O “maior pesadelo” do governo, o seu “grande calcanhar de Aquiles”, aquele que vai ser o seu “maior problema até ao fim do mandato”. No seu habitual comentário semanal no jornal da noite da SIC, Luís Marques Mendes enumerou este domingo aqueles que considera os quatro grandes erros do governo de António Costa na questão da habitação, que este sábado esteve especialmente em foco, com manifestações em mais de vinte cidades do país a reunir dezenas de milhares de pessoas nas ruas.

Começou na inação — “O Governo leva 8 anos de funções, até há um ano, até ao PRR, praticamente não investiu na habitação, desvalorizou a habitação. Não tem obra, que é a prova dos 9” —; e continuou depois para a questão do programa Mais Habitação, e para os três erros que identifica nesse processo. “Percebeu-se logo que estava mal estruturado, mal pensado e mal apresentado. Em vez de incentivar os investidores, assustou-os”, determinou, para depois apontar o dedo diretamente a António Costa e o acusar de ter querido afrontar Marcelo Rebelo de Sousa em vez de investir num pacto para a habitação.

Há uma guerra entre o primeiro-ministro e o Presidente da República e António Costa preferiu bater o pé ao presidente em vez de pensar no país, porque um acordo era bom”, disse o comentador.

“Não teve a lucidez de perceber que ter um acordo com o PSD e com os outros partidos era bom, dava confiança ao setor. E, por outro lado, partilhava a sua responsabilidade. Assim ficou sozinho, ficou isolado“, continuou, para depois passar a uma espécie de síntese do atual estado da habitação em Portugal — “Há poucas casas no mercado, as que há têm preços quase pornográficos, e o crédito à habitação é um pesadelo. Isto não se vai resolver de um dia para o outro”.

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Outro problema em que se focou — e que o governo tem também a braços, igualmente sem solução fácil à vista, considerou, estabelecendo um paralelo com a questão da habitação — é o da saúde. “Nesta matéria da saúde anda muita gente a assobiar para o lado, e todavia podemos ter serviços de urgência de vários hospitais a romper pelas costuras nos próximos dias, porque os médicos não querem fazer mais horas extraordinárias“, vaticinou.

“Os médicos estão cansados, desmotivados e mal pagos. São a coluna vertebral do Serviço Nacional de Saúde. Mas sentem-se maltratados”, descreveu, para depois passar à comparação dos números atuais com os de há 8 anos.

Há mais dinheiro no orçamento, comparado com 2015. Há mais 6 mil milhões de euros no orçamento da saúde e há mais 31 mil profissionais de saúde. Mas e as listas de espera para cirurgia? Diminuíram? Não; aumentaram, há mais 52 mil pessoas em lista de espera. E há mais 600 mil pessoas sem médico de família. Qual é a conclusão? Não chega despejar dinheiro em cima dos problemas”, determinou.

Sentado à mesa colocada este domingo no camarote presidencial do Coliseu de Lisboa, onde logo depois de um jornal da noite especial arrancou a gala dos Globos de Ouro, Luís Marques Mendes não respondeu à provocação da jornalista Ana Patrícia Carvalho, que lhe perguntou como se sentia ali, num piscar de olho às declarações que há pouco mais de um mês fez, no mesmo espaço de comentário, admitindo uma candidatura a Belém. “Senti-me lindamente, o local não é o mais importante”, foi como desviou e encerrou o assunto.

Minutos antes, o comentador tinha elogiado Duarte Cordeiro, pela postura que exibiu esta semana, quando foi atacado por ativistas climáticas, num evento organizado pela CNN Portugal. “Portou-se especialmente bem, com nível, com qualidade, com seriedade e com autoridade”, considerou sobre o ministro do Ambiente e da Ação Climática.

Já sobre João Gomes Cravinho e os casos de corrupção que têm vindo a público sobre o tempo do atual ministro dos Negócios Estrangeiros quando era titular da pasta da Defesa, Luís Marques Mendes não podia ter tido um discurso mais contrário. “Claro que não há sinal nenhum de atos de corrupção praticados pelo ministro”, teve o cuidado de frisar, “o problema é a muita negligência do ministro a dar cobertura a um conjunto de pessoas envolvidas em atos brutais de corrupção”, acusou. “É uma questão de tempo, vai ter de sair. Isto vai apertar e isso vai tornar-se inevitável.”