O espaço é temporário, o rigor na escolha promete ser constante. É em 300 m2 na Avenida da Liberdade (onde antes funcionava a Carolina Herrera), que a Fashion Clinic Home se mostra em formato pop up até ao final do ano. O número 144, paredes meias com outras moradas do grupo Amorim, deixa-se habitar por uma seleção eclética de artigos para a casa, que desafia tendências minimalistas e o apogeu dos neutros. “Consideramo-nos maximalistas, gostamos muito de muita coisa“, confessa Ricardo Preto, responsável pela direção criativa da Amorim Luxury desde novembro de 2021, e ao leme desta escolha apurada que se faz em simbiose constante com a fundadora Paula Amorim.
“Let’s Get Together” é o mote do conceito que antecipa a quadra natalícia e a habitual temporada de compras. Por aqui, o melhor da tradição nacional, como as peças premium de Bordallo Pinheiro e Leitão & Irmão, encontra-se com as criações Ginori 1735, os cadeirões de missangas Fernando Otero, ou os sofás da Maison de Vacances. Não faltam no elenco de opções marcas como Les Ottomans, Assouline, Sika-Design, Kaymet, Ichendorf, Diptyque, ou Byredo, para uma montra recheada onde é possível sonhar alto ou saciar a curiosidade com uma acessível caixa de fósforos. Em conversa com o Observador, o designer apresenta o projeto, que procura uma nova casa, para chegar ao público em formato permanente a partir do próximo ano.
Esta loja acaba de abrir e tem um fim previamente anunciado. Que futuro terá este recheio quando dezembro terminar?
Esta loja trata-se de um espaço que adquirimos há algum tempo. Temos um projeto para ser a nova Fashion Clinic de senhora. É aqui que vemos a nossa nova loja, um projeto que começa com a minha entrada na Amorim Luxury, quando penso que temos que ter uma loja que represente melhor a Fashion Clinic.
Mais próxima da rua?
Mais próxima da rua. Estávamos num primeiro andar devido a todo tempo do Covid em que tivemos que nos reajustar e reinventar. Passando esse tempo, achámos que era altura de estar mais perto do público, mais acessíveis. Este espaço faz todo o sentido por ser por baixo da nossa loja antiga e começámos então a desenhar. Entretanto esse projeto só vai ser iniciado em janeiro e pensei que [era uma pena] ter este espaço fechado. A nossa fundadora também achava este espaço muito bonito. Decidimos fazer uma pop up para mostrar como o nosso negócio Home está a correr bem.
Começaram pela Comporta e só então Lisboa.
Sim, abrimos a primeira loja dedicada a Home na Comporta e aí conseguimos perceber que o mercado precisava de uma loja com esta curadoria de objetos. Decidimos ampliar o nosso pequeno corner e trazer isto para Lisboa. Agora isto serve também como experiência para percebermos o mercado. Esta área Home precisa de um espaço, dedicado, de uma curadoria de objetos feita com o mesmo cuidado que temos com a moda. Relacionar com segmentos, com o lifestyle, antever as necessidades dos nossos clientes e claro, trabalhamos com artistas, tal como com o vestuário, e tentamos surpreender e trazer algo novo ao mercado.
Mencionava esse corner inicial que serviu de balão de ensaio…
Este corner estava ao lado da loja de homem, na Avenida [da Liberdade]. Foi uma coisa pequenina, que começou a correr tão bem que começámos a ficar muito entusiasmados. Depois tínhamos o projeto da Comporta feito com o Jacques Grange e começámos mesmo a pensar que isto fazia sentido aqui. Enquanto não temos esse sítio físico abrimos esta pop up.
Já têm algo em vista? Aqui perto?
Estamos à procura de um espaço em Lisboa, próximo daqui, sim. Se calhar ainda durante um tempo vamos andar a fazer pop ups e instalações, quase como Fashion Clinic Home invade a cidade e iremos estar em alguns bairros que se identifiquem connosco, tal como fizemos com a marca Paula, que esteve em modo pop up num bairro em Madrid. Tínhamos a curadoria de vestuário com a Paula Living e foi uma experiência giríssima. Até encontrarmos o espaço certo para Home é o que faremos.
Falava dos reajustes que a pandemia impôs. Uma área como a decoração e interiores funciona bem no digital ou continua a dominar o conceito de loja física, onde nos demoramos e vemos os objetos in loco?
