O primeiro-ministro não teve quaisquer conversas públicas com o advogado António Lobo Xavier e, as que teve, foram privadas e dentro de órgãos que estão obrigados à confidencialidade. António Costa respondia assim aos jornalistas, na Alemanha, onde, na qualidade de secretário-geral do PS, visita a localidade de Bad Münstereifel onde Mário Soares fundou o PS, em 1973.

No domingo, Lobo Xavier disse que o primeiro-ministro pediu a Marcelo para “saber se era um obstáculo à defesa” dos arguidos do Caso Influencer. “O Presidente pediu à procuradora para conversar com ele e, nessa conversa, verificou-se que o primeiro-ministro era também alvo de um inquérito que corria no Supremo Tribunal”, disse o conselheiro de Estado, sem dizer onde a conversa teria ocorrido. Disse apenas que haveria mais pessoas presentes.

Confrontado pelos jornalistas, António Costa pôs de parte ter tido qualquer conversa com Lobo Xavier fora do Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República. “Não me ocorre ter tido nenhuma conversa pública com Lobo Xavier”, disse Costa, sublinhando que, as que teve, foram “em privado”, em órgãos em que os dois participam e que “estão obrigados ao dever da confidencialidade”.

Questionado sobre se teria pedido a Marcelo Rebelo de Sousa para ouvir a procuradora-geral da República, e se revelou essa informação na mais recente reunião do Conselho de Estado, António Costa voltou a escudar-se na confidencialidade a que está obrigado.

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A lei “dá tanta importância ao dever de confidencialidade” do Conselho de Estado, sublinhou Costa, que “até fixa a data em que as atas podem ser conhecidas”, o que será daqui a cerca de 30 anos. Por isso, aconselhou os jornalistas a serem “irritantemente pacientes” e, em jeito de recado a Lobo Xavier, finalizou com uma frase lacónica: “As regras são para cumprir.”

Foi ou não Costa quem pediu a Marcelo para ouvir Lucília Gago, a 7 de novembro? Esta é uma questão que ainda está por esclarecer. O Presidente da República chegou a dizer aos jornalistas que o primeiro-ministro já tinha esclarecido essa questão, durante uma visita à Guiné-Bissau, na passada quinta-feira.

“Isso, o primeiro-ministro já esclareceu — que ele pediu para eu pedir o encontro à procuradora-geral da República. Mais do que isso não posso esclarecer”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

A resposta de António Costa chegou dois dias mais tarde: “Terão de perguntar ao senhor Presidente da República que comentário público terei feito, mas não me ocorre nenhum. Se fiz algum comentário público, ninguém melhor do que os senhores jornalistas para saber que comentário fiz ou não.”