Geraint Thomas faz parte de um tipo de atletas profissionais que está a tornar-se uma raridade dentro da norma. Aos 37 anos, o ciclista aproveita o período entre o fim de uma temporada e o início da seguinte para descansar, não pensar em bicicletas e fazer o que não consegue fazer enquanto está a treinar para o Tour, o Giro ou a Vuelta. Não treina, não faz dieta, não faz exercício — limita-se a viver, algo que é cada vez mais raro dentro da alta competição.

O ciclista galês encerrou a temporada na Vuelta, em setembro, e só voltou a pegar na bicicleta na semana passada. A partir daqui, porém, já não pára: do País de Gales vai para o Mónaco, onde vive com a mulher e o filho, voando depois para Los Angeles, onde vai cumprir um regime intensivo de 21 dias que começa nas 15 horas de treino semanais e só termina nas 25. E Geraint Thomas prefere assim: limpar a cabeça durante dois meses e recupera quase tudo o que perdeu em menos de um.

“Nas últimas duas semanas, honestamente, devo ter estado bêbedo em 12 das 14 noites. Desde que voltei a Cardiff que tem sido uma loucura. É assim que funciona quando estou com os meus amigos. Para pôr a conversa em dia vamos jantar ou vamos ao pub. Não bebo durante a temporada, mas deixo-me ir durante a paragem. Para ter períodos de verdadeira intensidade, concentração e dedicação entre novembro e o objetivo do ano, preciso destas explosões. De desligar do mundo do ciclismo. Falo com alguns ciclistas, porque são meus amigos, mas não penso em ciclismo. Não quero ter nada a ver com isso, na verdade”, atirou o ciclista numa entrevista ao jornal The Times.

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Thomas renovou recentemente com a Ineos, preparando-se agora para cumprir aqueles que serão provavelmente os últimos dois anos da carreira. Confessa que tanto a mãe como a mulher ficarão contentes no momento em que deixar as bicicletas, mas garante que decidiu continuar porque “ainda se diverte” — tal como ficou claro este ano, onde só perdeu o Giro para Primoz Roglic na última etapa e depois de ter tido a camisola rosa durante grande parte da prova italiana.

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Os dois meses de paragem, porém, recuperaram um problema que Geraint Thomas admite que sempre teve: o excesso de peso, com o ciclista galês a revelar que terá de perder sete quilos nas próximas semanas para voltar a ser competitivo durante a temporada. “Quando ficas mais velho parece que estás sempre a viver o mesmo dia. Aqui vamos nós outra vez, mais um ano onde tenho de fechar a boca. A primeira parte é ok, até chegar aos 70 ou 71 quilos. Mas aquele último quilo e meio é muito difícil”, explica o ciclista, que tem de ter no máximo 68 quilos para competir numa Grande Volta.

“É o peso da questão. É como os impostos, 24 horas por dia durante sete dias da semana, percebem? Treinar é fácil, porque gosto de andar de bicicleta, gosto de me levar ao limite e de me esforçar e é só durante uma parte do dia. Mas isto é constante. Até durante as corridas tens de ter atenção ao que comes, é uma enorme fadiga mental. Temos de manter aquele peso durante três semanas e ter esse rácio energia/peso durante o tempo todo”, acrescenta.

Tendo como ponto alto da carreira a conquista do Tour em 2018, para além das duas medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim e de Londres, Geraint Thomas ficou muito perto de regressar ao degrau mais alto do pódio no Giro deste ano e não esquece o momento de desilusão quando percebeu que tinha perdido a vitória para Roglic. “Tinha tido a camisola rosa, durante tanto tempo… E depois chegar ao pódio e ver o Roglic no degrau principal, feliz, a celebrar com filho, foi só… Tão perto, sabes, tão perto do que poderia ter sido”, desabafa, deixando certo que a competição italiana será novamente o principal objetivo da temporada.

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