Os países europeus que mais dependem da indústria automóvel pressionaram a União Europeia (UE) para aceitar os combustíveis sintéticos neutros em carbono – produzidos sem recurso a derivados de petróleo, mas sim a carbono capturado da atmosfera e a hidrogénio produzido a partir da electrólise da água – como combustíveis limpos, equiparando-os a veículos eléctricos a bateria ou a fuel cell. Esta pressão deveu-se ao peso da Alemanha na UE, onde é o maior contribuinte, mas tratou-se igualmente de um abuso, uma vez que os e-fuels são neutros em carbono, mas poluem sempre que são queimados, o que significa que contribuem para deteriorar a qualidade do ar no centro das grandes cidades onde a concentração de veículos é maior.

O ministro alemão dos Transportes, Volker Wissing, tem sido o mais vocal em favor dos e-fuels, advogando que estes combustíveis – estamos a falar de gasolina ou até de gasóleo sintéticos – ajudam a reduzir o carbono, apesar disto ser uma falsidade, uma vez que apenas evitam que aumente, o que é diferente. O que Wissing poderia assumir é que os e-fuels permitem que algumas marcas continuem a vender os motores actuais, sem necessidade de investir mais, incrementando os lucros à custa da saúde.

A União cedeu às exigências dos construtores nos países onde estes empregam milhares de trabalhadores e os seus impostos fazem girar a máquina fiscal, mas ainda faltava um detalhe que era forçoso ultrapassar para que esta gasolina sem vestígios de petróleo fosse economicamente competitiva, uma vez que o preço dos e-fuels depende do volume de produção. Para pressionar a UE, os germânicos, que por sua vez estavam a ser empurrados sobretudo pela Porsche, bateram-se pela equiparação dos e-fuels aos carros eléctricos em termos ambientais, mas, para o combustível produzido em laboratório ser viável, é necessário uma produção brutal, no mínimo à escala europeia, com todos os países a comprometerem-se com este objectivo, o que aparentemente esteve longe de acontecer.

De acordo com o jornal europeu Politico, quando chegou a ocasião de apoiar os e-fuels, apenas a República Checa, o Japão e Marrocos secundaram a Alemanha, muito pouco para o que o líder da economia europeia pretendia. O objectivo era dividir pelo maior número possível de países a factura relativa ao desenvolvimento dos e-fuels, bem como das várias instalações onde o produzir em quantidade necessária para alimentar milhões de veículos. O falhanço a este nível levou a Alemanha a retirar a proposta e a desistir dos planos para incentivar a produção dos combustíveis sintéticos.

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