O online também funciona muito bem. Desde a pandemia o online cresceu e não teve recuo, as pessoas habituaram se a comprar assim. Temos uma nova equipa online, a Amorim Luxury neste momento tem um estúdio próprio, diferenciador, todos os produtos que encontramos aqui estão disponíveis online as mesmas promoções e campanhas.
O styling da loja também é um ingrediente relevante? Pergunto sobretudo pelo seu dedo de curador, formado em arquitetura, design.
É vital, eu acho. Na altura da Covid falou-se muito de uma palavra nova que para mim fez muito sentido, o phygital. Que era o brick and mortar cruzado com o online e acho que isso nunca mais vai deixar de existir. O primeiro vai ter necessidade de ter um suporte online, o online quanto a mim também tem necessidade do primeiro. É uma nova maneira de fazer comércio.
Vamos aproveitar que estamos neste local, o que destacaria nesta montra?
Há uma coisa que gostamos muito dentro da Amorim Luxury, que é da nossa portugalidade. Tentamos ter o melhor que nós cá fazemos, a nossa fundadora tem essa atenção para com o país, os artistas. Se frequentar os nossos espaços é frequente ver um Vhils, uma Joana Vasconcelos. Aqui temos o melhor de Portugal, como as pratas da Leitão & Irmão, a Bordallo Pinheiro, com as peças que achamos mais especiais e que não se encontram com tanta frequência; temos a própria linha da Paula Living, com algumas peças de cerâmica desenvolvidas com a Viúva Lamego, pintadas à mão; temos também parcerias com os têxteis do Alentejo, onde fazemos as nossas mantas, com lã de ovelha, os nosso pufes. Depois, tentamos trazer do mundo um pouco de objetos requintados, especiais.
Uma pop up que parece um gabinete de curiosidades.
É exatamente isso que nos interessa. Nós consideramo-nos maximalistas, gostamos muito de muita coisa, acho que os fundadores ao me terem escolhido como diretor criativo sabiam também que esse meu gosto por tudo é assim. Agora, fazemos a compra por segmentos. Sabemos que estamos a comprar para o segmento modern, ou para os neo traditional, ou traditional, e o que nos interessa nos nossos espaços é fazer a fusão desses estilos todos e criar o nosso próprio estilo. Nesta proposta, inauguramos [um espaço] com as propostas dos arquitetos e designer de interiores de Lisboa, porque queremos também a mirada deles sobre os nossos objetos, a forma como vão pegar nas nossas coisas e fazer algo seu. A nossa proposta é maximalista, super eclética, e se dissecar cada objeto cada um deles tem um diferente lifestyle.
Falava desse maximalismo. Conseguimos resumir um cliente tipo ou falamos de facto da síntese de diferentes tendências?
Começámos com a criação do nosso espólio e da curadoria de objetos baseados no cliente que a Fashion Clinic já tem. Sabemos que temos uma grande parte neo traditional, outra trendy, outra dos nomad, e então um bocadinho de moda, com marcas novas que temos introduzido no nosso leque desde que entrei. Foi assim que começámos a desenvolver o produto Home, se bem que Home …
Acaba por ser um conceito mais lato?
Sim, é muito mais solto, porque um copo pode ter quinhentas mil maneiras de ser usado, mas uma calça será sempre uma retângulo com um corte ao meio. É muito interessante fazer isso. Mas começámos seguros com o estudo do cliente que já temos, acrescentando novos lifestyles, novos segmentos.
Falava desse “bocadinho de moda”. Continua a ser o setor mais difícil de trabalhar e introduzir? Mesmo em casa, num contexto privado, arriscamos pouco ainda?
Mas isso tem a ver com a cultura do povo português. Eu estive dez anos na Ásia e as coisas são muito diferentes. Mas isso também tem a sua beleza. Tem a ver com a nossa História, com tudo o que passámos.
O design da pop up foi pensado pelo Ricardo?
Por mim e pela nossa fundadora. A beleza do meu trabalho dentro da Amorim é trabalhar de perto com a fundadora. Eu não conhecia a Paula nos anos todos em que estive em Portugal. Quando estava fora [viveu nas Filipinas] sou convidado para vir trabalhar com a Paula para Portugal.
Que pensou?
