Pediatras pediram esta segunda-feira a quem contacte com bebés e crianças para lavar as mãos e usar máscara se tiver sintomas gripais, para evitar que os mais pequenos contraiam infeções respiratórias, que estão a entupir urgências e internamentos hospitalares.

O coordenador de Pediatria Médica do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, Luís Varandas, e o pediatra Manuel Magalhães da Unidade de Pneumologia pediátrica do Centro Materno Infantil do Norte (CMI) relataram esta segunda-feira à Lusa que as urgências estão cheias e há muitas crianças internadas com o vírus sincicial respiratório VSR, responsável pela maioria das bronquiolites, mas ressalvaram que é uma situação habitual nesta época do ano.

“É uma situação que estamos habituados a viver todos os anos”, com o vírus a circular de novembro a março, causando muita doença nas crianças, muitas infeções respiratórias, com necessidade de internamento numa grande parte das vezes, disse Manuel Magalhães.

Segundo o pediatra, o pico das infeções foi “um bocadinho mais precoce” este ano: “No centro Materno Infantil do Norte, desde meio de outubro que temos persistentemente todos os dias acima de 10 camas ocupadas com bebés com bronquiolite pelo VSR”.

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O hospital pediátrico D. Estefânia também está “completamente sobrelotado”, com mais de 300 casos por dia nas urgências, disse Luís Varandas, salvaguardando que “é comum” no inverno ter este pico de infeções respiratórias.

“Os internamentos estão completamente lotados, com camas extras, já com grande esforço de todos os profissionais, sobretudo os enfermeiros, que têm muito mais doentes para cuidar”, adiantou Luís Varandas.

Perante esta realidade, os pediatras apelam à adoção de medidas preventivas não farmacológicas, como as utilizadas na pandemia, para evitar contagiar as crianças: lavar as mãos regularmente, usar máscaras caso a pessoa tenha sintomas gripais e fazer a limpeza e o arejamento dos espaços.

“Da mesma forma, se um bebé está doente, evitar que vá ao infantário ou à creche”, disse Manuel Magalhães, sublinhando que o VSR tem “um impacto grande, não só na pediatria, mas também nos mais idosos, pelo que acaba por fazer uma grande pressão em todo o sistema de saúde e nas famílias”.

Aconselhou os pais a não levarem os filhos para centros comerciais ou espaços fechados, onde os vírus circulam “muito mais intensamente”, e passear ao ar livre: A temperatura do ar e o frio não faz ficar doente“.

Segundo Manuel Magalhães, o VSR obriga a que os bebés fiquem no mínimo uma a duas semanas em casa e, durante esse período, muitas vezes, têm de ir duas, três, quatro vezes às urgências, o que obriga os pais a faltarem ao trabalho.

Para minimizar este impacto, os médicos estão a tentar sensibilizar os decisores políticos para que se criem normas que facilitem a vida aos pais.

Luís Varandas apelou, por seu turno, aos pais para não levarem os filhos às urgências se a infeção respiratória tiver sintomatologia leve.

“Não vale a pena virem à urgência”, porque ao ficarem horas na sala de espera correm o risco de apanhar outra infeção respiratória e o ciclo perpetua-se, ficando difícil interrompê-lo se não for alterado este comportamento.

O coordenador realçou que os quadros clínico do VSR e da gripe são “muito mais graves abaixo de um ano de idade” e que leva a muitos internamentos.

“Temos muitos casos internados e temos até casos de crianças que têm de ser transferidas” para evitar que sejam infetadas pelas crianças com VSR ou com gripe internadas na mesma enfermaria.

Ainda este fim de semana houve transferências de doentes das áreas cirúrgicas para as áreas médicas, o que obriga a uma gestão de camas que agrava ainda mais o problema.