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A química de Brie Larson numa lição de drama televisivo

Este artigo tem mais de 1 ano

“Lessons In Chemistry” (Apple TV+) capta o essencial do livro e da TV de sucesso da última década e conta a história de uma mulher que quer mudar o (seu) mundo — com uma das interpretações do ano.

Formada em química, Elizabeth Zott soube da pior forma que nunca conseguiria tirar um doutoramento se não cedesse às piores normas de um universo científico dominado por homens. Daí à televisão foi um salto improvável
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Formada em química, Elizabeth Zott soube da pior forma que nunca conseguiria tirar um doutoramento se não cedesse às piores normas de um universo científico dominado por homens. Daí à televisão foi um salto improvável

Formada em química, Elizabeth Zott soube da pior forma que nunca conseguiria tirar um doutoramento se não cedesse às piores normas de um universo científico dominado por homens. Daí à televisão foi um salto improvável

Ao longo deste ano, a Apple TV+ tem caprichado em três coisas: na adaptação de romances, com City On Fire (Garth Risk Hallberg), Changeling (Victor LaValle) ou Silo (Hugh Howey) — adaptações tão boas que até se desculpa acidentes como The Last Thing He Told Me (Laura Dave); em não ter medo de renovar uma série através de um episódio ou de um súbito desvio de percurso; e em convidar o espectador a ficar até ao fim, mesmo (ou sobretudo) se o que estamos a ver não é bem aquilo que esperávamos. Talvez por ter um catálogo dedicado apenas a produções próprias e, por isso, menos extenso, olhemos para a Apple TV+ como o parente pobre dos serviços de streaming. Não é. Pode até estar a caminho de ser aquilo que a HBO foi em tempos (e ameaça deixar de ser). 2022 já tinha avisado com Severance e Bad Sisters (a melhor cura para qualquer ressaca de Big Little Lies), mas 2023 está a ser o ano da Apple TV+.

Último trimestre e a coisa não abranda. Lessons In Chemistry é surpreendente bom. A surpresa vem com preconceito, em parte devido à sinopse da série. Uma adaptação do romance de Bonnie Garmus, apresenta-se como uma série sobre uma química entre as décadas de 50 e 60 que resolve ter um programa de televisão sobre culinária que se torna um sucesso nacional entre as mulheres. E isto de facto acontece, mas depois de ver os oito episódios percebemos que há algo mais (quem leu o livro certamente que também o percebeu).

O programa surge a meio da história e apesar de ser bastante relevante em dois episódios, é ruído de fundo nos dois seguintes (os últimos) e no plano geral das coisas funciona como uma espécie de cenário que a protagonista usa para explorar ideias sobre a vida e a sociedade. A questão é que o espectador — o da série — sente isso na personagem a cada momento, por isso o efeito maior que o programa de televisão teria, esfumaça-se, existe só para consumo interno dentro da própria ficção. Isso é negativo? Não, nem por isso, mas quem for só à procura do que vem na sinopse poderá sentir-se enganado. Mas é um engano que não impede a surpresa. A ótima surpresa.

[o trailer de “Lessons in Chemistry”:]

Mas quem dá estas lições de química? Elizabeth Zott. E Brie Larson veste-a com uma força intimidatória. A atriz carrega Lessons In Chemistry às costas, apesar das muitas mais valias da série. Larson encarna uma mulher emancipada que não parece temer as regras não escritas — e as escritas — que tornam a sociedade desigual. Formada em química, soube da pior forma que nunca conseguiria tirar um doutoramento se não cedesse às piores normas de um universo científico dominado por homens. Já no mundo laboral, cada dia é uma luta para que a vejam — até pelas outras mulheres — como mais do que uma ajudante ou secretária. Ela é uma cientista e quer ser tratada como tal.

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A única pessoa que a reconhece assim é Calvin (Lewis Pullman), um cientista brilhante, desajustado das regras do jogo e visto como um esquisito pelas restantes pessoas. Algo de desviante torna-o relativamente próximo de Zott e o modo como a relação de ambos se desenvolve ao longo dos episódios faz parte da ideia de química da série. Ideia essa que poderia descambar para o foleiro, mas que tem aquele tom certo que This Is Us, por exemplo, também tinha, tornando a coisa funcional para a narrativa — humana, e pouco pregadora.

À semelhança de This Is Us, Lessons In Chemistry abarca grandes lutas — questões raciais, igualdade de género, no trabalho e na sociedade — em paralelo com as pequenas lutas caseiras e domésticas. Por isso, sentem-se as coisas lado a lado, o “grande” nunca toma conta do momento porque faz parte das qualidades das personagens e a coisa flui, rumo à lógica e não a qualquer coisa forçada. E é por isso que não nos devemos forçar a ver esta narrativa como a história de um programa de televisão.

Não se sabe o que esperar e, melhor, é impossível de adivinhar como Zott irá surpreender, uma mulher que vence a sua própria época, numa ficção que manuseia a realidade e que liga bem o passado e o presente

A série é sobre Zott, as pessoas à sua volta e uma época específica. Por vezes, a ideia é a de um biopic sobre uma figura feminista do século XX. Zott é uma personagem ficcional baseada num misto de factos e romance de uma América específica. Zott, na série tal como no livro, é apenas uma ideia, uma amálgama de figuras e atitudes que existiram nas fronteiras da época representada na televisão. Brie Larson dá-lhe todas as condições para brilhar nesta série, é tudo aquilo que se exige da personagem ao longo dos oito episódios, uma química que não cumpre o seu sonho e que encontra sucessivas formas de se manter viva e de ir tentando mudar a sociedade onde vive.

Após dois episódios que servem de introdução a Zott e Calvin, Lessons In Chemistry segue uma forma livre nos seguintes, mudando de narrador e perspetivas conforme a necessidade. A história é algo linear, mas estas opções dão-lhe um ar fresco sempre que se começa um novo episódio: não se sabe o que esperar e, melhor, é impossível de adivinhar como Zott irá surpreender, uma mulher que vence a sua própria época, numa ficção que manuseia a realidade e que liga bem o passado e o presente.

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