O ex-ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita não vai a julgamento no caso do atropelamento mortal de um trabalhador na A6, em 2021, confirmou a defesa do antigo governante esta terça-feira. A informação foi adiantada pela CNN e confirmada à Lusa pelo advogado do ex-governante, Manuel Magalhães e Silva.

A decisão instrutória do tribunal de Évora está em linha com a posição do Ministério Público (MP), em outubro, quando defendeu que o ex-ministro não deveria ser pronunciado para julgamento.

De acordo com o MP, não havia indícios suficientes que sustentassem a ida de Eduardo Cabrita a julgamento, considerando que o ex-governante ia a trabalhar e a responder a e-mails e telefonemas durante a viagem e não se apercebeu da presença do peão na via.

Também entendeu que não ficou provado que o ex-ministro soubesse da velocidade a que seguia o veículo no interior do qual era transportado ou que tivesse dado indicações sobre a velocidade do carro ao motorista.

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No dia 18 de junho de 2021, Nuno Santos, funcionário de uma empresa que realizava trabalhos de manutenção na A6, foi atropelado mortalmente pelo automóvel em que seguia o então ministro da Administração Interna, no concelho de Évora.

Advogado da família recebe sem surpresa não-pronúncia de Cabrita

O advogado da família do trabalhador recebeu sem surpresa a decisão da não-pronúncia do ex-governante e ainda vai ponderar se recorre. “Há possibilidade de recurso para o Tribunal da Relação, mas ainda não sei se vou recorrer. Tenho que ler com muita atenção a decisão instrutória”, afirmou José Joaquim Barros, em declarações à agência Lusa.

Segundo o advogado,apenas “não é passível de recurso uma decisão instrutória que pronuncie um arguido e esteja de acordo com a acusação do Ministério Público (MP)”. “Quando a pronúncia é uma concordância com o MP não é possível recorrer, mas aqui não. Há uma não-pronúncia de dois arguidos [o ex-ministro e o seu então chefe de segurança] pelo juiz de instrução criminal e, por isso, há recurso para a Relação de Évora”, sublinhou o advogado.

Sobre a decisão do juiz de instrução criminal de Évora, Marcos Ramos, o advogado da família da vítima mortal disse não ter ficado surpreendido. “Esta decisão só culmina o comportamento dele [do juiz] na fase de inquérito e durante toda a instrução”, considerou.

De forma irónica, José Joaquim Barros lembrou o que já tinha dito nas suas alegações no debate instrutório: “Este país está um bocado cansado e legitimamente indignado, porque o condutor é sempre o culpado, o único culpado”. “A decisão não é boa para as minhas clientes, mas também não é boa para o país por isso mesmo, porque continuam, mais uma vez, impunes por decisões iguais a estas os responsáveis, aqueles que efetivamente são responsáveis”, criticou.

*Notícia atualizada às 21h00 com a reação do advogado da família de Nuno Santos