela imagem do jogador que foi imposto pelo agente Jorge Mendes por não ter mais nenhuma saída e passando a ser encarado como o jovem em busca de uma segunda oportunidade no futebol depois da época de aparecimento no Benfica em 2018/19 que cumpriu o sonho de jogar no clube que desde pequeno desejava. Para isso muito contribuíram os três golos e mais uma assistência nas duas últimas goleadas frente a Betis e Antuérpia, para isso também contribuiu aquela que foi a primeira passagem pelo Palau para assistir ao duelo da Champions de andebol.

As saudades que nós tínhamos, João: Barcelona goleia Antuérpia com dois golos e uma assistência de Félix

Ideia 1 do português em entrevista ao Mundo Deportivo esta quinta-feira: nem o próprio esperava que fosse possível arrancar de forma tão positiva. “Acreditava, e ainda acredito, que este é o sítio ideal para mim mas na verdade as coisas estão a ir muito bem, não espera até que corressem tão bem. Agora é esperar que continue assim até ao final. O que me disse Xavi? Desde o primeiro dia que possa jogar para desfrutar, que jogue com alegria e que ponha o meu futebol em campo. Claro que também me pede as questões táticas mas sobretudo que desfrute, que me divirta e é isso que tenho tentado fazer”, disse João Félix.

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João, renascido como uma Fénix: “Renunciei a uma quantidade significativa de dinheiro para vir para o Barcelona”

Ideia 2: tinha de sair do Atl. Madrid para poder reencontrar o seu futebol. “Como é possível não ter vingado no Atl. Madrid? Bem, é algo que está claro para todos mas o futebol é assim, quem está mal só tem de mudar de sítio. Fiz antes isso com o Chelsea e fiz agora com o Barcelona por não estar bem ali. Não me adaptei às ideias do clube e do treinador mas tentei sempre dar o melhor que podia e também passei momentos muito bons ali. O que estarei disposto a fazer para ficar? Bem, por mim depende de como terminar a temporada. Depois é o Barcelona que tem de negociar com o Atl. Madrid e isso depende do Atl. Madrid, se quer ou não facilitar as coisas. Mas isso são coisas de negócios, valores, não me meto”, destacou.

Ideia 3: abdicou de muito em termos financeiros para “comprar” o bilhete que lhe permitisse entrar numa das maiores salas de espectáculos do futebol europeu e mostrar aquilo de que é capaz de fazer. “É verdade que renunciei a uma quantidade significativa de dinheiro para a minha vinda mas necessitava de mudar, necessitava de um sítio onde pudesse praticar o meu futebol. Sempre acreditei que este seria o sítio ideal para mim. Tinha mesmo de fazer esse esforço para voltar a ter alegria em jogar futebol”, salientou.

Se aquilo que ia fazendo em campo numa série a marcar que até começou antes na goleada de Portugal frente ao Luxemburgo era o melhor cartão de visita possível para sentir o Montjuïc como há muito deixara de sentir o Metropolitano do Atl. Madrid (aliás, no primeiro encontro oficial foi assobiado e depois insultado), essa entrevista a um dos meios desportivos catalães acrescentou ainda mais uma dose de empatia à relação que se começa a criar. “João Félix mudou de equipa e converteu-se num outro jogador. O que mostra não se chama magia, chama-se futebol. O futebol com que os futebolistas devem nascer, um dom que se vai sublimando com o tempo. E o dom é moldável a todo o tipo de influência. A mais poderosa chama-se confiança e tê-la ou não pode elevar o talento até ao limite máximo das possibilidades ou até à mediocridade mais exasperante”, escrevia este sábado Jorge Valdano, numa opinião no El País publicada no jornal A Bola. No entanto, além do avançado, também há João Cancelo. E aquilo que o lateral fez foi mesmo de herói.

Cedo se percebeu que não seria um encontro fácil para os catalães como aconteceu frente ao Betis, com João Félix e companhia a terem algumas aproximações com algum perigo a falhar de forma teimosa no derradeiro passe e o Celta de Vigo a explorar da melhor forma as saídas em transição. Assim, e entre esse duelo de dois estilos diferentes com mérito igual, acabaram por ser mesmo os visitantes a inaugurarem o marcador por  Strand Larsen após uma insistência de Luca de la Torre após canto com Christensen a colocar o avançado norueguês em jogo (19′), já depois de Ter Stegen ter tirado a Iago Aspas o golo com uma grande defesa (18′). Mais: apenas uns minutos depois e quando o Barcelona estava ainda a tentar perceber o que tinha falhado no 1-0, Bamba apareceu sozinho na área mas a assistência saiu demasiado atrasada (22′).

Esse seria o grande desafio dos catalães pelo menos até ao intervalo, quando Xavi Hernández podia mexer de forma mais estrutural na equipa a explicar o que estava a ser mal feito: como tentar subir linhas, arriscar mais e procurar o empate sem descurar as transições defensivas perante um conjunto de Vigo sempre a olhar para as saídas rápidas? João Félix, por duas ocasiões, tentou ter a resposta mas o primeiro remate saiu por cima após assistência de Gündogan (23′) e o segundo não apareceu porque a receção foi demasiado para a frente na área (28′). Assim, o intervalo chegaria mesmo com o Celta de Vigo na frente e a desperdiçar mais uma oportunidade flagrante na área daquelas que mais tarde na partida poderiam fazer falta…

Ao intervalo, já depois de ter trocado Frenkie de Jong (que chegou a andar a coxear em campo) por Gavi, Xavi arriscou com as entradas de Robert Araújo e Lamine Yamal para as saídas de Marcos Alonso e Oriol Romeu mas as características da partida mantiveram-se. Aliás, percebia-se que só muito dificilmente o 1-0 iria manter-se com essa dúvida se era o Barça a chegar ao empate perante a multiplicação de unidades na frente ou se era o Celta que aumentava e quase “acabava” com as contas. Araújo, com uma “bomba” de meia distância, deixou a primeira ameaça catalã antes de Ferran Torres falhar isolado após combinação entre João Félix e Gündogan (64′) antes de novo remate que saiu à malha lateral. Seria mesmo na melhor fase da equipa da casa que os galegos iriam aumentar a vantagem, numa saída rápida concluída por Douvikas (76′).

O jogo parecia mesmo acabado mas foi na fase em que poucos acreditavam que o Barça reentrou no jogo, com João Félix a ter uma picadinha por cima dos centrais do Celta de Vigo para isolar Lewandowski e o polaco a reduzir num remate que bateu ainda na trave (81′). Estava dado o mote para minutos finais onde tudo podia acontecer e o cenário assim ficou ainda mais quando João Cancelo conseguiu encontrar o espaço entre central e lateral para fazer a desmarcação de rutura e assistir Lewandowski para o empate (85′). E não ficaria por aí: em mais um lance em que o internacional português demonstrou sobretudo coragem pela forma como arriscou uma subida à área contrária para desviar de primeira e fazer a reviravolta (89′).