A cartada socialista num evento social-democrata voltou a ser jogada, mais uma vez recorrendo a Francisco Assis (já tinha acontecido na Universidade de Verão de 2022) que esteve nas Jornadas Parlamentares do PSD a jurar que “nunca” será “inimigo” do partido. É presidente do Conselho Económico e Social (CES), mas sublinhou que também ali estava o militante socialista e que, por isso mesmo, haveria desacordo. Mas nem por isso. A sala social-democrata aplaudiu-o muito, ainda que não se tenha manifestado tanto quando o socialista fez por puxar o PSD para o centro.

Assis viu “um certo respeito” no convite do PSD “e até um certo risco”, pelo potencial de divergência, mas o socialista não ia para isso. Até chegou a dizer que “não é de excluir” que volte a ser adversário do PSD, num futuro pós-CES, garantido já uma coisa: “Não sou nem nunca serei inimigo do PSD. O PSD, tal como o PS, é um partido estruturante da nossa vida democrática”. Tem sido um defensor de acordos ao centro — tendo mesmo ficado sozinho no PS contra a geringonça — e é para aí que tenta trazer os social-democratas, começando por um tema de alta sensibilidade à direita, a imigração.

“Essa vai ser uma área de fricção com os populistas e não podemos ceder“. O socialista avisa que existe “obrigação e interesse” português em integrar os imigrantes, numa altura em que falta mão de obra e quando é reconhecida a dificuldades que os emigrantes tiveram quando saíram do país. “Temos de estabelecer consenso“, considerou, desafiando o PSD e alertando para “o grande risco de os democratas derrotarem a democracia, se não forem capazes de entender que há determinados princípios constitucionais que os unem e determinados distanciamentos que são negativos”.

Voltou a puxar pelo PSD — o partido que “está convencido que estará sempre à altura das responsabilidades” — quando disse que a “sensibilidade social não é um tema exclusivo” do espaço político em que se inclui. A sala gostou de ouvir e aplaudiu, bem como quando Assis falou na “percentagem significativa de pessoas que em Portugal ganham salário miseráveis”. “Não pode haver trabalhadores pobres”, atirou, provocando uma onda de palmas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para o socialista, o crescimento do salário médio “foi moderado” e há até “um ligeiro empobrecimento em alguns sectores da sociedade portuguesa e isso pode criar problemas muito grandes”, advertiu. E houve mais críticas à gestão governativa — e consequentes novos aplausos do PSD — quando falou do Estado Social e em muito particular do Serviço Nacional de Saúde.

“Não nos podemos contentar com um aumento de 40% da despesa no SNS e não notar a qualidade dos serviços”, atirou o socialista apertando com o Governo do seu partido que tem embandeirado com o investimento feito na saúde durante o seu período de governação. “Não é um problema de dinheiro, tem outras componentes, tem também problemas de gestão“, afirmou para gáudio social-democrata que só não aplaudiu mais porque logo de seguida o socialistas convocou o PSD para essa tarefa: “Todos os partidos têm de participar neste debate. Não é uma responsabilidade só de quem está no Governo“.

Esteve menos alinhado no PSD sobre a necessidade de um choque fiscal. Francisco Assis disse mesmo que não o defende e preferia ver esse debate feito fora dos orçamentos do Estado. Foi um dos temas centrais do PSD no período que antecedeu a apresentação da proposta de OE por parte do Governo, pressionando os socialistas ao apresentar propostas que devolviam mais de mil milhões de euros já este ano aos portugueses. Acabaram por ver o Governo ultrapassá-los, com uma proposta de redução do IRS que vai além da que apresentaram.

Assis deteve-se no copo meio cheio dessa picardia PS/PSD: “Os dois grandes partidos, mesmo não se entendendo acabaram por se entender”. Mas depois puxou de um ex-líder do PSD que também andou pelo PS (foi ministro das Finanças e candidato europeu pelo partido, embora nunca militante), António Sousa Franco, para defender que o debate fiscal está “dissociado” do debate orçamental. A junção “inquina e prejudica o debate fiscal”, argumentou defendendo mesmo que seja colocado na concertação social.

Ficou para jantar, sentado à direita de Luís Montenegro, na mesa principal. Do outro lado o líder parlamentar Joaquim Miranda Sarmento e ainda o eurodeputado Paulo Rangel. Com o futuro político em aberto e inúmeras pistas por onde pode correr na política à sua frente, Francisco Assis foi ao PSD, mais uma vez, apontar ao que mais aproxima os dois partidos, colocando o estado social como “fator de harmonização social”, mas articulado com a “economia de mercado” e a “iniciativa individual”. Expressões de quem procura lançar pontes para aquele lado, não se retirando do palco político futuro.