Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, foi atacado em palco com tinta verde na abertura de uma conferência da CNN Portugal Summit que decorria esta terça-feira de manhã no hotel Pestana Palace, na Ajuda, em Lisboa. A emissão online foi interrompida e os trabalhos só recomeçaram 20 minutos depois.
A conversa com o ministro acabara de começar quando o governante, de camisa branca, foi atacado por ativistas com tinta verde. A CNN Portugal Summit decorre esta terça-feira sob o tema “A nova energia é verde”. A CNN partilhou um vídeo do momento.
“Sem futuro não há paz”, gritaram três jovens que subiram a palco, antes de serem intercetadas por agentes de segurança pessoal. “O nosso futuro não é um negócio”, continuaram. “A Galp e a EDP não querem saber da transição energética.” O evento, escreve a CNN, é patrocinado pela Galp e pela EDP.
No vídeo é visível que as jovens tinham caixas de ovos nas mãos, onde transportariam ovos com tinta.
Ministro fala em “compreensão com geração que quer fazer ouvir a sua voz”, ativistas dizem que propostas do Governo estão “longe do necessário”
Cerca de 20 minutos depois, a conversa foi retomada. “Pelo menos a cor acertaram, que é verde, que é uma cor que eu aprecio”, disse o ministro, que entretanto trocou de camisa.
Em reação ao que tinha acabado de acontecer, Duarte Cordeiro afirmou que “a intolerância nem faz as outras pessoas estar mais despertas para os nossos argumentos, não serve calar os outros, nem serve para intimidar quem, como eu, exerce funções públicas”. “A intolerância não é caminho para lado nenhum, devemos rejeitar a intolerância e não nos devemos deixar intimidar, essa é a posição de princípio que qualquer membro do Governo deve ter”, afirmou.
Para Cordeiro, “é preciso saber distinguir um manifestante que adota este tipo de argumento” de outros “jovens que estão preocupados com o seu futuro”.
Questionado sobre a radicalização do discurso e da ação do ativismo climático das novas gerações, Duarte Cordeiro lembrou o protesto que aconteceu à entrada do Conselho de Ministros na última semana. “A reação que o ministro do ambiente teve relativamente a essa manifestação foi de compreensão com uma geração que quer fazer ouvir a sua voz e que quer que os governos acelerem quilo que são as suas metas”, afirmou. “Esta semana estivemos muitos de nós na Assembleia Geral da ONU, numa cimeira da missão climática, exatamente para os países se comprometerem com metas mais ambiciosas”, continuou. “O nosso país tem procurado responder sabendo nós que em muitos aspetos estamos aquém das metas mais ambiciosas”, reconheceu, exaltando porém que Portugal foi “o primeiro país do mundo a assumir a neutralidade carbónica para 2050”.
Duarte Cordeiro defendeu ainda que a descarbonização deve ser feita com as empresas de energia que foram o alvo deste protesto e não contra elas. E no final da sessão quando questionado sobre se esta ação ia alterar a sua presença em eventos sobre o tema, respondeu: “De forma alguma”.
“Esta conferência é uma fachada para limpar a imagem das empresas que em Portugal estão a lucrar com as crises climática e de custo de vida”, afirma Matilde Ventura, porta-voz desta ação, num comunicado a que o Observador teve acesso. Matilde é uma das jovens envolvidas no incidente organizado por estudantes que pertencem ao coletivo Greve Climática Estudantil.
“O Ministro provou com a sua presença que prefere compactuar com os criminosos que nos estão a levar para o colapso do que garantir que nós, jovens que nascemos em crise climática, temos um futuro”, lê-se no mesmo documento. “O Ministro diz que respeita as nossas ações, mas se ele nos respeitasse cumpria aquilo que a ciência dita como necessário. Se respeitasse os jovens não tentava limpar a imagem das empresas que estão a condenar o nosso futuro. Conhecemos as propostas deste ministro, estão todas longe do necessário”.
No mesmo comunicado, os estudantes do coletivo prometem continuar a “não dar paz ao Governo”, e anunciam que vão voltar com uma onda de ações “pelo fim ao fóssil” a partir do dia 13 de novembro, com ocupações nas escolas e a “perturbação do normal funcionamento das instituições”.