Pensei que se tinha que voltar para Portugal a Amorim Luxury é o grupo certo para me receber. Estava há nove anos fora, estava cansado, tinha saudades da minha mãe e parecia-me haver muito para fazer dentro da Amorim Luxury, coisas boas. Quando conheci a Paula apaixonei-me imediatamente por ela. Desenho a coleção Paula, faço o Paula Living e faço a direção criativa de todos os nosso espaços e de toda a nossa comunicação. O bom disto tudo é que trabalho 12 ou 14 horas por dia e nunca me lembro que estou a trabalhar. Tenho tanto prazer nas direções que a nossa fundadora nos dá.
Como é essa relação?
Eu mostro qualquer coisa, ela mostra-me outra. Ficamos ali a olhar um para o outro, começamos logo a construir algo, e aqui está o resultado, vindo de cima, do topo da pirâmide, em cascata para mim, e de mim depois para as equipas. Todo este trabalho se deve a ter uma equipa incrível.
A ter uma pessoa no Home que sabe o que está a fazer, com experiência internacional como eu, alguém que também estava ávido para voltar e fazer coisas novas. De repente a Amorim Luxury começou a crescer e nothing can stop us now.
Não temeu que houvesse constrangimentos do ponto de vista autoral?
Trabalhei para três grandes empresas e em todas tinha uma chairman e o presidente da empresa normalmente era o marido. Isto é uma sigla que tenho seguido nos últimos 30 anos. Acabo sempre por me apaixonar por essa mulher, tem imenso peso. Imagine, desenhar uma coleção para mulher, sendo eu um homem, que não se veste de mulher… por isso discutimos cores, cheiros, bordados, prints, é maravilhoso. É uma chairman muito presente e motivadora, e ao mesmo tempo temos toda a liberdade do mundo de propor, desenhar, de fazer acontecer. Sinto que a equipa começa logo em cima, com a fundadora.
A pensar na fundadora, que três produtos lhe sugeria para ter em casa?
Estes copos que aqui temos, da Ishendorf. Têm tudo o que gosto num copo. São divertidos, são fininhos, são diferentes e servem 100% na sua função de copo. É uma coleção muito vasta, adoro a marca. Lá está, é uma marca encontrada pela nossa fundadora. “O que é que acham disto?” Como tableweare recomendo. Depois também recomendo os nossos peixes e bacalhaus da Bordallo Pinheiro, somos um país de costa. São muito especiais. E depois as nossas mantas feitas no Alentejo. Agarrámos em desenhos com mais de 300 anos, demos-lhes cores novas, mas o método é exatamente igual como era no princípio dos lanifícios alentejanos. Mas podiam ser muitos mais.
Em casa também é maximalista?
Não, tenho áreas maximalistas e outras muito nuas. Também tem a ver com a minha personalidade. Estudei arquitetura e preciso tanto de espaços 100% ocupados como de espaços muito espartanos. O engraçado é para o nosso público que vê esta pop up tão maximalista que depois se surpreenda com o projeto que vem a seguir, que é do Vincent van Duysen, um dos arquitetos mais minimalistas. Aí a nossa ideia é que o produto fale por si próprio.
E que possa ter tanto de exclusivo como de acessível? Encontramos aqui preços bem variados.
É um cuidado da nossa fundadora. Que haja esse lado aspiracional e que as pessoas que gostam de coisas bonitas, de objetos, também possam adquirir algo nas nossas lojas. Temos coisas mais caras, em prata, porcelanas, feitas à mão. Mas também temos coisas divertidas e bem feitas a um preço acessível. A ideia é que a pessoa que visita possa comprar qualquer coisa, porque ficou fascinada com o sítio e quer levar um bocadinho do lifestyle para casa. Seja uma caixa de fósforos por cinco euros ou uma peça de prata por cinco mil.
Mais do que objetos, o objetivo é vender uma ideia de lifestyle?
Um sonho. Aqui mostramos o nosso gosto. Não achamos que temos melhor gosto que os outros. Achamos que existe muita coisa boa, e muita gente a fazer coisa boa, e queremos destacar-nos pela nossa curadoria.
A pop up Fashion Clinic Home funciona até final do ano na Avenida da Liberdade, 144-146, de segunda-feira a sábado, das 10h00 às 20h00 e, ao domingo, das 12h00 às 20h00. A partir de novembro, os horários serão alargados até mais tarde.