O realizador Sérgio Graciano terminou esta terça-feira, em Lisboa, a rodagem de “Soares é fixe”, uma longa-metragem de ficção sobre o político português Mário Soares, e filmou algumas cenas para um outro projeto cinematográfico, centrado em Álvaro Cunhal.

“Soares é fixe” é uma produção da portuguesa Sky Dreams, que também assinou, entre outros, os filmes “Snu” (2919) e “Salgueiro Maia — O Implicado” (2022), e terá estreia a 22 de fevereiro de 2024, ano em que se cumpre o centenário do nascimento de Mário Soares (1924-2017).

A rodagem começou em setembro e terminou esta terça-feira na ala sul do Estabelecimento Prisional de Caxias, em Oeiras, espaço que serviu para as cenas que recriam algumas das detenções de Mário Soares, antifascista, socialista, durante a ditadura do Estado Novo.

O ponto central de “Soares é fixe” é a noite da segunda volta das eleições presidenciais de 1986, na qual Mário Soares venceria com o apoio da esquerda, contra Diogo Freitas do Amaral, explicou o argumentista João Matos à agência Lusa.

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Este filme parte dessa noite, da noite das eleições de 16 de fevereiro de 1986 e da incerteza até ao fim de quem é que iria ganhar as eleições e que país é que ia haver depois das eleições, visto do ponto de vista de Mário Soares”, disse.

A partir dessa noite eleitoral, o filme recua ao passado e relembra o percurso político e pessoal de Mário Soares, contando ainda com duas linhas narrativas de ficção, que ajudam a contar como era Portugal na década de 1980.

Em “Soares é fixe”, Mário Soares é interpretado pelos atores Alexandre Carvalho e Tonan Quito, e o elenco integra ainda, entre outros, Tiago Fernandes (Freitas do Amaral), Margarida Cardeal (Maria Barroso), Francisco Beatriz (António Guterres), Tiago Correia (Marcelo Rebelo de Sousa) e Bernardo Souto (Miguel Sousa Tavares).

Se há uma mensagem interessante é de voltarmos ao tempo em que os políticos eram pessoas que se olhavam nos olhos e que a palavra tinha valor e o guião tentou estar à altura”, disse João Matos, explicando que, para a escrita do argumento, contou com “variadíssimas fontes” documentais e com a colaboração da família de Mário Soares, “que esteve presente e atenta”.

No cenário das filmagens, enquanto aguardava a preparação de mais uma cena, o ator Alexandre Carvalho, já caracterizado como Mário Soares, contou à agência Lusa que interpreta o político português entre os anos de 1941 e 1969, “toda a juventude de Soares”, a relação com Maria Barroso (a mulher), as detenções, o ativismo político e de resistência à ditadura.

Na preparação para o papel, o ator de 33 anos disse que leu a biografia, viu muitas imagens para aprender trejeitos e modos de estar, teve trabalho de ensaio e um encontro com João Soares, filho de Mário Soares, que lhe deu “uma perspetiva mais direta” sobre o político.

À Lusa, o realizador Sérgio Graciano lembrou que “Soares é fixe” é inspirado em factos reais, num “período muito conturbado” da democracia portuguesa e nesse “thriller político” que foram as eleições de 1986, mas há margem para interpretações ficcionais.

É um lado difícil desta rodagem, porque nunca sabemos o que é certo ou errado e temos de tirar uma ‘licença poética’ e escolher o que vamos contar e como vamos contar”, disse, acrescentando que o filme “vai dar a imagem de um homem lutador e determinado, com uma paixão pela família e uma vontade muito grande de ficar à frente do país”.

Pedro Duarte, da produtora Sky Dreams, explicou à agência Lusa que o filme contou com o apoio da RTP, da distribuidora NOS, da Câmara Municipal de Lisboa e da Fundação Mário Soares — Maria Barroso.

Aqui a lógica é homenagear as pessoas importantes e marcantes da nossa História, da democracia, e daí agora o Mário Soares e ainda vem mais personalidade importante e marcante”, disse Pedro Duarte.

Essa “personalidade importante” é o líder histórico comunista Álvaro Cunhal (1913-2005), sobre quem a Sky Dreams tem em curso também um biopic, com o título provisório “Camarada Álvaro”, com realização de Sérgio Graciano, tendo já sido filmadas várias cenas, até porque há momentos da história do líder comunista que se cruzam com a de Mário Soares.

Desse filme sobre Cunhal sabe-se que entram Romeu Vala (no papel de Álvaro Cunhal), Maya Booth e Joaquim Horta, entre outros, e fonte da produção disse à Lusa que a rodagem prosseguirá nas próximas semanas.