O Irão aumentou significativamente as reservas de urânio enriquecido nos últimos meses, prosseguindo a sua escalada nuclear embora negue querer dotar-se de armas atómicas, denunciou a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) num relatório confidencial quarta-feira divulgado.

De acordo com o documento, cujo conteúdo é citado pela agência de notícias francesa AFP, as reservas de urânio enriquecido do Irão ascendiam a 28 de outubro a 4.486,8 quilos (em contraste com 3.795,5 quilos em meados de agosto), mais de 22 vezes o limite autorizado pelo acordo internacional de 2015 que regulava o programa nuclear de Teerão em troca do levantamento das sanções internacionais ao país.

A agência nuclear da ONU sustentou que a decisão do Irão de impedir o acesso às instalações onde desenvolve atividades atómicas de vários inspetores “afetou direta e gravemente” a capacidade para controlar o seu programa nuclear, que continua em grande expansão.

Esse gesto “sem precedentes”, que visa nacionalidades específicas, é “extremo e injustificado”, condenou a AIEA noutro relatório, a uma semana de uma reunião em Viena do Conselho de Governadores (órgão que se reúne cinco vezes por ano e prepara as decisões que serão ratificadas pela Conferência Geral).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo uma fonte diplomática, os inspetores impedidos de aceder às instalações atómicas da República Islâmica são oito especialistas, entre os quais cidadãos franceses e alemães.

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, recebeu quarta-feira uma resposta de Teerão argumentando estar “no seu direito” ao revogar a acreditação dos inspetores, embora tenha acrescentado que está “a explorar as possibilidades” de reverter a sua decisão.

Sobre outras questões, a organização das Nações Unidas voltou a lamentar a falta de cooperação da República Islâmica.

Há meses que a AIEA denuncia que muitas câmaras de vigilância foram desligadas e que não foi dada qualquer explicação para os vestígios de urânio descobertos em dois locais não-declarados, Turquzabad e Varamin.

Quanto ao enriquecimento do metal de coloração prateada, radioativo, denso, flexível e maleável, o Irão não só o fez em grande quantidade como está a fazê-lo em níveis elevados, longe do limite estabelecido de 3,67%, equivalente ao utilizado nas centrais nucleares para a produção de eletricidade: dispõe agora de 567,1 quilos (em vez dos anteriores 535,8) enriquecidos a 20% e de 128,3 quilos enriquecidos a 60% (em vez dos anteriores 121,6 quilos).

No caso do limiar dos 60%, mais próximo dos 90% necessários para fabricar uma arma atómica, Teerão abrandou, apesar de tudo, o seu ritmo de produção desde a primavera.

Alguns especialistas veem nisso um possível sinal da vontade iraniana de desanuviar a situação, numa altura em que foram retomadas as conversações informais com os Estados Unidos.

No entanto, nas últimas semanas, a animosidade entre os dois países inimigos foi acentuada pelo conflito entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, que Washington e Teerão se acusam mutuamente de ter agravado.