A área marinha dos concelhos de Cascais, Mafra e Sintra tem “importantes valores naturais” e espécies e habitats que merecem ser conservados numa futura área marinha protegida.

A conclusão faz parte do relatório de uma expedição científica realizada durante 12 dias em outubro do ano passado, quando uma equipa de cientistas de sete instituições, liderada pela Fundação Oceano Azul, fez um levantamento dos valores naturais da área marinha ao largo dos três municípios.

De acordo com o relatório, ao qual a Lusa teve acesso, os resultados obtidos na expedição “são de grande valor para a consolidação da proposta de criação da Área Marinha Protegida de Iniciativa Comunitária Cascais, Mafra, Sintra e representam também uma primeira etapa neste processo”.

Falta agora, refere o documento, prosseguir os estudos de natureza ecológica, envolvendo amostragens de outras zonas que não foram ainda examinadas, e fazer trabalhos em épocas diferentes do ano, para avaliar as variações sazonais na biodiversidade e habitats marinhos.

Serão necessários outros estudos, ao nível dos fundos, e fazer análises socioeconómicas nos concelhos, além de uma discussão pública alargada, necessária para a “delineação desta Área Marinha Protegida”, diz-se no relatório.

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Para já, da expedição, a bordo do navio Santa Maria Manuela, fica um conjunto alargado de dados biológicos e ecológicos, “constituindo um contributo substantivo para o conhecimento sobre os habitats e espécies marinhas desta zona costeira”, o que acontece pela primeira vez.

De acordo com o sumário executivo do relatório científico, na zona entremarés (área costeira sob a influência das marés) foram percorridos cerca de 43.000 m2 com drones entre o Cabo Raso (Cascais), Praia do Magoito (Sintra) e Praia da Empa (Mafra), observando-se “áreas cobertas por importantes povoamentos biológicos, como sejam, algas, recifes biogénicos de barroeira (“Sabellaria sp.”) e bancos de mexilhão “Mytillus spp””.

Nessa zona, resume-se no documento, foram identificados “importantes povoamentos biológicos”.

A identificação de organismos através do método dos quadrados (dispostos aleatoriamente) “permitiu inventariar cerca de 200 espécies (57 espécies de algas, 111 de invertebrados e 22 de peixes)”, mas “a abundância dos vários organismos foi bastante heterogénea espacialmente”, segundo o documento.

Concluiu-se que a área marinha adjacente aos três municípios tem uma grande diversidade de ambientes, como o Cabo da Roca e o Cabo Raso, influenciados por ventos e ondulação, ou como a zona mais abrigada a sul do Cabo Raso.

Os autores do relatório destacam os “significativos canhões submarinos”, a influencia do estuário do Tejo e a Montanha de Camões, a oeste do Cabo da Roca, onde ocorrem “importantes valores naturais marinhos”.

“Na sequência da Expedição Oceano Azul — Cascais, Mafra, Sintra foram identificadas algumas centenas de espécies de organismos marinhos, entre as quais algumas com grande importância ecológica, comercial ou para a conservação. Foram também registados uma grande diversidade de habitats, alguns dos quais classificados como tendo interesse para a conservação a nível internacional”, pode ler-se no relatório.

Foram identificados ao longo da expedição espécies e habitats “de particular relevância para a conservação”, sendo de destacar os recifes de Sabellaria, florestas de laminárias, comunidades mistas de esponjas e corais, comunidades mistas de esponjas e gorgónias e jardins de gorgónias (habitats prioritários no que respeita a sua proteção atendendo à Diretiva Europeia Habitats, Convenção OSPAR e legislação portuguesa), diz-se ainda no relatório.

Nas amostragens a aves e mamíferos marinhos foram identificadas vinte espécies de aves marinhas distintas, quatro das quais ameaçadas de extinção no território nacional (a negrola, a cagarra, a pardela-balear e o garajau-comum), assim como o roaz e o golfinho-comum.

A expedição científica, de 1 a 12 de outubro de 2022, no mar ao largo dos concelhos de Cascais, Mafra e Sintra, foi promovida pelos três municípios, em parceria com a Fundação Oceano Azul e com o envolvimento de instituições como o MARE — Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Unidades Regionais de Investigação: ISPA, IPLeiria, ULisboa, UÉvora e Madeira), o CCMAR — Centro de Ciências do Mar, o CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, a SPEA — Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, o IPMA — Instituto Português do Mar e da Atmosfera e o IH — Instituto Hidrográfico.