A vontade de estar no maior número de grandes competições e de alinhar nos jogos decisivos faz parte da essência de um atleta de alta competição. Dificilmente um desportista que não se reveja neste desejo de vencer poderá pertencer à elite. Há sempre contratempos, problemas físicos ou opções técnicas que não permitem estar onde se quer chegar, mas o objetivo de pisar os grandes palcos é quase um requisito obrigatório. Quando tal não acontece, algo está errado. Outra condição obrigatória para se chegar ao alto nível é a obsessão por se ser melhor e por corresponder às expectativas.

A vida de um atleta alterou-se substancialmente. A contestação sentida num estádio não se fica por aí. As redes sociais levam-na até ao limite e transformam-na numa sombra. A naturalidade com que os desportistas se dirigem à cabine do fisioterapeuta para curarem uma entorse não é a mesma com que vão ao consultório tratar da saúde mental. Cada vez mais atletas têm tornado público que sofrem de problemas psicológicos. No entanto, a proximidade de uma competição importante podia funcionar como motivação. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Simone Biles mostrou que a iminência de uma conquista desportiva não basta e que as medalhas e troféus são pensos rápidos para uma ferida mais profunda.

Owen Farrell, capitão da seleção inglesa de râguebi, anunciou que se vai afastar da equipa não se sabendo quando regressará, mas sendo certo que vai falhar o Torneio das Seis Nações, que arranca em fevereiro. A decisão surge na sequência do Mundial de 2023, realizado em França, e onde a Inglaterra, candidata ao título, se ficou pelo terceiro lugar após a dramática derrota nas meias-finais com a campeã África do Sul.

O médio de abertura até se tornou no jogador com mais pontos marcados ao serviço da seleção da Rosa, ultrapassando Jonny Wilkinson, mas foi forçado a dar a cara por uma equipa contestada. Mais do que a posição final que a Inglaterra obteve, a seleção foi criticada pelo estilo de jogo pragmático e pouco espetacular que fez com que o público inglês a assobiar os próprios jogadores em várias ocasiões. Na campanha da Inglaterra até ao jogo de atribuição da medalha de bronze, Owen Farrell falhou os dois primeiros jogos da fase de grupos por ter visto um cartão vermelho durante um encontro de preparação, contra Gales, situação que se tornou assunto nacional.

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A notícia foi divulgada pelos Saracens, o clube de Owen Farrell. No comunicado divulgado esta quarta-feira, a equipa diz que o jogador de 32 anos “decidiu fazer uma pausa no râguebi internacional para dar prioridade ao seu bem-estar mental e ao da sua família”. Ainda assim, o médio de abertura vai continuar a representar os Saracens.

O selecionador de Inglaterra, Steve Borthwick, mostrou apoio em relação à decisão do capitão de equipa. “Todos na seleção apoiam totalmente a decisão do Owen. Desde a sua estreia, ele tem sido parte integrante da equipa inglesa há mais de uma década e as exigências dos atletas de elite são extremamente desafiadoras. É um jogador, capitão e líder exemplar e dá sempre tudo pelo seu país”, disse o técnico. “É com a típica coragem que o Owen tomou a decisão de se abrir dessa maneira. Juntamente com todos, farei tudo o que puder para garantir que ele tenha o apoio que necessita no futuro”.

Owen Farrell é mais um jogador a afastar-se da seleção antes de uma grande competição. Em agosto, o basquetebolista Ricky Rubio afastou-se do desporto durante a preparação para o Mundial da modalidade, sendo que ainda não regressou à atividade, continuando afastado da equipa que representa na NBA, os Cleveland Cavaliers.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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