Um estudo internacional que analisou sistemas de ensino de 81 países apontou a dedicação de professores e pais como uma das chaves do sucesso dos alunos, lembrando que por vezes “basta um jantar de família”.

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2022 é o primeiro estudo em grande escala a recolher dados sobre o desempenho, o bem-estar e a equidade dos alunos antes e após as perturbações provocadas pela pandemia de Covid-19.

Quase 700 mil estudantes de 81 países e economias realizaram provas de Matemática, Leitura e Ciências e responderam a vários inquéritos.

Os investigadores da OCDE compararam os resultados das provas realizadas em 2018 e em 2022, analisaram como tinham os alunos aprendido sob os efeitos da pandemia e ouviram as opiniões e perceções de estudantes e diretores escolares.

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O relatório esta terça-feira divulgado defende que o declínio nos resultados “só pode ser parcialmente atribuído à pandemia“, uma vez que em muitos países já se registava uma descida nos resultados.

Por exemplo, em Portugal, os diretores escolares apontam a falta de professores e a menor qualificação dos docentes como principais causas para as falhas na qualidade de ensino.

Em 2022, 62% dos alunos em Portugal frequentavam escolas cujos diretores relataram que a qualidade do ensino estava a ser afetada pela falta de professores e 27% apontaram a baixa qualificação do pessoal docente.

No PISA anterior, de 2018, a percentagem de diretores que tinha referido esses problemas era muito inferior: Apenas 32% falou na falta de professores e 23% na qualificação dos docentes, segundo um estudo internacional que sublinha a importância do empenho dos docentes e famílias no sucesso académico.

“A disponibilidade dos docentes da OCDE para ajudar os alunos mais necessitados teve um impacto mais forte na Matemática, em comparação com outras experiências ligadas à Covid-19 e ao encerramento das escolas”, lê-se no relatório, que mostra que os resultados a Matemática foram, em média, 15 pontos mais elevados nas escolas em que os alunos concordaram que tinham bons professores.

Também o envolvimento dos pais se mostrou importante, em especial entre os mais desfavorecidos.

“O nível de apoio ativo que os pais oferecem aos seus filhos pode ter um efeito decisivo”, refere o relatório, acrescentando que, por vezes, bastam “atividades aparentemente inocentes, como partilhar uma refeição em família ou simplesmente conversar” para se notar um melhor desempenho e bem-estar dos alunos.

Os pais ou alguém da família perguntar ao aluno o que tinha feito na escola naquele dia também é mencionado, sendo que Portugal surge como um dos países onde pelo menos 80% dos jovens disse que a sua família tinha essa preocupação.

Entre os quase sete mil alunos de 224 escolas portuguesas que participaram no PISA, muitos reconheceram a importância dos professores.

Três em cada quatro jovens portugueses reconheceram o apoio extra dado pelos professores de Matemática, tendo apontado outros problemas no processo de aprendizagem.

Um em cada quatro alunos (25%) disse que não conseguia ouvir o que o professor dizia nas aulas, 34% admitiu que se distraia com o uso de aparelhos digitais e 25% distraia-se com colegas que estavam a usar equipamentos.

Cerca de 17% não conseguia trabalhar bem em nenhuma ou quase nenhuma aula, refere ainda o relatório que concluiu que, em média, “nas escolas dos países da OCDE onde o uso do telemóvel foi banido, havia menos estudantes a reportar distrações quando usam aparelhos digitais”.

Por outro lado, “os alunos que passaram até uma hora por dia em dispositivos digitais para atividades de aprendizagem na escola obtiveram 14 pontos a mais em Matemática do que os alunos que não passaram tempo nenhum”.

Os investigadores acreditam que a tecnologia utilizada para lazer e não para instrução, como os telemóveis, está “frequentemente associada a resultados mais fracos”.

Prova disso é o facto de os alunos que admitiram distrair-se com colegas que usavam dispositivos digitais em, pelo menos, algumas aulas de Matemática, terem tido menos 15 pontos do que os alunos que disseram que tal nunca ou quase nunca aconteceu.

No que toca a investimento, o estudo conclui existir uma relação positiva entre o investimento na educação e o desempenho médio até um limiar de 69 mil euros (em paridade do poder de compra) em despesas cumulativas por aluno dos 6 aos 15 anos.

“Para muitos países da OCDE que gastam mais por aluno, não existe qualquer relação entre o investimento adicional e o desempenho dos alunos”, lê-se no estudo, que dá como exemplos os casos da Coreia ou de Singapura, que têm “um sistema de ensino de alto nível” com um rendimento relativamente baixo, “dando prioridade à qualidade do ensino em detrimento da dimensão das turmas e dos mecanismos de financiamento que alinham os recursos com as necessidades”.