Os Estados Unidos vetaram um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, apesar do apelo inédito lançado pelo secretário-geral da organização, António Guterres.  O embaixador americano nas Nações Unidas acusou o movimento de se recusar a libertar jovens mulheres que foram feitas reféns. E lembrou que o Conselho de Segurança falhou em aprovar um voto de condenação aos ataques terroristas de 7 de outubro sobre Israel que levaram à ofensiva na Faixa de Gaza.

Para Robert Wood, “um cessar-fogo iria plantar as sementes para próxima guerra.” Já este sábado, o Irão (país que apoia o Hamas) avisou que desde que a “América apoie os crimes do regime Zionista [referindo-se a Israel] e à continuação da guerra (…) existe a possibilidade de uma explosão incontrolável da situação na região”, afirmou Hossein Amir-Abdollahian, diplomata do Irão.

A votação realizou-se na sexta-feira à noite na sequência do acionamento pelo secretário-geral das Nações Unidas do artigo 99 da Carta das Nações Unidas, pedindo ao Conselho de Segurança, o único órgão da ONU cujas decisões têm caráter vinculativo, que “evitasse uma catástrofe humanitária” no enclave e aprovasse um cessar-fogo.

A resolução, da autoria dos Emirados Árabes Unidos e que foi apoiada por dezenas de Estados-membros, foi  rejeitada com apenas o voto contra dos Estados Unidos (membro permanente, com poder de veto), 13 a favor e uma abstenção (Reino Unido). O projeto de resolução  manifestava “grave preocupação com a situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza e com o sofrimento da população civil palestiniana”, sublinhava que “as populações civis palestinianas e israelitas deveriam ser protegidas de acordo com o direito humanitário internacional” e exigia um cessar-fogo humanitário imediato. Exigia também a libertação imediata e incondicional de todos os reféns e a garantia de acesso humanitário.

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Robert Wood, que representou esta sexta-feira os EUA no Conselho de Segurança das Nações Unidas, teceu críticas aos restantes países que votaram a favor do projeto de resolução para um cessar-fogo em Gaza.

“Todas as nossas recomendações foram ignoradas. E o resultado deste processo à pressa foi uma resolução desequilibrada que foi um divórcio da realidade. Não ia fazer a agulha avançar no terreno de nenhuma forma concreta”, disse Wood, que é citado pelo jornal Guardian. Wood condenou também os autores da resolução por “não aceitarem incluir linguagem a condenar o ataque terrorista horrível do Hamas a Israel”, lembrando que “pessoas de várias nacionalidades foram queimadas vivas, baleadas e sujeitas a uma violência sexual obscena”

Gilad Erdan, embaixador de Israel nas Nações Unidas, agradeceu aos Estados Unidos pelo “apoio firme” a Israel, após o veto à resolução do Conselho de Segurança para um cessar-fogo imediato em Gaza. “Uma pequena luz rejeita muita escuridão”, disse Erdan, em comunicado citado pelo Times of Israel, fazendo uma alusão à celebração do Hanukkah, uma festividade para os judeus.

Já ministro português dos Negócios Estrangeiros lamentou a decisão dos Estados Unidos e insistiu na via do diálogo. “Naturalmente que lamentamos. Nós tínhamos precisamente apoiado a resolução que está ser vetada”, disse João Gomes Cravinho, à agência Lusa à margem da cerimónia de entrega dos prémios ‘Manuel António da Mota — Uma Vida em Angola’, que decorreu em Luanda.

Cravinho sublinhou que esta é a posição que Portugal tem assumido e insistiu que é urgente haver um cessar-fogo humanitário. “É preciso que haja acesso da ajuda humanitária à população de Gaza, consideramos também fundamental que haja libertação sem condições dos reféns em Gaza e acreditamos que o cessar-fogo iria nesse sentido”, sublinhou.