Uma onda intensa de calor influenciada pelo fenómeno El Niño e pelas mudanças climáticas está a atingir grande parte do Brasil esta semana, dcom o pico previsto para esta quinta-feira, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Núbia Beray, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Geografia do Clima (GeoClima) da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Observatório do Calor, explicou à Lusa que as altas temperaturas registadas nos últimos dias no país na quarta onda de calor do ano, são consequência de um El Niño intenso e dos efeitos do aquecimento global.

Segundo a investigadora, há uma relação muito direta e já documentada entre estas duas grandes questões que explicam a subida das temperaturas nas regiões sudeste e centro-oeste do Brasil, que já provocaram uma sensação térmica de mais de 58 graus em bairros da cidade do Rio de Janeiro na última terça-feira e que deverá elevar esta quinta as temperaturas a patamares recorde em Brasília, Goiânia, São Paulo e Vitória, de acordo com a previsão do Inmet.

“A primeira explicação para essa onda de calor é o El Niño que nesse último trimestre, entre os meses de agosto, setembro e outubro, acabou se configurando como um El Niño forte”, explicou a coordenadora do GeoClima e do Observatório do Calor.

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“Neste momento temos um El Niño forte atuando no pacífico e temos as mudanças climáticas como os elementos chave para entendermos por que o Brasil está a registar recorde de temperatura e tem tido cada vez mais ondas de calor”, acrescentou.

A especialista reforçou que o Brasil historicamente regista temperaturas mais elevadas no centro-oeste e no sudeste, tempo muito seco no nordeste e em regiões da Amazónia e um clima muito chuvoso no sul quando está sob o efeito do El Niño, mas a intensidade com que estes fenómenos estão a acontecer este ano é atípica.

A especialista também indicou que existe uma grande hipótese de o Brasil ter outras ondas de calor este ano e no próximo porque os efeitos do El Niño devem ser sentidos pelo menos até abril de 2024 e não há como prever a intensidade deste fenómeno nos próximos meses.

O El Niño ocorre em média a cada dois a sete anos e é um fenómeno climático natural associado ao aumento das temperaturas da superfície no centro e leste do Oceano Pacífico tropical, mas que tem efeitos em todo o mundo.